Tchizé dos Santos recusa desligar as máquinas do pai

O drama que vive a família Dos Santos ganha novas proporções. Uma das suas filhas quer averiguar se houve um “envenamento” e acusa o MPLA de estar ansioso de enterrar o seu pai. 

O drama que vive a família de José Eduardo dos Santos, que dominou Angola durante quase quarenta anos, ganhou novas proporções. Um áudio de uma das filhas do ex-presidente angolano, Welwitschea “Tchizé” dos Santos, tem circulado nas redes sociais, lançando críticas ao Governo de João Lourenço por este estar a preparar já o funeral do seu pai, enquanto este ainda luta pela vida numa clínica em Barcelona, o centro Teknon, onde se deslocava há anos para receber cuidados médicos.

“Se o senhor João Lourenço quer preparar um funeral, prepare o seu próprio e mate-se”, instou a filha de José Eduardo dos Santos, empresária e antiga deputada do partido do pai, o MPLA, no áudio ouvido pela Lusa, esta quarta-feira. Tchizé chegou declarar que a família estava a ser instada a desligar as máquinas de suporte de vida a que o ex-presidente está ligado, tendo sido internado há quatro dias.

"Eu, como filha, nunca irei permitir que desliguem as máquinas de um pai vivo, que tem o coração a bater normalmente, um coração que está bom, não teve ataque cardíaco, não teve AVC", garantiu a filha do ex-presidente. Apontando o dedo ao médico pessoal do pai, João Afonso, acusando-o de “andar a plantar” notícias falsas na comunicação social, no dia seguinte à SIC avançar que José Eduardo dos Santos sofrera danos cerebrais irreversíveis.

Aliás, Tchizé até afirmou que o seu pai estava “sequestrado” após este ser internado devido a uma queda, numa espécie de conspiração. “O meu pai tem sido vítima de negligência propositada com o fim de antecipar a sua morte”, reagiu a antiga deputada do MPLA, num texto enviado a este canal português. “O meu pai está sequestrado e os filhos impedidos de lhe prestar a assistência médica que gostaríamos”, rematou, explicando que este sofria de uma “infeção pulmonar há muito tempo não tratada que culminou na falta de ar”.

No cerne das acusações da filha de José Eduardo dos Santos está a sua animosidade quanto a Ana Paula dos Santos, antiga mulher do ex-presidente, com a qual este teve quatro filhos. Há mau sangue entre as duas personagens, tendo Tchizé acusado a separação entre o seu pai e a ex-primeira dama, que só recentemente se reaproximaram, de ter tido um papel fulcral na degradação da saúde de José Eduardo dos Santos.

Tchizé chegou a contratar uma advogada espanhola, Carmen Varela, para afastar Ana Paula dos Santos do seu pai e impedir que se desliguem as suas máquinas de suporte de vida, considerando que isso “pode ser provocado por um possível delito”, avançou a Lusa. Ou seja, a trágica telenovela que vive a família ainda pode dar mais uma reviravolta, dado que a advogada espanhola salientou que vão ser pedidas análises para averiguar sobre “possíveis envenenamentos”.

Já o choque a dinastia Dos Santos e João Lourenço também não surpreende. Este antigo ministro da Defesa, que sucedeu o ex-presidente em 2017, rapidamente se virou contra os filhos deste, que construíram um extenso império financeiro enquanto o pai estava no poder.

Nos últimos meses, com a Angola a sofrer uma dura crise económica, a popularidade do novo chefe do MPLA tem sido posta em causa, entre rumores de fraturas internas no partido e com cada vez mais expectativas quanto à prestação eleitoral da UNITA, o maior partido da oposição. A posição de José Eduardo dos Santos quanto ao seu sucessor torna-se alvo de especulação, dado o ex-presidente, um histórico da Guerra Colonial, ainda manter bastantes fiéis em Angola.

Com José Eduardo dos Santos em risco de vida, João Lourenço está com pressa em enterrá-lo "para aparecer em grande e meterem bandeiras do MPLA em cima do caixão", acusou Tchizé, no áudio ouvido pela Lusa, dirigindo-se ao atual presidente. Descrevendo o pai como alguém "que está extremamente dececionado consigo e com o MPLA, está extremamente triste e não ia fazer campanha para vocês". Deixando o recado que este “provavelmente iria mesmo querer ver alternância política".