O PSD a entrar em ordem e o setor da aviação em desordem

P.S. – As aulas de Cidadania têm sido alvo de múltiplas discussões, quer pelos seus conteúdos (alguns controversos), quer pela obrigatoriedade da sua frequência. Já era tempo de no Parlamento se discutir esta disciplina, os seus conteúdos e a utilidade na formação dos jovens. 

1. O Congresso do PSD terminou há uma semana e ainda soam os ecos da união do partido conseguida por Montenegro. Ao convidar personagens que estavam na sombra (como Rangel, Pinto Luz ou Hugo Soares) e trazendo um Moedas vencedor para a ribalta do partido, demonstrou ter a inteligência e subtileza necessárias para agregar um PSD que estava em cacos e descredibilizado como alternativa ao poder socialista. 

Foi claro nas mensagens, reposicionou o partido na área política de onde nunca deveria ter saído, demarcou-se da direita liberal (IL) e do Chega. Pelo caminho, ‘matou’ a regionalização e reforçou a descentralização. Montenegro deixou mensagens sobre a Saúde e a absoluta necessidade de se reverem os paradigmas ortodoxos de referência que muito contribuem para a organização caótica que Temido espera que se resolva por si e falar no custo de vida e apoios sociais a rever. A fiscalidade que asfixia a economia portuguesa e tolhe famílias e empresas não foi esquecida, a necessidade de reter a juventude e os talentos em Portugal foi igualmente mencionada bem como me pareceu de enorme clarividência a abordagem ao problema da demografia e envelhecimento populacional, ao propor a necessidade da atração da imigração. 

Num ponto convergiu com Costa, de tão evidente que Portugal tem de ter um papel relevante, embora sem especificar o como: na transição digital, energética e ambiental. Neste aspeto terá de ser criativo, até porque Costa (com António Costa Silva) introduziu no PRR múltiplas e avultadas verbas para a modernização da função pública e na recente cimeira da NATO assegurou que Portugal vai receber dois centros de inovação tecnológica na área da defesa, devendo iniciar as operações em 2023.

Regressando ao Congresso do PSD, lá que fez mossa no PS não há qualquer dúvida. Bastou ver a reação a quente de Carlos César que se apercebeu que o PSD ia deixar de ser aquele partido ‘fofinho e simpático’ que tinha permitido (ajudado) a maioria absoluta socialista e deu o mote para o que vão ser as ladainhas dos próximos tempos – Montenegro, um heterónimo de Passos Coelho! Inconscientemente, relançou o PSD como alternativa real e trouxe à ribalta um nome que mesmo depois da troika ganhou eleições. Montenegro devia ficar grato a este apoio inesperado à sua campanha… Do lado do Bloco e PCP, discurso em uníssono de que não há diferença entre o PSD e o (mesmo) PS que levaram ao colo durante 4 anos.

Dentro do PSD houve claramente quem ficasse amuado, particularmente Ribau Esteves e Ricardo Rio que deixaram transparecer a desilusão com o fecho das portas à regionalização, uma grande batalha destes autarcas que ficou pelo caminho. Rui Rio sentiu bem o peso da derrota que demonstrou pela forma desiludida e amarga como se exprimiu, mas a entrada em palco de Rui Moreira foi a estocada final na sua liderança. Finalmente, Paulo Mota Pinto, para mim injustamente substituído na liderança da bancada parlamentar por Miranda Sarmento, um autogolo desnecessário de Montenegro que tinha ganho o PSD de goleada. 

A parte mais fácil está feita. Agora, há que saber motivar e operacionalizar um partido na oposição com 4 longos anos pela frente. Será necessária muita resiliência, aliada a uma persistência sem limites. As recentes ajudas de Pedro Nuno Santos que tanto descredibilizaram o Governo (bem mais que a oposição) dificilmente se repetirão. 
Montenegro terá de ser incisivo e paciente, visível sem saturar, usar certeiramente a palavra como no Congresso, avançando com alternativas nas políticas económicas e sociais para os portugueses saberem que este socialismo empobrecedor da sociedade não é uma inevitabilidade, o SNS tem solução, a fiscalidade não é uma ‘cruz às costas’, a educação não tem que ser facilitista e pertença da esquerda dogmática e, sobretudo, relançar a esperança de que a economia pode crescer, em termos reais, até como forma de diminuir a dívida pública que tolhe o nosso futuro. 

2. O caos no aeroporto de Lisboa (como de outros aeroportos europeus) que se tem verificado nestes últimos dias tem um nome: gestão, ou melhor, a falta dela. Não se trata da TAP em particular, mas de todo um universo das empresas de aviação, desde as entidades gestoras dos aeroportos, às empresas de handling e catering e, obviamente também às companhias de aviação. Incapazes de prever uma retoma tão acelerada da procura, todos gerem com manifestos receios os seus ativos, nomeadamente os recursos humanos, inesperadamente escassos para dar resposta a este problema.

Depois, temos o tema gravíssimo da forma como tratam os passageiros que ficam ‘em terra’ e que as televisões exploram até ao tutano na busca de audiências. Quanto mais escabrosa ou pitoresca é a descrição da desgraça alheia mais a mesma é repetida nos telejornais até à exaustão, até porque não é difícil captar estas situações porque são exatamente os ‘pendurados’ que se arrastam por intermináveis horas ou dias nas filas das companhias aéreas, em particular da TAP, dado o hub de Lisboa.

Mas realmente o boom da procura terá sido tão inesperado assim? Ou realmente o que sucedeu é que as empresas do setor (todas!) tinham cortado ‘as unhas bem rentes’ nos anos da pandemia e ficaram incapazes de reagir porque agora precisam de tempo? Sobra a pergunta da qual infelizmente a resposta não será nada agradável nem abonatória para os gestores: gerir é apenas reagir aos acontecimentos (’navegando à vista’) ou deveria haver uma componente essencial de antecipação das necessidades futuras?

P.S. – As aulas de Cidadania têm sido alvo de múltiplas discussões, quer pelos seus conteúdos (alguns controversos), quer pela obrigatoriedade da sua frequência. Já era tempo de no Parlamento se discutir esta disciplina, os seus conteúdos e a utilidade na formação dos jovens. Nos entretantos, sobra a disputa de um casal que recusa a sua frequência pelos seus filhos, com o Ministério da Educação a sentenciar de forma surreal que os referidos alunos ‘chumbam’ se a recusa persistir. No meio disto há algo que não compreendo: o Ministério Público quer transferir a responsabilidade educacional dos pais destes miúdos para a Escola, ‘durante o período escolar’? Estaremos ao nível da antiga União Soviética ou da nossa antiga Mocidade Portuguesa? Bom senso, precisa-se!