A ‘polémica’ da Feira Popular de Lisboa

É espantoso que o PS defenda agora aquilo que devia ter cumprido mas que foi manifestamente incapaz.

Recentemente, algumas vozes se insurgiram pelo facto de Carlos Moedas ter anunciado não prosseguir com a intenção de criar uma feira popular em Carnide. A única surpresa foi que as ditas vozes foram precisamente aquelas que prometeram a Feira Popular mas que não cumpriram a promessa apesar de, anos a fio, terem anunciado que ‘para o ano é que é’.

Quanto à posição do atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa sobre a Feira Popular, não há razão para qualquer surpresa. Ou melhor, esta suposta admiração cumpre apenas o papel de uma oposição que se opõe a tudo o que Moedas apresenta. No caso, o espanto do PS é perante a concretização de uma promessa eleitoral de Carlos Moedas que, no seu programa de candidatura, inscreveu que no lugar da prometida (e não concretizada) Feira Popular implantaria um grande parque urbano destinado ao lazer e atividades desportivas.

A história da nova Feira Popular de Lisboa é longa. Depois de ter sido encerrada na última localização – Entrecampos –, em 2003, muitas foram as hipóteses de nova implantação: Parque de Monsanto, Parque da Belavista, Parque das Nações, a Zona Ribeirinha ou, mais recentemente, Carnide.

Em 2015 a Câmara Municipal de Lisboa, presidida por Fernando Medina, anuncia a intenção de reconstruir a Feira Popular num parque urbano a criar em Carnide. A expectativa era que estivesse em funcionamento em 2020.

Foi apresentado um plano ambicioso para a nova Feira Popular com um estudo de viabilidade económica, um parque urbano foi desenhado, tendo sido constituída uma comissão de acompanhamento.

Sucede que nada se concretizou. A comissão de acompanhamento reuniu apenas duas vezes (em 2015 e 2017), o parque urbano foi prometido inaugurar sucessivamente em 2018, 2019, 2020 e 2021 mas ainda não está concluído e o concurso para a exploração da Feira Popular nunca foi lançado. Ficaram apenas promessas não cumpridas, obras por terminar e milhões de euros gastos.

É notável que o PS na Câmara Municipal pretenda encontrar um caso perante o cumprimento de uma promessa de Carlos Moedas assumida em campanha de abandonar a construção da Feira Popular em Carnide e querer construir um grande parque verde destinado ao lazer e à prática desportiva. É espantoso que o PS defenda agora aquilo que devia ter cumprido mas que foi manifestamente incapaz.

A Feira Popular ocupa a memória de muitos lisboetas. As diversões como a montanha russa, os carrosséis, os carrinhos de choque, a casa maldita ou o poço da morte, as jantaradas de fim de ano das escolas ou em família e as farturas ou o algodão doce são parte das recordações.

Muitos anos passaram e a oferta e o modo de convívio e diversão alteraram-se substancialmente. A questão é se faz sentido recriar o mesmo modelo (com décadas) ou, até, se um parque de diversões cabe ainda dentro da cidade. E também, se não deveria ter um modelo diferente, por exemplo, um parque temático. O que faz sentido é ponderar a existência de um parque de diversões com uma escala metropolitana, articulado no seio da Área Metropolitana de Lisboa e sem ser dentro da cidade. A questão prévia é decidir se será uma prioridade.

Em qualquer caso, o que é notável é criticar Carlos Moedas em relação à construção da Feira Popular em Carnide, quando este se limitou a repetir a sua intenção claramente afirmada no seu programa eleitoral que foi sufragado pelos lisboetas. A promessa é implantar um parque destinado ao lazer e ao desporto em Carnide. Essa é a concretização que deve ser exigida.