No meu tempo é que era bom

De Luís Montenegro esperamos também uma atitude positiva, ambiciosa, com esperança e com futuro

O PSD parte para o Congresso com um líder, mas à procura de uma liderança. O país vai ver com atenção que partido se apresenta, com que caras, com que ideias, com que linguagem. O PSD faz falta ao país enquanto representante das legítimas aspirações de milhões de portugueses, convém por isso não pisar as minas espalhadas pelo caminho. As minas do passadismo, do saudosismo, do revivalismo, do aparelhismo, do pessimismo, do machismo…

Portugal em 2022 é um país desenvolvido, embora dos mais pobres da UE, com metade da população a viver nas duas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e apesar de católico, com uma visão progressista da sociedade. Muito por força da indústria do turismo, é aberto ao exterior, recetivo a novas culturas.

António Costa, primeiro-ministro, é um homem excessivamente otimista quando declara os problemas estruturais do Serviço Nacional de Saúde resolvidos à segunda-feira, mas é também o homem que deu às mulheres portuguesas um sinal de esperança ao fazer um governo paritário, ou quando fala para milhões de portugueses a auferir salários muito baixos, anunciando metas objetivas para os aumentos.

Há um tempo e um modo para fazer política: esse tempo é o presente, não é o passado. Respeitemos a obra e legado de Cavaco Silva, Durão Barroso e Passos Coelho, os seus contributos são extraordinários, mas tiveram o seu tempo.

O mesmo se diga de Francisco Sá Carneiro, respeitamos todos o fundador do PSD, mas é simplesmente desadequado fazer-se das suas proclamações o alfa e ómega da ação política, andando, cinquenta anos depois, a discutir o esquerdismo e Portugal de 2022 como se estivéssemos em 1974. Basta uma certeza: o PSD melhora Portugal porque defende as ideias e os valores praticados nos países mais ricos e desenvolvidos do mundo.

Noto também no PSD um envelhecimento, igual ao envelhecimento do país, o qual arrasta muitas vezes o partido para temas, preocupações, modos de agir e de comunicar que já não refletem as pessoas de cinquenta anos, quarenta, quanto mais as de vinte. Escreve-se amiúde que é um problema de ‘má comunicação’, antes fosse, é mais grave: é um problema de falta de adesão, de falta de representatividade e de falta de indexação ao real.

Luís Montenegro vê, ouve, lê, não pode ignorar. Acresce que o excesso de conservadorismo e o reacionarismo têm agora o seu partido político e não é o PSD. Por outro lado, também não ignora que o partido está demasiado fechado sobre si próprio não tendo vozes representativas nas universidades, nas empresas, na cultura, no desporto. Sem essa capilaridade na sociedade, não vencerá eleições legislativas, embora permaneça forte como partido autárquico.

De Luís Montenegro esperamos também uma atitude positiva, ambiciosa, com esperança e com futuro. Os salários são sim para aumentar porque são muito baixos, a produtividade também tem de aumentar (obviamente) e as mulheres merecem igualdade de oportunidades. O discurso revivalista da autoridade nas famílias, nas escolas e nas empresas, está condenado ao fracasso pois vivemos tempos de cooperação e desenvolvimento pessoal.

Oxalá a frase: ‘No meu tempo é que era bom’ nas suas várias declinações, seja uma frase proibida neste 40 congresso do PSD. Não, não era, agora é bem melhor.