Ponham radares, lombas, desloquem o estacionamento para silos, tudo em nome da segurança de todos. Só que prevenir acidentes não implica entrada imediata de dinheiro. Para isso existem os radares nas referidas avenidas que são as slot machines do Estado.
Os números falam por si: 5 milhões em multas de trânsito num único mês, só em Lisboa. Se aos 41 radares que começaram a funcionar em junho juntarmos os radares móveis da PSP e da Polícia Municipal, percebemos facilmente que estamos perante um verdadeiro maná para o Governo, Câmara de Lisboa e demais entidades que lucram com esta caça à multa. E o mais espantoso é que ninguém protesta e todos aceitam alegremente este roubo. E explica-se facilmente a desonestidade de quem pactua com esta burla.
Estando de férias a Sul, percorri a A22, vulgo Via do Infante, onde se pode andar até aos 120km/hora, sendo que alguns troços são muito menos seguros do que as ‘autoestradas’ urbanas da capital, como são o caso da Avenida Marechal Gomes da Costa e da Avenida Lusíada, onde o limite máximo, por vezes, é 50km/hora. Como é sabido, nas referidas avenidas não há atravessamento de peões, logo não existe o perigo de atropelamentos. E também é fácil de constatar, basta ir às estatísticas, que não é nessas artérias que se dão os acidentes com vítimas mortais. Mas para se perceber melhor o roubo, veja-se o que se passa quando se deixa a Via do Infante e se entra na Estrada Nacional que vai para Tavira. Existindo uma faixa de trânsito em cada sentido, o limite máximo é de 90km/hora. E nesta estrada nacional há o perigo dos choques frontais, mas nem por isso se deixa de poder andar a 90km/hora, até porque o trânsito se tornaria caótico.
Não faltam exemplos de como a maioria dos radares de Lisboa são um assalto à mão desarmada. Que imponham limites rígidos dentro das localidades dos bairros históricos e das zonas comerciais, como é o exemplo do Chiado, é consensual. Ponham radares, lombas, desloquem o estacionamento para silos, tudo em nome da segurança de todos. Só que prevenir acidentes não implica entrada imediata de dinheiro. Para isso existem os radares nas referidas avenidas que são as slot machines do Estado.
Enquanto isso, a anarquia das trotinetes e das bicicletas continua a fazer as suas vítimas em bairros habitacionais e não só: normalmente idosos que não conseguem fugir do passeio onde esses aceleras fazem estragos.
P.S. 1 – O Algarve que frequento há muitos anos continua um verdadeiro paraíso. Praias desertas, basta andar 200 metros para ter o vizinho mais próximo a uma distância razoável, uma água quente, um peixe e marisco maravilhosos, e, claro, o mercado de Olhão para visitar. Mesmo destruindo a tradição como é o caso dos berbigões e ameijoas cujos clientes confecionavam numa frigideira de alumínio em cima de um petromax num dos cafés mais castiços de Olhão, o ‘meu’ Algarve resiste a quase tudo. Mas quanto mais o frequento menos entendo o poder local. Como é possível tantas localidades parecerem um estaleiro a céu aberto em meados de julho? Será que não foi possível fazer as obras no inverno que foi muito rigoroso como todos sabemos e que chovia torrencialmente todos os dias e noites. Ou é sinal de que os novos autarcas que entraram em funções no final de 2021 não tiveram tempo de adjudicar as obras mais cedo?
P.S. 2 – Augusto Santos Silva ainda não percebeu que é presidente da Assembleia da República e não líder da bancada parlamentar de um qualquer partido. Talvez pense que a presidência com os seus vices, formam um grupo parlamentar, mas não. O antigo socrático é o presidente da AR, e, como tal, não é ator na casa da democracia. É árbitro e, como sabemos, não lhe compete fazer discursos ou ameaçar opositores. Por mais disparados que sejam os argumentos dos deputados.
A propósito, foi aprovado, e bem, o regime especial para a zona da CPLP. Calculo que essa grande democracia que dá pelo nome de Guiné Equatorial também esteja abrangida. Mas será que o Executivo de Costa conseguiu a reciprocidade com estes países?
vitor.rainho@nascerdosol.pt