“Foi tudo muito rápido”. Orcas afundam veleiro ao largo de Sines

Alerta foi dado ao início da madrugada de domingo. Navegador que estava próximo descreve ao i momento de pânico e pede mais  investigação.

Um veleiro abalroado por um grupo de orcas naufragou na madrugada de domingo perto de Sines, naquele que é o primeiro caso de afundamento por estes animais ao largo da costa portuguesa. O alerta foi dado pelas 00h03 quando a embarcação já estava a meter água, revelou ontem a Marinha Portuguesa, dando conta de que foi chamada uma embarcação de pesca que estava nas proximidades para socorrer os cinco tripulantes, que entretanto tinham saído do barco numa balsa salva-vidas.

Os cinco tripulantes, uma família de nacionalidade portuguesa, foram resgatados pela traineira “Festas André”, de Vila do Conde. Nuno Leónidas, arquiteto de profissão e navegador de recreio, que estava perto do local do ataque na noite de sábado – fazendo, tal como o veleiro que se afundou, a viagem para o Algarve pelo mar – descreve ao i momentos de pânico.

“Quando ouvimos o pedido de socorro, já estava a meter água. O homem estava em pânico, só dizia ‘mayday’. No meio daquela situação não lançaram os verylights de localização e houve um momento em que não sabíamos quem estava mais próximo, se havia pessoas na água e como podíamos ajudar. No espaço de 10 a 15 minutos foi ao fundo”, relata, descrevendo uma situação em que no meio do mar “está escuro como breu” e todos os que ouvem as comunicações tentam ajudar-se.

A preocupação com o crescendo de ataques de orcas a veleiros vem-se acentuando nos últimos dois anos não apenas na costa portuguesa, onde nos últimos dias já tinha havido um incidente na zona de Sesimbra, mas também na costa espanhola, onde dois veleiros foram abalroados no início da semana passada.

Nuno Leónidas não tem memória de um caso de afundamento e defende que o comportamento dos animais devia estar a ser mais estudado, para se perceber o que o motiva e como prevenir incidentes maiores, dando o exemplo de que para os golfinhos existem dispositivos para os afastar. Outra incompreensão prende-se com o conselho que tem estado a ser dado pelas autoridades, como o ontem reiterado pela Marinha: em caso de avistamento, desligar o motor.

 

“Não funciona”, diz navegador

“Da experiência que tem havido de colegas, e estamos permanentemente a partilhar informação, não funciona. Todos os que o fizeram ficaram sem leme”, diz Nuno Leódidas, sublinhando que a estratégia que tem “corrido melhor” tem sido pôr as máquinas em ré, a fazer marcha atrás, o que desvia para a proa da embarcação a espuma que parece atrair os animais. “Felizmente a atuação foi muito rápida e as autoridades são muito eficazes no salvamento, mas ninguém parece andar à procura dos porquês e as orientações que estão a ser dadas não funcionam”, alerta.

Para o navegador de recreio, falta investigação, considerando que, perante a maior frequência de ataques, é necessário estudar estes grupos de orcas juvenis, rastrear os animais e eventualmente colocar GPS nos líderes para que pudesse haver um alerta mais precoce  às embarcações, bem como perceber que manobras funcionam e não funcionam. Nuno Leónidas faz parte da comunidade de marinheiros que partilha informação num grupo de Facebook sobre ataques de orcas e diz que atualmente estão sinalizados grupos na Galiza, na costa portuguesa e no estreito de Gibraltar. “Felizmente não morreu ninguém, mas nada impede que isso possa acontecer”, lamenta, pedindo um esforço maior para garantir maior segurança no mar e recusando descrever estes incidentes como interações, como referem as autoridades. “Temos animais de cinco toneladas a embater contra uma embarcação de cinco toneladas e são situações que se repetem”, sublinha.