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Tinha uma lealdade de ferro às amizades e também era constante no que não considerava nem tinha paciência para aturar. Era um duro com um caráter incrivelmente bom.

O António Ribeiro Ferreira era acima de tudo um homem enormemente valente e determinado. Não pedia licença para pensar nem para dizer o que pensava. Cortava a direito e ia em frente. Não era simulador nem dissimulado – era aliás o rigoroso contrário disso. Não era presunçoso nem de mesuras – foi aliás o oposto desse género de pessoa. Nunca lhe conheci outra atitude perante a vida e os problemas que não fosse ser franco e destemido. Tinha uma lealdade de ferro às amizades e também era constante no que não considerava nem tinha paciência para aturar. Era um duro com um caráter incrivelmente bom.

Foi um dos grandes chefes que conheci e a quem sou absolutamente devedor – numa redação brilhante, difícil, heterodoxa e em ebulição permanente como era a d’O Independente. Sabia mandar, sabia exigir e sabia instruir. Também sabia perdoar e gerir conflitos e conter as frequentes revoltas, mantendo a linha no meio da tempestade ou da dúvida. Era de longe o mais experiente numa equipa de promessas: o género de pessoa para quem nos voltamos quando não sabemos o que fazer. Ao cabo de todas as refregas dava confiança à noite para sossegar as almas, rir a bom rir e contar tantas histórias maravilhosas e divertidas entre um bife e dois copos (no Snob, por exemplo). Pessoas assim não há muitas. Profissionais assim não haverá muitos mais.

Jornalista dos pés à cabeça todo o dia, no essencial ‘anti poder’ da manhã à noite, era ao mesmo tempo – e com o mesmo coração – libertário e ordeiro, radical e justo, intransigente e sorridente. Tinha uma especial intolerância com a estupidez e uma distinta cumplicidade com a bravura.

Não sei – não sou de fazer essas perguntas – qual era a relação do António com Deus. Mas sei –  e nenhum dos seus Amigos precisa de pedir – que Deus se dará muito bem com ele. Pela essencial razão de que o António Ribeiro Ferreira foi temível no querer, cumpridor no fazer, generoso no dar e – mais importante do que tudo, irrevogável no ser.

Que maravilhoso Amigo foste, António! Não nos víamos há uns anos, mas nem sei por onde começar uma conversa sobre as saudades tuas que já temos.