Ucrânia quer construir exército de “milhões” para o contra-ataque

Zelensky deu ordens aos seus generais nesse sentido, pouco após os primeiros recrutas chegarem ao Reino Unido para ser treinados. Há sinais de que os russos estão com dificuldades no sul.

O Governo da Ucrânia não faz tenção de ceder território à Rússia. E Volodymyr Zelenskiy até já pediu aos seus generais para avançarem com planos para a expansão das forças armadas, de maneira a que cheguem aos “milhões” de combatentes, equipados com o armamento que vai chegando à Ucrânia vindo da NATO, de maneira a retomar as regiões costeiras do Mar Negro, anunciou o ministério da Defesa ucraniano, na segunda-feira. Após a perda do que sobrava de Lugansk, com a queda de Severodonetsk e Lysychansk, as forças de Kiev tentam ganhar algum ímpeto, prometendo avançar nos arredores de Kherson e Zaporizhzhia. Enquanto o Kremlin descansa as suas tropas e vai bombardeiando a região de Donetsk, lançando ataques exploratórios em Sloviansk.

No entanto, para que o Governo Kiev consiga avançar com os seus planos, o apoio militar do Ocidente tem de ser “mais rápido”, apelou Oleksii Reznikov, ministro da Defesa ucraniano, em entrevista com o jornal britânico Times, mostrando-se confiante que, com esse auxílio do Ocidente, seja possível retomar o território perdido. “A Ucrânia tinha forças armadas da era soviética com armas de trinta anos”, lembrou Reznikov. “Mudamos isso em três meses”. 

O ministro da Defesa ucraniano também teceu rasgados elogios ao Governo do Reino Unido que, este domingo, recebeu centenas de recrutas vindos da Ucrânia, tendo-se comprometido em treinar 10 mil militares ucranianos no uso de AK-47, a arma que mais provavelmente encontrarão no campo de batalha, bem como a prestar cuidados médicos de emergência e em táticas de patrulha.

Reznikov ainda recordou o papel crucial do Governo britânico, um dos mais próximos aliados da Ucrânia, na mudança de abordagem da NATO, que passou a fornecer artilharia pesada, plataformas de disparo de mísseis de longo alcance e drones. Em vez de apenas se focar em lança-mísseis portáteis, como se viu no início da invasão. 

Ainda assim, por agora, as forças russas continuam na mó de cima. Apesar de armamento como os M142 Himars – baterias de mísseis de longo alcance americanos – já ter chegado ao campo de batalha, permitindo aos ucranianos atingir com precisão a retaguarda dos invasores, estes mantêm uma vantagem de mais ou menos oito para um em termos de artilharia, admitiu na segunda-feira Damien Magrou, o porta-voz da Legião Internacional  da Ucrânia, a unidade onde são colocados voluntários estrangeiros.

Contra-ataque Dias após as autoridades da Ucrânia apelarem à evacuação dos oblast – uma divisão administrativa equivalente aos nossos distritos – de Kherson e Zaporizhzhia, para abrir caminho a um contra-ataque ucraniano, as forças russas responderam artilharia, mísseis e bombardeamentos aéreos.

A perspetiva do Governo de Kiev seria aproveitar a concentração dos militares russos no leste, no Donbass, para recuperar território no sul. Esta região virou o centro de uma insurgência ucraniana, com elementos das secretas e guerrilheiros locais a cometerem assassinatos e atos de sabotagem.

A resposta russa só reforçou a ideia que o Kremlin está com dificuldade no sul, tendo até recorrido a mísseis S-300 nos seus bombardeamentos. Algo extremamente ineficiente, dado estes pequenos mísseis serem ideais para atingir aeronaves, não alvos terrestres. Isso “pode indicar que a Rússia está a ficar sem mísseis terra-a-terra, ou que está a ficar sem as peças necessárias para os sistemas de guia de mísseis”, apontou o mais recente relatório do Institute for the Study of War.