Montenegro unificador e com fortes queixas à governação do PS apresenta propostas para o país

Do alívio da carga fiscal à criação de uma política de acolhimento de emigrantes em Portugal, Luís Montenegro elencou as diferentes propostas que tem para o país, por entre críticas ao Governo de António Costa. Amanhã vai estar em Pedrógão Grande, quando se assinalam 5 anos dos incêndios que assolaram essa região em 2017.

Todos a postos, com o Conselho Nacional do PSD sobre o palco, saudados todos os intervenientes e convidados, Luís Montenegro, Presidente do PSD, subiu ao palco para fazer o discurso de encerramento do 40.º Congresso do partido, no Pavilhão Rosa Mota, no Porto.

Pouco mais de meia hora de discurso bastou para Montenegro cobrir, praticamente, todos os assuntos que estão na 'espuma dos dias': desde a crise na saúde à inflação, passando pelo novo aeroporto de Lisboa.

Depois dos principais agradecimentos – nos quais Montenegro enalteceu o trabalho de Miguel Albuquerque e José Manuel Bolieiro (membros da Mesa do Congresso recém-eleita) na presidência dos Governos Regionais da Madeira e dos Açores, respetivamente – o presidente do PSD enviou também um cumprimento a Nuno Melo, presidente do CDS-PP, argumentando: "Partilhamos vários momentos de responsabilidade na governação nacional e conduzimos, agora mesmo, em conjunto, um número significativo de autarquias locais. Não é a conjuntura atual do CDS que nos inibe fazer esta referência especial. Faço-o com desejo sincero que a vossa nova liderança preencha o futuro com conquistas e sucessos".

Do seu discurso – no qual anunciou que irá, amanhã, a Pedrógão Grande – destacou-se uma barreira clara que Montenegro quis desenhar entre o seu PSD e o PS de António Costa. "No PSD, quero que o país saiba, não temos problemas existenciais, cismas ideológicos nem nos interessam discussões estéreis de esquerdas ou direitas, linhas vermelhas ou verdes. A nossa orientação é simples: o cidadão, a pessoa. O ser humano, individualmente considerado, e as suas aspirações pessoais, familiares, sociais e profissionais", começou por disparar, rejeitando o que chamou de "a escolha teleguiada que o socialismo gosta de, mais ou menos subrepticiamente, impor às pessoas".

E depois começaram os ataques mais diretos: "Não nos confundam, nem confundam os portugueses. Não somos, nem seremos socialistas moderados. Ou, dito de outro modo, somos e seremos moderados, mas não somos, nem seremos, socialistas. É por sermos moderados que não somos nem populistas nem ultra-liberais, e muito menos nos associaremos algum dia a qualquer política xenófoba ou racista". Palavras sobre um eventual acordo governativo com o Chega, que Montenegro afastou, e no âmbito do qual acusou a associação do PS ao BE e ao PCP na ida 'geringonça'.

"Não somos daqueles que ultrapassam muros para abraçar o extremismo só para sobreviver politicamente. Sim, estou a falar do PS, de António Costa e dos seus delfins. Comigo e com o PSD, antes quebrar que torcer. Jamais abdicarei dos princípios da social-democracia e da essência do nosso programa eleitoral para governar a qualquer custo. Se algum dia for confrontado com a violação dos nossos princípios e valores para formar ou suportar um Governo, o partido pode decidir o que quiser, mas eu não serei o líder desse Governo", prometeu, acusando os 'manda-chuvas' do PS de violar "os princípios do socialismo moderado para evitar a reforma política antecipada do atual PM".

"Que moral têm eles para andar a insinuar o que quer que seja sobre nós? Quando é que nos associamos a partidos anti-NATO, ou anti-UE, ou anti-Euro, ou anti-Misericórdias, anti-Setor Privado na saúde, ou pior ainda, partido pró-Russos no contexto da Guerra da Ucrânia? Nós nunca fizemos isso", atacou Luís Montenegro, frente a uma plateia onde se encontravam representantes de vários outros partidos, entre eles o PS e o PCP.

 

Sete indicações

Luís Montenegro dedicou-se, de seguida, a explicar sete fios condutores que pretende ter na sua condução dos trabalhos do PSD nos próximos anos, e, se possível, do país.

Entre eles destacam-se a descentralização e um eventual referendo ao processo de regionalização, considerando Montenegro que realizar esse referendo em 2024 "não é adequado". "A razão decisiva tem a ver com a gravidade da situação internacional que vivemos e a consequências económicas e sociais muito sérias que estão a atingir os portugueses. Fazer um referendo neste quadro crítico e delicado seria uma irresponsabilidade, uma precipitação e um erro", considerou o presidente do PSD.

Falou-se também do combate ao caos e ao desgoverno na saúde, sugerindo Montenegro que aqueles que têm mais fracos recursos também possam aceder aos cuidados de saúde privados do setor social, "porque o Estado, ajudando os cidadãos, consegue ter uma eficiência no gasto de recursos públicos do que se os concentrar no SNS, onde não encontram resposta", e na "defesa duma sociedade com menos impostos, com contributo para o crescimento económico sólido, robusto e com justa repartição da riqueza", prevendo o presidente do PSD um alívio da carga fiscal.

De seguida, Montenegro explicou também as suas propostas para reter os jovens portugueses no país, evitando que estes se vejam obrigados a emigrar. Nesse mesmo âmbito, o líder do PSD referiu a sua vontade ver o país criar um programa nacional de atração, acolhimento e integração de emigrantes, utilizando os "exemplos da Alemanha, Canadá, Austrália".

Finalmente, Montenegro referiu também a necessidade de ver criado um pacto sobre a transição digital, energética e ambiental.

"Este é o PSD. Um partido moderado, ambicioso, aberto, rejuvenescido e em processo de modernização. Com novos protagonistas, com uma energia renovada e sentido de responsabilidade. Somos, vamos mesmo ser, a alternativa que vai dar esperança e futuro a Portugal. Acreditamos muito em nós e nos portugueses. Nos jovens, nos talentos que temos e que não devemos desperdiçar. Acreditamos nos trabalhadores e empreendedores, que todos os dias criam riqueza e valor. Insistem e persistem em não desistir", concluiu Montenegro.