Esta democracia precisa de rejuvenescer, ou seja, de novas gentes!

Os ministros deste Governo com 7 anos têm em comum uma prática: quando há um problema, saltam imediatamente para a liça, dando aulas de marketing político e explicando pressurosamente as soluções paliativas que afinal têm na manga, mas que não puseram atempadamente em prática. 

1. Abrimos as TV’s e somos confrontados com reclamações nos mais variados setores da economia (já para não falar das greves). Sem pretender ser exaustivo, um dia, são os médicos e outros profissionais do SNS a reclamar justamente por melhores condições profissionais. Noutro dia, são os professores a clamar a necessidade de melhores salários pela falta de atratividade da profissão. Num terceiro dia, são os polícias a bramar que os riscos que correm são insuficientemente recompensados. Nos intervalos, ouvimos queixas pertinentes ao serviço do INEM, com pessoas a esperar uma hora ou mais por uma ambulância.

Em tudo isto, o que há em comum, para além da óbvia falta de dinheiro? Muito simples: falta planeamento, falta pensar estruturadamente, ou seja, a prazo. Os ministros deste Governo com 7 anos têm em comum uma prática: quando há um problema, saltam imediatamente para a liça, dando aulas de marketing político e explicando pressurosamente as soluções paliativas que afinal têm na manga, mas que não puseram atempadamente em prática. Passam nas TV’s uma imagem de enorme dinâmica na resolução dos problemas, sem ninguém perguntar: mas estas questões, estas alegadas faltas de pessoal e/ou de organização, não eram de há muito percecionadas por quem de direito? Porque não agiram?

As respostas são óbvias: não agiram porque não souberam planear. Vejamos alguns casos em concreto só para corroborar a minha ideia de que não há surpresas: (i) o tema dos médicos, de diversas especialidades como a obstetrícia, em que no verão vários hospitais não oferecem resposta – não era mais que previsível, há meses atrás, que poderia vir a haver um problema? (ii) os professores: sabe-se há muito que existiam (e existem) muitos professores à beira de se reformar – qual a surpresa de haver falta de professores, se pouco ou nada se faz para rejuvenescer a classe? (iii) a falta dos polícias que agora aconteceu, no Porto, não era mais que previsível há muito tempo atrás? Ninguém faz contas para as férias e necessidades de substituição? Será que o problema é a falta de agentes ou uma distribuição errada dos mesmos com demasiados a fazer trabalho administrativo nas esquadras em vez de policiamento nas ruas? (iv) as falhas ou respostas atrasadas do INEM até podem ser agravadas pela covid e calores deste Verão, mas não existe um planeamento a contar com estes ‘picos’ de procura?

A realidade é que, enquanto povo, somos pouco exigentes com os governantes, não cobrando as óbvias falhas que sentimos na pele. Portugal é, realmente, um país de brandos costumes. Os atuais políticos conhecem bem o povo, sobretudo o mais envelhecido que hoje tem forte peso eleitoral, avesso a mudanças dado o perfil etário. Sabem que as pessoas refilam, sabem que as pessoas se queixam, mas também sabem que bastam umas ‘balelas’, acompanhadas de umas promessas, de uns apoios e aumentos salariais, para uma larga maioria das pessoas não mudarem o sentido do voto nas urnas e perpetuarem o status quo. Outros, pura e simplesmente, agravam a descrença na política e nos políticos, sintoma bem mais grave de doença numa democracia. 

Com efeito, verificamos, desde há anos, as elevadas taxas de abstenção nas votações nacionais (e locais), muitas vezes a rondarem os 50%, o que me parece ser o reflexo da perda de credibilidade da classe política. Esta realidade insofismável não aparenta gerar grandes preocupações, nem sequer sentimos que algo se faz para atrair os eleitores às urnas. Curiosamente, na minha opinião, como reflexo da crescente saturação do povo aos políticos, quiçá mesmo uma certa rejeição, vemos emergir uma figura militar, como putativo candidato à Presidência da República, o Almirante Gouveia e Melo, com uma imagem de pessoa competente, desde o sucesso da vacinação da covid. Seja como for, este status quo precisa de ser alterado, porque claramente precisamos de maior competência nos lugares públicos.

Como? Pensando a prazo, atraindo novas gentes para a política e fomentando uma maior cultura de exigência por parte do povo. A primeira resolve-se, começando por se pagar melhor, por forma a quem acredite que vale a pena estar na causa pública sinta que não perde dinheiro todos os meses – porque de contrário, só virão aqueles que poucas alternativas terão ou os que vislumbram poder retirar outras vantagens dos lugares. A segunda, a que envolve a exigência de maior rigor por parte do povo aos seus políticos, é uma questão educacional que não se resolve com facilidade, mas à qual urge encontrar solução, dado que esta indiferença popular, de alguma forma um enviesamento às exigências de rigor, é terreno fértil para a capitalização de descontentamentos onde vão colher os populismos extremistas dos que querem explorar as tibiezas da democracia para construir ditaduras.

2. As contas nacionais do 1º semestre geraram um superavit de Eur 1.113 M. Segundo o Ministério das Finanças, as Contas do Estado melhoraram cerca de Eur 8.429 M face ao primeiro semestre de 2021. Muita coisa aconteceu para este resultado fantástico, mas a redução de medidas de combate à pandemia e o crescimento dos impostos – 28,1%, sobretudo do IVA (26,9%) como reflexo da inflação – muito explica.

Que fazer com este excedente? Uns argumentam que se devem devolver os impostos que os portugueses pagaram em excesso. Outros, é o meu caso, defendem que se deve abater a dívida pública, atualmente Eur 280,4 MM (maio 2022), perfeito garrote da economia portuguesa. Veremos o que Medina vai fazer.

P.S. – Uma palavra de agradecimento a Cristina Casalinho (sublinho que não a conheço pessoalmente) na hora da sua saída de Presidente do IGCP, cargo que ocupou durante cerca de uma década. Perfil discreto, um exemplo de gestão no planeamento a prazo, esforçando-se e conseguindo gerir da melhor forma quer as maturidades quer os encargos da elevadíssima dívida pública, aproveitando os apoios que o BCE nos concedeu.