Provas de aferição. Alunos do 9º ano chumbam a matemática

Provas voltaram a ser feitas este ano a português e matemática, sem contar para as notas, e resultados estão piores. “Era expectável”, diz dirigente escolar, sublinhando que o modelo e timing da realização, em cima dos Santos Populares, contribuiu para o desinteresse dos alunos. 

Os resultados da 1ª fase das provas finais do 9.º ano mostraram uma quebra do desempenho dos estudantes após dois anos de pandemia, o que já tinha sido visível no ano passado nos exames do secundário. São agora conhecidos os resultados das provas finais do 3.º Ciclo do Ensino Básico, que estiveram suspensas nos últimos anos e que foram retomadas este ano embora sem peso nas notas, assinalou ontem o Ministério da Educação, salientando que estas provas “assumem especial importância na medida em que têm como objetivo primo informar e sustentar intervenções pedagógicas”. 

A prova de matemática voltou a registar média negativa a nível nacional – com 45 pontos em 100. Em 2019, o último ano em que se tinham realizado estas provas, a matemática tinha saído do terreno do chumbo, com uma média de 55% na classificação do alunos. Agora o resultado foi pior do que em 2018, quando a média dos estudantes do nono ano era de 47%. Já a português a média foi positiva mas por pouco, com 55% de classificação média a nível nacional. Em 2019, os resultados já estavam a cair face ao ano anterior, mas eram superiores, com 60% de classificação média a nível nacional.

Questionado ontem pelo i, o Ministério da Educação não comentou os resultados em concreto. No comunicado em que os divulgou, salientou que “a essência destas provas de aplicação nacional, alinhadas com o plano de recuperação das aprendizagens, permitirá gerar informação quer para cada uma das escolas, quer para o sistema educativo, muito particularmente, para a possibilidade de retoma de séries estatísticas excecionalmente interrompidas”.

Ao todo, 1200 escolas realizaram as provas, num total de 184 462 exames, que além de Português e Matemática incluem ainda provas de Português Língua Segunda e Português Língua Não Materna.

“Era mais do que expectável” Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Diretores Escolares (ANDE), também diretor do Agrupamento de Escolas Serpa Pinto, em Cinfães, considera que a derrapagem nos resultados era “mais do que expectável” e critica o modelo e timing das provas, que tiveram lugar no final de junho e não contam para a classificação final na disciplina. “Falo até pelo que vivemos na minha escola. Foi extremamente difícil convencer os alunos a esforçarem-se para fazer a prova. Os bons alunos aplicaram-se, os mais fracos não fizeram o menor esforço e à primeira dificuldade simplesmente não responderam”, diz ao i Manuel Pereira, considerando que a realização das provas no final do ano, em cima das festas populares (a prova de matemática foi a 21 de junho e a prova de português no dia 23 de junho, véspera de São João), contribuiu para a desmobilização. “No fim do ano, em período de festas, queriam tudo menos estar fechados numa sala a fazer uma prova que só ia contar para as estatísticas da escola e do Ministério”. 

Ainda assim, confessa que os resultados são ainda piores do que esperava, com uma elevada percentagem de alunos com 1 por exemplo a matemática. “Ainda foi pior do que estava à espera. Se isto for um barómetro, então o ano foi péssimo”, sublinha o dirigente escolar, que defende que o modelo destas provas deve ser repensado, eventualmente feitas noutra altura do ano e não em final de ciclo. 

As notas dos exames do secundário do ano passado, conhecidas este fim de semana, já tinham mostrado uma descida. A média nacional dos alunos dos colégios foi de 12,7 valores e nas escolas públicas de 11,3 valores. Em 2019/2020, tinha sido respetivamente de 14,39 valores nos colégios e 12,89 valores nas escolas públicas.