Novas demissões na administração de Boris Johnson

As demissões do Governo somam-se em catadupa, mas Boris Johnson insiste que se mantém no cargo.

Depois de esta terça-feira a administração do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, ter sido abalada pelo despedimento do ministro da Saúde e das Finanças, agora, os despedimentos continuam, com quatro ministros e diversos membros do parlamento a renunciar ao seu cargo, mergulhando o Governo numa crise cada vez mais caótica e o futuro da liderança de Johnson na incerteza.

Até ao momento, o ministro para as Crianças e Família, Will Quince, a vice-secretária de Estado para os Transportes, Laura Trott, a ministra do Ambiente, Jo Churchill, e o secretário de Estado das Escolas, Robin Walker, apresentaram a sua demissão esta quarta-feira, uma decisão que surge no seguimento de uma polémica com o deputado Chris Pincher, acusado de assédio sexual.

Em causa está a nomeação de Pincher, por Boris Jonhson, para vice-presidente da bancada parlamentar do partido Conservador, tendo o primeiro-ministro tido conhecimento das alegações de assédio sexual que pairam sobre o deputado.

O deputado foi acusado de tocar de forma inapropriado dois homens num clube privado em Londres. “Bebi demasiado e envergonhei-me a mim próprio”, escreveu Pincher na carta onde apresentava a sua demissão, apesar de fazer referência aos alegados abusos sexuais.

Esta terça-feira, Johnson lamentou a nomeação de Pincher. “Acho que foi um erro e peço desculpas por isso. Acho que, em retrospetiva, foi a coisa errada a fazer”, disse o primeiro-ministro. “Peço desculpa a todos os que foram gravemente afetados por isso. Quero deixar absolutamente claro que não há lugar neste Governo para qualquer um que abuse do seu poder”, lamentou.

Mas de pouco valeu este pedido de desculpas, com as demissões a surgirem depois destas declarações.
Este é um duro golpe para a administração de Johnson, uma vez que representa o afastamento de alguns dos seus aliados.

“É com grande tristeza e pesar que sinto que não tenho escolha a não ser apresentar minha renúncia como ministro da Criança e da Família”, escreveu Quince, um dos ministros que defendeu o primeiro-ministro, argumentando agora que terá recebido informações falsas por parte de Downing Street.

Estas demissões acontecem depois do ministro das Finanças, Sajid Javid, e o ministro da Saúde, Rishi Sunak, terem apresentado, esta terça-feira, a demissão a Boris Johnson. Segundo os ministros, esta decisão foi tomada depois de considerarem que Johnson é incapaz de governar o Reino Unido, levando mesmo Javid a afirmar que não poderia continuar a exercer funções “de boa consciência”.

Pincher não foi o primeiro membro do gabinete do primeiro-ministro a deparar-se com um escândalo de cariz sexual. O ex-deputado Neil Parish em abril foi suspenso e demitiu-se após admitir ter visto pornografia no Parlamento. Depois do caso de Pincher, Parish veio a público queixar-se da dualidade de critérios.

Mas as razões não ficam por aqui. Em causa está também o escândalo do Partygate, ligado às festas ilegais que o primeiro-ministro organizou durante a pandemia, que se tem arrastado ao longo dos últimos meses. 

Este caso motivou uma moção de censura contra Johnson onde, apesar de ter conseguido resistir e de se manter no cargo, causou alguma incerteza sobre a sua continuidade no poder e provocou uma maior fragilidade na sua liderança.
“Se este escândalo entre políticos Tory acabar por representar o fim de Johnson”, escreve Tin NcTague do The Atlantic, “a ironia é que este foi condenado por algo que não foi ele que fez”. 

“Esta dupla demissão é um golpe duplo para Boris Johnson e para o seu futuro como primeiro-ministro do Reino Unido”, explica o jornalista Rory Challands, do Al Jazeera. “Acredito que será muito, muito difícil sobreviver a esta decisão de dois aliados importantes”, afirmou.

Enquanto as demissões continuam a proliferar, já vão em 38, o deputado conservador, Andrew Bridgen, citado pelo Guardian, acredita que “mais ministros vão abandonar o seu cargo e, como tal, “será mostrado a ‘porta de saída’ ao primeiro-ministro”.

Depois das demissões dos ministros, Johnson já tratou de encontrar os seus substitutos, revelando que o até então ministro da Educação, Nadhim Zahawi, será o novo chefe das Finanças, enquanto o chefe de gabinete, Steve Barclay, substituirá Javid no comando do Ministério da Saúde.

Segundo um comunicado governamental, a chefe do Ensino Superior, Michelle Donehan, assumirá a pasta da Educação, 

Contudo, estas transições não terão acontecido da forma mais pacífica. Uma fonte de Downing Street revelou à agência de notícias EFE que Zahawi ameaçou deixar o governo e unir-se à oposição caso Johnson não aceitasse colocá-lo na pasta das Finanças. A intenção inicial do primeiro-ministro era escolher a ministra das Relações Exteriores, Liz Truss.