A novela do racismo na F1 continua

A semana no mundo da Fórmula 1 ficou marcada pela polémica em torno de Nelson Piquet, antigo piloto da modalidade, e Lewis Hamilton, a quem apelidou, numa entrevista, de ‘neguinho’.

A Fórmula 1 é uma modalidade muito marcada dentro e fora dos circuitos pela luta por diferentes causas. E que o diga Lewis Hamilton, o britânico heptacampeão mundial da Mercedes, que tem travado um verdadeiro combate ao longo destes anos na principal divisão do desporto motorizado contra várias formas de discriminação, incluindo racismo. Na Arábia Saudita, por exemplo, Hamilton correu com um capacete que ostentava a bandeira da comunidade LGBTQIA+, em protesto contra a forma como esta comunidade é oprimida naquele país do Médio Oriente.

Por isso mesmo, a polémica em torno de um comentário de Nelson Piquet, antigo piloto-estrela da Fórmula 1, escalou a níveis mundiais. O antigo tricampeão mundial brasileiro falava numa entrevista sobre o acidente entre Lewis Hamilton e Max Verstappen (cuja namorada é filha do próprio Piquet) em Silverstone, no ano passado, e referiu-se ao piloto da Mercedes com uma expressão racista. «O neguinho meteu o carro e não deixou Verstappen desviar. O neguinho deixou o carro porque ali [na curva] não há maneira de passarem dois carros», disse Piquet  ao jornalista Ricardo Oliveira. E mais, dias depois de a polémica ter estourado, um outro clipe da entrevista deu também que falar. É que Piquet volta a usar o termo, e faz ainda, de seguida, um comentário que não caiu bem a muitos internautas. «O neguinho devia estar dando mais cu naquela época, aí tava meio ruim», disse Piquet, numa parte da entrevista que a plataforma Grande Prêmio acabou por descobrir, já que a mesma fora retirada do YouTube.

Pouco demorou até que as principais entidades da Fórmula 1 se pronunciassem sobre o assunto. Em comunicado, a própria organização da modalidade disse: «Linguagem discriminatória ou racista é inaceitável e não tem lugar na sociedade. O Lewis é um embaixador incrível do nosso desporto e merece respeito. Os seus esforços para aumentar a diversidade e a inclusão são uma lição para muitos». A ela juntou-se  a Mercedes, equipa de Hamilton, que recorreu às redes sociais para sair em defesa do piloto britânico: «Condenamos o uso de qualquer linguagem racista ou discriminatória. O Lewis tem feito muitos esforços para combater o racismo e é um campeão da diversidade dentro e fora de pista».

Piquet acabou por pedir desculpas públicas pelo comentário, argumentando ter sido  «mal pensado». «Não defendo isso, mas vou esclarecer que o termo usado é aquele que tem sido amplamente e historicamente usado coloquialmente no português brasileiro como sinónimo de ‘cara’ ou ‘pessoa’ e nunca teve a intenção de ofender», diz, em nota oficial. O antigo piloto acabou suspenso como membro honorário do Clube Britânico de Pilotos de Corrida.