Renda e caução por antecipação? Cuidado com as fraudes

Anúncio apelativo, rendas dentro da média mas depois vem a surpresa: pagar renda e caução e, ao fim, descobrem que não há casa. Há quem seja apanhado nesta armadilha que a PJ já está a par.

Está à procura de casa para arrendar, por um período de longa duração, responde a um anúncio e recebe um email de volta do suposto proprietário, geralmente em inglês, a contar a vida pessoal e a pedir dois meses de pagamento (renda e caução) para assegurar o negócio? Cuidado, pode estar a cair numa situação de fraude. Ao i, Carlos Cabreiro, diretor da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica (UNC3T) reconhece esta situação de burla e aconselha aos lesados a fazer queixa.

Os casos são recorrentes e os nomes variam. Há quem se chame Giovanni Parri, Josef Freund, Roberta Vignoli, entre muitos outros. O que têm comum? São supostamente proprietários de casas, que colocam anúncios em vários sites de imobiliário, a preços relativamente acessíveis – entre seiscentos a 800 euros – e contam a história da sua vida e pedem mais informações pessoais a quem está à procura de casa. E logo no primeiro contacto pedem para regularizar o respetivo pagamento com vista a não perder o imóvel.

Mas vamos a exemplos de pessoas que responderam aos anúncios. Roberta Vignoli na resposta que enviou lamenta escrever em inglês e faz uma pequena apresentação do imóvel. Conta com dois quartos, uma sala, cozinha, uma casa de banho, num total de 80 metros quadrados, explicando que comprou o apartamento para a filha, enquanto esteve a estudar em Portugal, mas como regressou a Itália está a arrendar o imóvel por tempo ilimitado. Os 600 euros pedidos no anúncio diz que inclui já as contas da água, luz e gás. No entanto, pede já esse valor antes de conhecer a casa e para fechar negócio e acena o reembolso desse valor quando sair do imóvel.

E aproveita para fazer a apresentação da sua família. “Tenho 55 anos, trabalho na indústria farmacêutica e espero reformar-me daqui a cinco anos”, diz na resposta ao anúncio, a que o i teve acesso. Os pormenores não ficam por aqui. “Tenho um marido adorável, Luca e uma filha de 29 anos, Chiara. E vou ser avó em breve. Temos ainda membro da nossa família, que é um Lavrador com 7 anos”. E depois desta descrição volta a pedir o pagamento, alegando que não pode sair do país devido à covid.

O mesmo discurso repete-se com Josef Freund que diz que comprou a casa em Lisboa, durante o período que trabalhou no nosso país, mas regressou a Roma. Também este imóvel, cuja resposta foi enviada a um potencial arrendatário, novamente em Lisboa, lembra que o apartamento tem dois quartos, sala, casa de banho, cozinha – totalmente equipado­ – e lugar de garagem. Mas neste caso, a concretização do negócio dependia do pagamento de uma renda de 650 euros e de uma caução no mesmo valor. Também aqui é feita a apresentação da família. “Tenho 60 anos, a minha esposa tem 59 anos e trabalhamos na área informática, especializada em software governamental”, refere a resposta a que o i teve acesso.

Curiosamente a mesma descrição de casa e da situação do proprietário coincide com outro anúncio do mesmo ‘dono’ do imóvel, mas de Coimbra.

Nos dois casos, a par do pagamento é também pedido informações sobre a situação financeira dos potenciais arrendatários, o número de pessoas que irão viver nesse apartamento e quanto tempo pretendem ficar nessa casa.

 

Reclamações

Ao i, o portal da Queixa apresenta várias reclamações, sempre no mesmo âmbito. “A minha reclamação não é contra a Imovirtual, apenas porque o anúncio ao qual fui burlada se encontrava lá. Uma tal de Roberta Vignoli direcionou-me para um link e fiz uma transferência no valor de 1240 euros para o Solarishbank”.

Uma denúncia que teve resposta por parte do site imobiliário. “Lamentamos a situação que nos reporta e garantimos que diariamente fazemos todos os esforços para remover este tipo de conteúdo do nosso portal com a maior celeridade possível. Infelizmente o Imovirtual não consegue atuar no sentido de recuperação do valor pago, pelo que sugerimos que contacte as autoridades policiais (PSP, GNR ou PJ) de forma a apresentar a sua queixa formalmente caso ainda não o tenha feito”, acrescentando ainda que se encontra disponível para cooperar e fornecer informações que auxiliem nas suas resoluções, lamentando ainda o sucedido.

Mas não é caso único, Uma outra potencial arrendatária diz ao Portal da Queixa que encontrou um anúncio de uma casa, publicada por Daniel Darker, e que depois de “longa conversa pelo email foi pedido um valor de 600 euros de renda, acrescido de 600 euros de caução”, no entanto, por não ter esse valor em mãos sugeriu o pagamento em três meses, no valor de 800 euros. Uma proposta que foi aceite e que acabou por ser paga, através de transferência bancária. A partir daí deixou de ter notícias. Conclusão: nem senhorio, nem casa.

Famosos apanhados na rede Este esquema de fraude não se aplica apenas a arrendamentos de longa duração. Também para quem está a pensar em passar férias em Portugal pode ser apanhado nesta rede e nem os famosos escapam. Exemplo disso, foi o que aconteceu com Anitta que atuou recentemente no Rock in Rio Portugal que denunciou que ficou sem a “casa milionária” que tinha arrendado para toda a família passar férias.

A cantora revelou que passou “semanas” a escolher uma mansão em Portugal para que a sua família pudesse realizar o sonho de conhecer o país, revelando que, pelo menos, dez parentes estariam a voar para Lisboa quando anunciou que afinal não tinha as chaves da casa “milionária” que pagou. “Existe um sério risco de a minha família pousar e eles estarem na rua da amargura, sem ter para onde ir. Se cada um adotar um parente até eu conseguir acertar essa casa milionária, que eu paguei e não se tem a chave…”, apelou aos fãs portugueses. Anitta foi apenas uma das que caiu na conversa do ‘bandido’.