Um almirante com uma brisa presidencial

Porque será que a China continua a apostar na política de ‘covid zero?’ Será que perdem dinheiro de propósito?

Para nós, a covid já se assemelha a uma constipação ligeira e parece uma coisa completamente inofensiva. Quem não conhece alguém que tenha estado infetado nas últimas semanas e que fez a sua vida praticamente igual, se esquecermos o confinamento obrigatório? Apesar de continuar a matar muitos idosos, a covid praticamente não assusta e é aí que me interrogo. Porque será que os chineses continuam a apostar na ‘tolerância zero’ e fecham cidades de milhões de habitantes? Porque será que em Hong Kong, o território mais rebelde da grande China, as pessoas que estão positivas ou estiveram perto de alguém infetado são obrigadas a andar com uma pulseira que os identifica? Porque será que podem ser presos ou pagar uma multa se não cumprirem o confinamento? Se a covid é tão inofensiva como agora acreditamos, qual a razão para os chineses não pensarem da mesma forma? E qual a razão para prejudicarem a economia em detrimento da covid?

Com os incêndios tudo desapareceu do radar de informação, parecendo que as pessoas só querem agora saber de fogos. As urgências hospitalares continuam a estar fechadas, mas agora as atenções centram-se todas nos fogos. Calculo que António Costa seja um homem tranquilo, pois com o foco todo nos incêndios ninguém se lembra de falar nos problemas médicos, no forrobodó do aeroporto e do seu ministro rebelde, ou no aumento do custo de vida à boleia da guerra da Ucrânia, etc.

Mudando de assunto, a primeira sondagem sobre as presidenciais, publicada no Negócios, dá o almirante Gouveia e Melo largamente à frente de Paulo Portas e Marques Mendes. Por muito que se diga, não deixa de ser uma grande surpresa, embora os críticos do almirante achem que se trata de um balão cheio de coisa nenhuma e que até à data das eleições se irá esvaziar. É possível que sim, mas o Chefe de Estado Maior da Armada não ficará, seguramente, indiferente a este estudo de mercado. Uma sondagem vale o que vale e a esta distância ainda mais subjetiva é. Mas que o almirante deve estar a sentir uma brisa pelas costas, lá isso está. Se será uma vaga de fundo ou uma brisa, logo veremos. Eu sou daqueles que acredita que o almirante quer ser candidato, e não é por acaso que dá umas bicadas indiretas no Presidente da República. É só ler a entrevista que deu ao Observador para se perceber isso. Muita água correrá por baixo das pontes, mas se não fossem os incêndios seguramente que se daria muito mais gás a esta sondagem.

Um estudo das Nações Unidas conclui que em novembro deste ano a população mundial deverá chegar aos oito mil milhões de habitantes, sendo que a Índia ultrapassará a China em população. A pergunta que se faz é como é que haverá terra para tanta gente? Não virá uma guerra a caminho para diminuir a população?

É impressionante como a Europa começa a ser ‘pressionada’ pelos outros continentes, onde nascem crianças como cogumelos, enquanto o velho continente está precisamente cada vez mais velho. Daqui a dois séculos a população europeia deverá ser quase uma raridade, logo uma minoria que será preciso defender. Mas isso é algo em que não poderemos fazer nada, pois não estaremos cá há muito tempo. Haverá quem esteja nervoso com essa hipótese e há quem se esteja a borrifar, pois é uma consequência natural dos estilos de vida. Se não nos reproduzimos, não podemos impedir que os outros o façam. É a vida. 

vitor.rainho@sol.pt