ANA reconhece problemas “graves” de constrangimentos, TAP mais penalizada

Concessionária admite também que os cancelamentos são responsabilidade das companhias. ANA falava em 18 voos cancelados, mas número é bastante superior: 27.  A TAP tem sido a companhia mais afetada e o i sabe que há quem seja obrigado a remarcar o voo pela terceira vez para regressar a Portugal. Situação estará longe de ser…

O caos continua instalado no aeroporto de Lisboa, Até ao fecho desta edição, o site da ANA – Aeroportos de Portugal, dava conta de 27 voos cancelados, um número que poderia ter aumentado até ao final do dia. Desse valor, 14 diziam respeito às chegadas – com 12 desses cancelamentos a pertencerem à TAP – e 13 às partidas, onde a companhia aérea portuguesa também liderava os cancelamentos: 10. Um número muito superior ao que tinha sido perspetivado pela ANA na manhã desta quarta-feira que dava conta 18 voos cancelados, entre os quais 10 chegadas e oito partidas.

A  TAP tem sido uma das companhias aéreas mais reclamadas. Mas não só. O i sabe que quem está fora do país – em locais como Zagreb, Veneza e Lyon – vê os voos da TAP a serem cancelados consecutivamente, sem ser dada uma resposta aos passageiros, nem qualquer alternativa de viagem. São ainda vários os relatos que chegam ao nosso jornal a garantir que os call centers da TAP estão “completamente bloqueados” com “várias horas de espera”. Os voos são cancelados sem pré-aviso e há seja obrigado a remarcar o voo pela terceira vez e famílias que estão a ser separadas para voos diferentes. Os call centers não atendem, na TAP Reservas ninguém atende durante horas. Aquilo entrou colapso”, diz um passageiro ao i. 

Problemas “graves” A vida não tem sido fácil para quem se desloca ao Humberto Delgado nos últimos dias: atrasos e cancelamentos fazem parte da ementa diária e a situação está a deixar os passageiros de cabelos em pé, daí ter sido um dos assuntos principais abordados na audição parlamentar de Thierry Ligonnière, presidente executivo da ANA  que acabou por assumir o problema: “É verdade, durante as últimas semanas tivemos problemas, alguns deles graves, com alguns subsistemas, um deles o controlo de fronteiras, que não é diretamente controlado pela ANA, mas trabalhamos com os nossos parceiros de forma ativa para propor ideias e tentar melhorar o serviço”, afirmou. E acrescentou que está a ser feito trabalho com o Ministério da Administração Interna e com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) que está a produzir “resultados muito tangíveis durante as últimas semanas”, com uma “melhoria notável no tempo de espera no controlo de fronteiras desde 18 de junho”.

Lembrando que a época de verão é sempre mais complicada para os aeroportos, o gestor acrescentou ainda outro problema que se prende com o facto de se ter passado da situação em que todos os aviões estavam no chão para uma retoma mais dinâmica.

No ano passado, disse Thierry Ligonnière, “tínhamos menos 40% do tráfego e agora estamos a um nível próximo e até acima de 2019”, um valor que está acima das projeções de retoma. Mas, mesmo com essa retoma, os atores do transporte aéreo que cortaram os efetivos durante a crise, o que prejudicou.

Culpa é das companhias? Assumidos os problemas no aeroporto, o presidente executivo da ANA lembrou que “as dificuldades que temos observado no aeroporto de Lisboa, elas não têm a ver com a natureza da infraestrutura, ou seja com a questão do controlo de fronteiras ou o número de postos instalados”.

E acrescentou: “Há cancelamentos que têm a ver com a organização de recursos das companhias aéreas”, disse.
E se há falta de trabalhadores, a ANA sai desta equação. “A ANA não despediu absolutamente ninguém. A ANA tem um efetivo de 1100 trabalhadores, o que é, mais coisa menos coisa, o mesmo efetivo de 2019”, destacou o responsável. 

Mas a pergunta para a qual todos querem resposta é quando vão terminar estes constrangimentos no aeroporto. Não se sabe. “Não posso dizer até quando os cancelamentos vão acontecer. Isso cabe às companhias aéreas”, disse, acrescentando que os cancelamentos dos voos não são a única dificuldade que se vive no aeroporto. Juntam-se algumas dificuldades na recuperação de bagagens.

Mas garantiu que a ANA está a ajudar como pode. “O nosso papel é mitigar as situações, acompanhar os passageiros, dar água”, lembrando que foram contratadas 50 pessoas para este apoio logístico. 

Os cancelamentos são, no entanto, transversais a vários aeroportos mundiais. A título de exemplo, os aeroportos dos EUA registaram mais de 1500 voos cancelados durante feriado da Independência.

“Não cabe à ANA tomar decisões sobre aeroportos” Quem também esteve no Parlamento a falar sobre o aeroporto foi o presidente do Conselho de Administração da ANA, José Luís Arnaut, que defendeu que cabe ao Governo decidir a localização do novo aeroporto e não à ANA. Ainda assim, prometeu estar disponível para colaborar para que a escolha “seja a melhor para o país”.

Numa altura em que a solução para o aeroporto de Lisboa ainda não está 100% definida – principalmente depois de mais uma polémica do Governo – José Luís Arnaut foi perentório: “Eu sei que Portugal é o país de especialistas de aeroportos, todos são especialistas de aeroportos, eu acho que muitos deles não fizeram aeroportos nem de legos, portanto, é um desporto nacional”, atirou, acrescentando que a empresa tem opiniões sobre a matéria mas que apenas dará o seu parecer “no momento próprio”.

“Neste momento não há nenhuma decisão, está tudo por decidir. Decidam e depois chamem-nos cá [à Assembleia da República]”, garantiu. 

O pior aeroporto do mundo Um dos assuntos de que se tem falado é o facto de o Aeroporto de Lisboa ter sido eleito o pior aeroporto do mundo por um estudo da alemã AirHelp, um site de defesa de passageiros. O do Porto ocupa o oitavo lugar. No entanto, Arnaut disse apenas que atualmente se vive “um momento bastante difícil e complexo a nível europeu e também nos Estados Unidos”, que são problemas “em toda a aviação” que causam “grande agitação no setor”. E acrescentou: “Há um conjunto de medidas, planos de contingência, há um conjunto de preparações que foram feitas para tentarmos ultrapassar esta situação”, afirmou.

Já Thierry Ligonnière foi mais longe. “A avaliação da AirHelp não é objetiva”, começou por defender o responsável, garantindo que esta empresa não é uma “entidade independente” nem “referência no setor”. 

Por isso, defende que a classificação se trata de “ uma montagem sobre os resultados da qualidade dos serviços [dos aeroportos do Porto e de Lisboa], realizada por uma empresa comercial que se alimenta de indemnizações recuperadas com as companhias aéreas, por conta de passageiros que viram os seus voos atrasados ou cancelados”.
E foi mais longe acusando a AirHelp de ter encontrado neste estudo “uma forma barata e recorrente de ganhar notoriedade num país onde quer desenvolver os seus negócios”, a custo da reputação da ANA. E, para isso, usou “dados desatualizados” e critérios “pouco claros”.

Recorde-se que esta audição, requerimento do PSD, tinha como tema a classificação da AirHelp, que diz que o Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, surge na 132.ª posição, com uma avaliação geral de 5.76 em 10 pontos, entre os 132 aeroportos avaliados, ou seja, em último lugar.