Os ‘rankings’ e o pelourinho…

Por muito que o ministro João Costa queira desvalorizar os resultados, a realidade é que os alunos das privadas alcançam médias superiores nas notas de exame.

Ano após ano, quando é divulgado o ‘ranking’ das escolas, o ‘filme’ repete-se: as públicas aparecem invariavelmente classificadas longe das melhores, em comparação com as privadas, numa espécie de fatalidade cíclica.

Ano após ano também, em resposta a este estado de coisas, o eterno líder da Fenprof, Mário Nogueira, repete a ladainha do costume contra os ‘rankings’, enquanto o ministro João Costa – depois de ser a ‘sombra – do antecessor na pasta – critica abertamente os mesmos ‘rankings’, por serem, na sua douta opinião, «meras hierarquizações de escolas». Para ambos, os ‘rankings’ merecem o pelourinho.

Valham o que valerem os ‘rankings’ – e valem muito como espelho de uma situação –, o certo é que, desta vez, não há nenhuma escola pública entre as trinta primeiras, e apenas três em 40 classificadas, mesmo tendo em conta algumas variações de critério nas tabelas publicadas.

Por muito que o ministro João Costa queira desvalorizar os resultados, a realidade é que os alunos das privadas alcançam médias superiores nas notas de exame.

Confrontados com estes factos, não é de estranhar que aumente o número de pais insatisfeitos, que preferem fazer sacrifícios para inscrever os filhos em escolas privadas.

Claro que o ministro não desarma e ainda lhe ocorre dizer que o trabalho das escolas precisa de ser aferido por uma outra bitola, que permita «um bom retrato, mais rico e mais denso», para «não saltar para conclusões fáceis».

 

O problema das conclusões é que estas são ‘fáceis’, quando se sabe que o ano letivo num estabelecimento público está pontuado por uma soberana instabilidade, com greves e falta de professores, afetando o trabalho da comunidade escolar.

Adicionalmente, e com a cobertura de João Costa, surgem casos como o dos dois irmãos, alunos de excelência em Famalicão, que andam metidos em sarilhos por não terem frequentado a disciplina (estranhamente obrigatória) de Cidadania e Desenvolvimento, proibidos pelos pais, que reclamam o direito a educar os filhos.

A polémica ganhou recentemente um novo impulso, com o inacreditável despacho do Ministério Público de Famalicão, ao pretender atribuir à escola a tutela desses alunos, ‘subtraindo-os’ à responsabilidade dos pais durante o ano letivo, algo absolutamente inconcebível num Estado não totalitário.

Como escreveu, a propósito, António Barreto, «esta lei e o seu conteúdo constituem puro contrabando ideológico».

Valeu a sensata decisão do juiz ao adiar a sessão do Tribunal, para esvaziar as tensões que ameaçavam subir de tom, perante o despacho do MP.

Recorde-se que toda esta controvérsia não é estranha a João Costa, que, ainda secretário de Estado, acusou os pais dos alunos na TVI de «utilizarem os filhos numa campanha ideológica», o que justamente os indignou.

Inconformados com estas declarações, os visados dirigiram uma carta aberta ao Presidente da República, na qual repudiavam o comportamento do governante, pedindo a sua demissão.

Tanto a carta como o abaixo assinado que a secundou, e que juntou uma centena de personalidades, entre elas quais Cavaco Silva e Passos Coelho – em defesa do direito à objeção de consciência de pais que não queiram filhos nas aulas de Educação para a Cidadania – ficaram em ‘águas de bacalhau’.

Em contrapartida, o ‘ajudante’ foi promovido a ministro, enquanto o MP se espalhou num despacho kafkiano, que merece não poucas reservas e interrogações.

Este folhetim nada aconselhável, que dura desde 2018, e que tem oposto, corajosamente, a família Mesquita Guimarães à prepotência do Estado, suscita, pelo menos, três reflexões de fundo.

A primeira, e a mais óbvia, é a competência dos pais na orientação dos seus filhos, não cabendo ao Estado substitui-los para impor a frequência de uma disciplina, mais do que discutível, inquinada por ativismos iluminados.

A segunda, tem a ver com a própria natureza da disciplina, que, à semelhança da Religião e Moral de antigamente, deveria ser opcional, podendo os pais requerer a dispensa dos filhos da sua frequência.

A terceira questão, respeita às contradições do próprio Ministério da Educação, tão aberto ao facilitismo – quer eliminando exames em diferentes graus de ensino, quer instalando uma cultura antiretenção –, e, em contrapartida, tão cioso da disciplina de Cidadania, ao ponto de querer chumbar os alunos de Famalicão por faltas (o que a matrícula condicional só reforça).

Há uma nova dialética e uma nova bandeira à volta da chamada ideologia do género, que estão a contaminar a sociedade, patrocinadas por lóbis de esquerda radical, e envolvendo escolas, universidades e media.

Por isso, também, os ‘rankings’ das escolas são mal-amados pelos transitórios ‘donos do poder’, porque ilustram eloquentemente onde falha o ensino público e onde prevalecem a profissão e a vontade de ensinar. E de aprender.