NATO declara Rússia a sua principal ameaça

A aliança anunciou um novo “conceito estratégico” e os EUA prometem aumentar a sua presença militar na Europa. Os russos tentam chegar a Lysychansk.

Ao mesmo tempo que mísseis russos varriam do mapa aldeias inteiras no sul da Ucrânia, denunciaram as autoridades ucranianas, os líderes da NATO declaravam Moscovo como “a mais significativa ameaça direta à segurança e estabilidade dos aliados”, durante uma cimeira iniciada esta terça-feira, mesmo aqui ao lado, em Madrid, e que durará até quinta-feira. A invasão russa da Ucrânia “alterou gravemente o nosso ambiente de segurança”, continuava o comunicado, frisando o que todos sabíamos, que a Rússia já não era parceira da NATO e inaugurando um novo “conceito estratégico”. Tendo os Estados Unidos assegurado reforçar a sua presença militar em solo europeu, ao mesmo tempo que a aliança prometia assistência continuada ao Governo de Kiev.

Trata-se da maior transformação da NATO desde os tempos da Guerra Fria, apontou o seu secretário-geral, Jens Stoltenberg. Será criado um quartel-general permanente para o 5º Corpo do Exército americano na Polónia, convenientemente próximo do grande inimigo da NATO, a Rússia. Caças irão para o Reino Unido, mais navios de guerra para Espanha e infantaria para a Roménia. O novo plano, caso seja cumprido, significará que no próximo ano a NATO, em vez de ter umas 40 mil efetivos em estado de alta prontidão, passará a ter mais de 300 mil tropas. 

Se o Kremlin justificou a sua invasão da Ucrânia como uma forma de diminuir a ameaça da NATO, o resultado, naturalmente, foi um reforço ainda maior desta aliança. Já na imprensa russa, em reação à cimeira, lia-se nas manchetes que “a NATO preparou-se para confrontar a Rússia desde 2014”, nas palavras da agência Tass, numa aparente tentativa de alinhar com a retórica do regime de Vladimir Putin, de que a sua invasão fora uma reação a uma ameaça iminente, não uma mera agressão.

Já o Presidente americano, Joe Biden, durante o anúncio do envio de mais forças para a Europa, fez questão de frisar estar disposto a “defender cada centímetro” do território da NATO, recordando o artigo 5º da aliança, o compromisso de defesa mútua. “Nós estamos a falar a sério quando dizemos que um ataque contra um é um ataque contra todos”.

Duelo no Donbass
Enquanto Putin não decida atacar a NATO, tudo indica que terão de ser as tropas ucranianas a ter de travar as forças do Kremlin, com um enorme custo humano, num conflito que se teme estar para durar. “As guerras são imprevisíveis, mas temos de estar preparados para um longo esforço”, frisou o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg. Gabando os Estados-membros pelas suas promessas adicionais de combustível, auxílio médico, treino militar ou de ajudar a Ucrânia a fazer a transição do seu armamento maioritariamente de origem soviética, de maneira a que se adequem melhor às munições que a aliança tem disponíveis.

É algo que, se chegar atempadamente, poderá fazer toda a diferença no terreno. Por agora, as forças russas estão lentamente a conseguir avanços, tendo usado barragens massivas de artilharia para forçar as tropas ucranianas a retirar de Severodonetsk, a última cidade ucraniana na margem norte do rio Siverskyi Donets.

As autoridades ucranianas têm assegurado que as suas forças continuam a combater entrincheiradas em Lysychansk, a cidade-gémea de Severodonetsk, que tem a vantagem de estar em terreno mais elevado. Já os separatistas russos da autoproclamada República Popular de Lugansk anunciaram que as tropas ucranianas começaram uma retirada a larga escala de Lysychansk, em direção a Kramatorsk e Slovyansk. Tratam-se de duas cidades estrategicamente cruciais, um dos principais pontos de abastecimento das forças ucranianas na linha da frente do Donbass. Aliás, durante semanas o Kremlin tentara seguir rumo a Slovyansk, sem sucesso, avançando partir de Izyum, uma cidade que virou rampa de lançamento dos russos na região.

“A firme mas limitada defesa ucraniana de Severodonetsk impôs custos elevados aos russos, apesar das novas táticas russas com o propósito de limitar as suas baixas”, apontou o Instituto para o Estudo da Guerra, um think tank sediado em Washington, no seu mais recente relatório. Referia-se à tática russa de uso massivo de artilharia para destruir tudo à sua frente, lançando infantaria e forças blindadas apenas para tomar as ruínas.

O ritmo da próxima fase da ofensiva dependerá muito da extensão dos danos impostos aos militares russos na batalha por Severodonetsk, notou Instituto para o Estudo da Guerra. Lembrando que o que sobra das forças russas nesta cidade "terá de cruzar o rio Siverskyi Donets até Lysychansk a partir de Severodonetsk ou das localidades vizinhas para participar mais na ofensiva russa. Este movimento pode requerer algum tempo dado que os russos destruíram as três principais pontes através do rio”