De Alverca a Beja: as opções esquecidas

O arrufo entre Costa e Pedro Nuno Santos veio acender ainda mais a discussão que há anos parece não ter fim: a localização do novo aeroporto.  

Por Daniela Soares Ferreira e Sónia Peres Pinto

Pedro Nuno Santos deu o passo em frente –  afinal um passo em falso. A nova solução aeroportuária seria Montijo e Alcochete, mas depois do puxão de orelhas de António Costa e até de Marcelo Rebelo de Sousa, pode até vir a ser outra. Se as incertezas persistem, opções levantadas no passado, como Alverca, Beja ou Monte Real nem sequer foram equacionadas pelo Governo, deixando os responsáveis pelos projetos descontentes. 

Para quem defende a solução Alverca não há margem para dúvidas: a solução hub Portela + Alverca assegura «um inovador sistema de dupla função que assegura competitividade da ligação ao centro». A garantia chegou a ser dada ao Nascer do SOL por José Furtado. O especialista no setor e responsável pela apresentação desta alternativa defende que a ligação seria feita através de um comboio automático que cumprirá o trajeto de 14,5 quilómetros em 12 minutos. «A partida será feita de quatro em quatro minutos, sem tarifa».

Um cenário que, de acordo com o responsável, é bem diferente das soluções Alcochete e Montijo. «No caso do hub Portela + Montijo, o acesso é feito por barco (13km), mais + bus (4km), o que não é comparável com nenhum aeroporto europeu. Já o hub Alcochete dependerá de um acesso por comboio (ramal), com +/- 1 hora (viagem + espera) e elevado custo 15-17 euros», revela o documento, que  foi entregue no Parlamento.

O estudo garante que «o hub Alverca-Portela será um aeroporto com fusão de terminais em Alverca e Portela mediante comboio automático que ao mesmo tempo leva os passageiros ao metro» e lembra também que as soluções aeroportuárias devem assegurar a competitividade com os diretos concorrentes, concluindo que só a solução Alverca-Portela é competitiva com Madrid em termos de acessibilidade (tempo-custo-conforto).

E José Furtado também já tinha dito a este jornal que «é uma solução que conta com melhores acessos, apresenta menor impacto ambiental, apesar de contemplar uma pista sobre o mouchão, e terá menos custos face à solução Montijo, tanto que terá a vantagem de funcionar com os acessos rodoferroviários existentes, o que simplifica bastante todo este projeto».

E há mais: «O hub de Alverca tem uma área útil quase três vezes superior ao hub Montijo. Custa três vezes menos do que o hub Montijo. O hub Alverca e Portela formam canal aéreo como Paris-Vinci. O hub de Alverca na primeira fase conta nova pista de 2.600 metros mais terminal low-cost. O hub de Alverca está a 15 minutos de Lisboa, enquanto o hub do Montijo fica a 40 minutos e o hub de Alcochete a 60 minutos». Foi desta forma que foi apresentada a solução Alverca pelo grupo de cidadãos que defende essa localização como melhor hipótese para dar apoio ao aeroporto da Portela no ano passado.

Opções como Beja
À medida que a localização do futuro aeroporto vai sendo discutida, houve outras alternativas em cima da mesa. Beja foi uma delas. O Nascer do SOL tentou obter uma reação do presidente da Câmara de Beja perante o atual impasse e esta hipótese ter sido esquecida, mas não teve resposta até ao fecho desta edição. 

No entanto, há cerca de um ano, este autarca já tinha dito que, desde que o aeroporto local seja «dotado de um conjunto significativo de obras que permita uma operação mais robusta de tráfego de passageiros poderá ser sempre um complemento nacional quer ao aeroporto de Lisboa, quer ao aeroporto de Faro, entre os quais se situa».

Até porque a estrutura já existe, mas em termos de placa de estacionamento de aeronaves e aerogare «é extremamente exígua», dizia Paulo Arsénio. Por isso, só com o projeto de ampliação «se reuniriam condições mínimas para que uma operação que envolva milhares de passageiros por dia, seja exequível». 

Já no que diz respeito a investimentos, Paulo Arsénio não apontava para valores exatos. A localização é um ponto-chave e o aeroporto «cumpre perfeitamente a função de pequeno aeroporto de absorve os voos de e para Lisboa e/ou Faro sempre que os slots estão preenchidos nesses equipamentos», explicava. Além disso, defendia que é «muito adequado» para voos charter e costuma ser muito procurado quando existem eventos desportivos, cimeiras políticas de topo ou outros. «Essa resposta, o aeroporto de Beja cumpre-a com excelência». 

Esquecida no eixo das decisões, certo é que até no Governo há quem defenda esta opção. A ministra da Coesão, Ana Abrunhosa, chegou a defendê-lo ao Nascer do SOL. «Embora nunca possa ser um substituto de um aeroporto nacional, porque será sempre um aeroporto regional, não perde importância por isso. Estamos a falar de uma infraestrutura que podia ter um aproveitamento maior e que está a cerca de 150 quilómetros de Faro e 150 quilómetros de Lisboa. Portanto, temos de continuar a valorizar o investimento que já fizemos e colocar este aeroporto ao serviço da região», disse. E, há poucas semanas, a Assembleia Municipal de Beja aprovou uma moção em que defende o aeroporto da cidade como «uma excelente e útil alternativa» aos aeroportos de Lisboa e Faro, «em caso de necessidade e de sobrelotação».

Esta é uma moção proposta pela coligação Beja Consegue – que junta PSD, CDS-PP, PPM, Iniciativa Liberal e Aliança – e que foi aprovada por unanimidade pelos eleitos das várias forças políticas representadas na Assembleia Municipal de Beja.

Admitindo que o aeroporto de Beja «dificilmente conseguirá ser um aeroporto complementar ao de Lisboa», os autores dizem que «pode ser, em caso de necessidade e de sobrelotação dos aeroportos de Lisboa e de Faro, uma excelente e útil alternativa».

Norte do Tejo + Monte Real
Para o presidente da Câmara de Leiria não há dúvidas de que o importante é resolver o problema do novo aeroporto. «A decisão sobre a localização do futuro aeroporto de Lisboa, pelo impacto estrutural e decisivo para o futuro do país, não pode estar sujeita a episódios e circunstâncias que nada têm a ver com a substância do que está em causa», começa por dizer ao Nascer do SOL Gonçalo Lopes, presidente da Câmara Municipal de Leiria.

O autarca diz ainda que «numa obra desta importância, deve ser pedra-base da decisão um consenso amplo, dentro e fora do Governo: com as principais forças políticas e muito especialmente com o povo português, que exige competência e rigor no uso dos recursos públicos».

Mas não tem dúvidas de que esse consenso «nunca será possível» com uma localização a sul do Tejo, uma vez que está «longe da esmagadora maioria da população servida, que está a norte do Tejo, e sobretudo longe do rigor e da gestão racional de recursos que se impõe». 

Gonçalo Lopes acrescenta: «De facto, não se percebe uma solução a Sul do Tejo que obrigue à construção de uma nova ponte que fará disparar os custos do empreendimento e que vai acentuar as assimetrias e injustiças no desenvolvimento equilibrado e justo do país».

Para o autarca de Leiria, é mesmo tempo de voltar a discutir outras opções: «esta crise dá-nos pretexto para alargarmos o debate e para voltarmos a colocar em cima da mesa as soluções que melhor sirvam os interesses de Portugal e dos portugueses». E é perentório: «o aeroporto tem de estar a norte do Tejo, onde estão os passageiros e onde está a economia».

Gonçalo Lopes apela a que se procure uma nova solução a norte do Tejo «sem impactos ambientais significativos e que tenha como ponto consensual o que é verdadeiramente relevante nesta discussão: a defesa dos superiores interesses de Portugal e dos portugueses, uma discussão em que faz sentido incluir localizações como a Ota e Alverca, que me parecem muito mais racionais e económicas».

Questionado sobre como vê o facto de Monte Real não ser uma das opções, o autarca separa águas: «A escala que defendemos para Monte Real é totalmente diferente do Aeroporto de Lisboa. São dois assuntos diferentes, que não conflituam, pelo que uma solução não inviabiliza outra».