País em alerta vermelho. Do verão normal para o período anormal

IPMA decretou aviso vermelho, o mais elevado na escala de alerta. Esperava-se que temperaturas começassem a subir de madrugada, superando até as registadas ontem.

Vários distritos estão oficialmente sob aviso vermelho no que toca às condições meteorológicas, o nível mais grave na escala de alertas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que só tinha sido decretado por duas vezes em 2017, em junho e em dezembro, quando o país foi assolado pela tempestade Ana. O período de calor extremo, marcado por uma subida rápida e acentuada das temperaturas, que estava previsto iniciar-se esta madrugada, o foi considerado pelo IPMA um dos elementos anormais do episódio climatérico esperado esta semana, que levou o Governo a determinar, pela primeira vez, situação de contingência a título preventivo no que toca ao risco de grandes incêndios florestais. “Haverá locais onde agora estarão 2526 graus e de noite podem andar nos 30 graus, por exemplo no litoral Norte”, explicava ontem a Luso Meteo, uma das páginas amadoras de meteorologia com mais seguidores no país e que vai fazendo atualizações diárias das previsões.

Na maioria dos distritos, e de acordo com os dados oficiais do IPMA, à exceção do Algarve, são esperadas hoje máximas a rondar os 40ºC, com as temperaturas a agravarem-se na quarta e na quinta-feira, onde não está descartado que venha a ser superado o extremo máximo registado em 2003 na Amareleja, de 47,3ºC. Tomar é uma das cidades para onde estão previstas as temperaturas mais elevadas, que vão sendo ajustadas ao longo dos dias. Depois de já terem estado previstos 47ºC de máxima para quinta-feira, ontem a previsão era de 46ºC.

Trovoadas secas e vento tornam cenário complexo A probabilidade de haver trovoadas secas e o vento forte tornam o cenário mais complexo no que toca ao risco de incêndio, com uma sucessão de alertas gravosos por parte do Governo e da Proteção Civil. 

“Não há memória de um período recente tão complexo. Afastem-se dos espaços rurais”, disse ontem a secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, que ficou conhecida do grande público precisamente nos incêndios de 2017, quando era 2ª comandante e porta-voz da Proteção Civil.

Ontem ao final do dia a situação, depois de um dia mais normal de verão pese o vento intenso, era mais calma do que no domingo, com 1600 homens no combate aos incêndios quando no dia anterior eram mais de 2 mil. Foi dominado o incêndio de Ourém, que lavrava desde a semana passada e obrigou a assistir várias dezenas de pessoas, mas a preocupação com reacendimentos estava em cima da mesa. André Fernandes, comandante nacional de Emergência e Proteção Civil, admitiu que não podiam ser descartadas “reativações violentas”. Segundo os registos do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, que o i analisou, nas últimas duas décadas os reacendimentos foram a causa de 6% dos fogos no país, entre os que foram investigados. No período entre 2001 e 2021, 53% dos incêndios não foram investigados, 16% tiveram origem desconhecida, 15% negligência, 9% causa intencional e apenas 0,3% foram associados a causas naturais, como trovoadas.

Em conferência de imprensa, André Fernandes chamou de novo a atenção para o cenário inédito dos próximos dias. “Cerca de 80% do país vai estar em risco excecional”, afirmou. “São valores nunca registados e que merecem apoio de todos com adequação de comportamentos face à situação”.