Cardeal patriarca de Lisboa comenta caso de abuso ocultado: “marquei um encontro com a vítima”

Numa carta aberta, D. Manuel Clemente diz ser “importante ajudar a esclarecer” o que testemunhou num caso de abuso sexual que terá ocultado das autoridades judiciais e policiais.  

D. Manuel Clemente, o cardial patriarca de Lisboa, escreveu esta sexta-feira uma carta aberta na qual comenta a polémica dos abusos sexuais na igreja, frisando ser "importante ajudar a esclarecer o que na verdade" testemunhou num caso de abuso sexual que terá ocultado das autoridades judiciais e policiais, notícia avançada esta semana pelo jornal Observador. 

No texto, o cardial patriarca explica que "este caso e outros do conhecimento público e que foram tratados no passado, não correspondem aos padrões e recomendações que hoje" todos querem "ver implementados".

Segundo diz, o seu antecessor "acolheu e tratou o caso em questão tendo em conta as recomendações canónicas e civis da época e o diálogo com a família da vítima. O sacerdote foi afastado da paróquia onde estava e nomeado para servir numa capelania hospitalar".

"Uma vez patriarca, marquei um encontro com a vítima, encontro esse que foi adiado a pedido da mesma. Em 2019, regressado do Encontro dos Presidentes das Conferências Episcopais da Europa sobre o tema 'A proteção dos menores na Igreja' promovida pelo Santo Padre em Roma, sobre a temática dos abusos, pedi um novo encontro à vítima, com quem conversei presencialmente. A sua preocupação era a não haver uma repetição do caso, sem desejar de forma expressa, a sua divulgação", pode ainda ler-se na carta aberta, acrescentando que não entendeu e não entende hoje " ter estado perante uma renovada denúncia da feita em 1999", considera D. Manuel Clemente. "Se assim tivesse sido, a mesma teria sido remetida à Comissão Diocesana, criada por essa altura, e teriam sido cumpridos todos os procedimentos recomendados à data. Recordo que as regras e recomendações de 16 de julho de 2020 são posteriores."

No que diz respeito ao padre em questão, o cardeal patriarca adianta que "foi acompanhado", sendo que "até à atualidade nunca houve qualquer denúncia ou reparo sobre o seu comportamento moral".

"Nunca ninguém comunicou, nem sob anonimato, qualquer acusação. Aliás, as medidas cautelares previstas para estes casos visam sobretudo a proteção de possíveis futuras vítimas, o que pode estar acautelado, em especial quando, passados anos, nunca mais houve denúncias nem indícios", garante D. Manuel Clemente.

O cardial patriarca esclarece que "desde a primeira hora" deu "instruções" para que "a Tolerância Zero e a Transparência Total sejam regra conhecida de todos", aceitando que "este caso e outros do conhecimento público e que foram tratados no passado, não correspondem aos padrões e recomendações que hoje todos queremos ver implementados".

No final do texto, D. Manuel Clemente deixa um apelo: "Que ninguém tenha medo de denunciar. Nas Comissões Diocesanas, na Comissão Independente, na PGR, na PJ, aos media, onde e junto de quem se sentirem mais seguros".

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