Os rankings que interessam aos alunos e a Portugal

Quem de facto é chumbado nos rankings escolares não são os alunos e os professores, mas sim o Estado português e o seu modelo de gestão.

por João Cerqueira

Soltam-se fúrias e indignações sempre que sai um novo ranking das escolas portuguesas. O desplante das escolas privadas obterem melhor classificação do que as públicas não aceitável num regime democrático. Os diretores das escolas privadas deveriam ser mais responsáveis. O Estado não pode passar pela vergonha de não saber educar os jovens portugueses. Porque, quem de facto é chumbado nos rankings escolares não são os alunos e os professores, mas sim o Estado português e o seu modelo de gestão.

Isto, sim, é um problema estrutural sem solução.

O principal chumbado, o ministro da Educação, afirmou que não reconhece nos rankings a capacidade de avaliar a qualidade das escolas, contrapondo mais de cinco dezenas de indicadores que, na sua opinião, valem muito mais do que as notas. Lembro-me de os cábulas do liceu que tiravam sistematicamente Mau nos  testes também não os reconhecerem como indicador das suas capacidades. Havia outros mais importantes, como saber jogar bilhar, engatar gajas e fumar às escondidas. De igual modo, o ministro também valoriza outros indicadores, como a equidade, que, segundo ele, «permite dizer que pobreza não é fatalismo».

Nesta linha de raciocínio, julgo que também devem ser tidas em consideração outras valências, estas informáticas, como a capacidade de os alunos descarregarem gratuitamente jogos e música da internet, assim como encontrarem pornografia que não contribua para o aquecimento global, promova o convívio entre as raças e respeite os direitos dos animais. Com este indicador, que deveria ser lecionado em Cidadania e Desenvolvimento, a distância entre alunos ricos e pobres vai decerto esbater-se. Jogos  com Pokémons e meninas a montar cavalos podem contribuir para uma sociedade igualitária e evitar a luta de classes.

No entanto, como não apenas na Educação, mas também noutros rankings, o Estado português obtém maus resultados e aparece mal classificado, é a altura de criarmos novos rankings onde possamos atingir as posições cimeiras.

Eis alguns deles:                 

O ranking dos países onde mais alunos fogem das cantinas escolares para comer alimentos proibidos no café ao lado.

O ranking onde mais governantes que defendem a escola pública colocam os filhos na privada.

O ranking onde há mais professores a enlouquecer por causa do seu trabalho.

O ranking onde a História menos respeita os direitos do homem e os valores democráticos.

O ranking onde a obra principal de literatura – Os Lusíadas – menos respeita as minorias étnicas e religiosas.

O ranking onde a segunda principal obra de literatura – Os Maias – mais promove o racismo e ofende as mulheres.

O ranking onde um ministro consegue trair o primeiro-ministro e continuar no cargo.

O ranking onde o primeiro-ministro é traído por um ministro, mas não tem coragem para o demitir.

O ranking onde mais cidadãos conseguem adoecer em agosto.

O ranking onde o Presidente da República se confunde, ora com um comentador político, ora com um animador de televisão.

O ranking onde desta vez vai ser tudo, tudo, tudo esclarecido.

O ranking onde há a maior ameaça de extrema-direita do mundo.

O ranking onde há mais gente a querer salvar o mundo nas redes sociais.

O ranking onde há mais gente a criticar o capitalismo dentro da FNAC.

O ranking onde há o maior número de múmias estalinistas e trotskistas.

O ranking onde nunca nenhum jornalista crítico do Governo foi pressionado ou saneado.

O ranking onde há mais  exigência nas nomeações de boys e girls para cargos públicos.

O ranking onde há mais transparência e rigor na atribuição de contratos públicos sem concurso.

O ranking onde há mais exigência na delapidação de dinheiros públicos em empresas falidas

O ranking onde há mais ciclovias do que bicicletas.

O ranking do país com mais generais e admiradores de Putin.

É provável que Portugal não consiga liderar todos estes rankings, nalguns poderá até  quedar-se apenas entre os cinco primeiros, mas, ainda assim, conseguiremos mostrar à Humanidade que somos os melhores do mundo em muita coisa.

O ministro da Educação tem toda a razão quando diz que «pobreza não é fatalismo». Tal como um aluno vindo de um meio desfavorecido que consegue progredir até ao doutoramento, Portugal, apesar de continuar pobre nos rankings da economia,  libertar-se-á desse estigma inventado pelos países nórdicos e atingirá lugares cimeiros em todos os rankings onde indicadores como riqueza, desenvolvimento e juízo não sejam tidos em conta.