Portugal precisa de uma oposição forte

Hoje já existe a ‘mexicanização’ do regime político em Portugal, não há uma verdadeira alternância no poder, pelo que, é muito preocupante que o PS com esta maioria absoluta se transforme numa espécie de poder absoluto, sem oposição forte, controlando totalmente o Estado e as Instituições.

por Ester Amorim
Professora Universitária de Gestão e Economia

Quando um Governo tem maioria absoluta no Parlamento, toda a oposição se torna pouco útil, uma vez que nas votações nomeadamente, na aprovação do orçamento não precisa de negociar porque tem a garantia da sua aprovação.

No nosso sistema eleitoral e apesar de várias forças políticas estarem representadas no Parlamento, só dois partidos PS e PSD, tiveram maiorias simples e maiorias absolutas e o que ganhava formava Governo. Nas eleições de 2015 e seguindo a sua normalidade o PSD ganhou essas eleições sem maioria absoluta e foi convidado a formar Governo, mas o que foi normal até 2015 em que o maior partido da oposição se abstinha na apresentação do programa do Governo no Parlamento, o PS juntamente com toda a esquerda parlamentar votou contra, e o Governo foi demitido. E pela primeira vez o partido que ganhou, não conseguiu maioria na Assembleia da República e o partido que ficou em segundo conseguiu essa maioria e legitimamente formou Governo.

Todos nós sabemos, que o partido que é Governo, tem um palco privilegiado tanto na informação como na opinião pública. António Costa aproveitou e conseguiu fazer esquecer como tinha chegado ao poder e tudo lhe correu bem, ao contrário o PSD ao deixar de ser Governo, entrou em decadência e as eleições autárquicas de 2017 já teve o seu reflexo com uma pesada derrota e a mudança de líder consumou-se. Rui Rio é eleito Presidente do PSD, sendo uma pessoa inteligente, corajosa e apreciada, tinha como adversário um primeiro-ministro que em condições normais pretendia sair vencedor nas eleições de 2019.

Mas se na condução um erro pode ser fatal, na política não é menor e tudo tem que ser bem programado para não se cometer qualquer erro, António Costa seguiu à risca mobilizando os melhores do partido, membros do Governo, Professores universitários e independentes com currículo reconhecido para serem candidatos ao Parlamento como cabeças de lista pelos vários círculos. Rui Rio ao querer ser inovador no método e na ação, não deu essa importância e não se preocupou com as melhores escolhas, sendo ele líder e a maior personalidade do partido não se quis assumir como tal e foi candidato em segundo da lista pelo Porto. De facto, foi algo inovador e desde os fundadores dos maiores partidos, Sá Carneiro, Mário Soares, Álvaro Cunhal e Freitas do Amaral até hoje, nenhum líder partidário tinha sido relegado para segundo lugar numa lista ao Parlamento e os resultados vieram a demonstrar que Rui Rio estava errado. Mas se em 2019 a experiência foi errada, ninguém compreende que nas eleições de 2022 continuasse com um procedimento ainda mais errado, com escolhas para o Parlamento desadequadas e um resultado vergonhoso, que veio dar uma maioria absoluta ao PS e a António Costa. Tenho uma enorme consideração pessoal por Rui Rio, gostava de o ter como primeiro-ministro, mas por ingenuidade e culpa própria termina a sua liderança sem honra nem glória.

Hoje já existe a ‘mexicanização’ do regime político em Portugal, não há uma verdadeira alternância no poder, pelo que, é muito preocupante que o PS com esta maioria absoluta se transforme numa espécie de poder absoluto, sem oposição forte, controlando totalmente o Estado e as Instituições.

Luís Montenegro toma posse como Presidente do PSD em Congresso no próximo dia 3 de julho. A vitória que alcançou nas eleições diretas foi muito expressiva e os militantes deram-lhe a confiança necessária para ser um líder forte assertivo e capaz, mas na realidade tem um longo caminho a percorrer, vai encontrar um partido decadente, desmobilizado e sem força anímica, e que tem o seu suporte nas comissões distritais ou concelhias, mas fechado há sociedade.

Luís Montenegro, tem que traçar um plano e uma estratégia bem delineada, começando pela humildade de ser próximo dos militantes, chamar todos os Recursos Humanos que pensam, captar vozes nas universidades, nas empresas e na sociedade, conseguir unir o partido sem ter oposição interna e focar todas as suas intervenções no seu principal e único adversário, PS e António Costa, demonstrar aos portugueses que é a única alternativa capaz de ser Governo e não dar palco a outros partidos, nomeadamente à sua direita, demonstrando que volta a merecer a confiança dos desiludidos, relegando esses partidos à sua insignificância.

Estou convicta que os portugueses estão desejosos por ter uma alternativa que lhes dê esperança e valores e principalmente que lhes indique o caminho do futuro.

Luís Montenegro, vai ter que controlar muitos obstáculos, mas tem coragem, experiência, ambição e sabedoria e tem esperança no futuro. Acredito que o PSD nas próximas eleições volta a ser Governo. Eu confio em Luís Montenegro.