Madrid: “Nesta cidade cabe o mundo inteiro”

O Nascer do Sol  foi até Madrid para tentar perceber quais as principais diferenças no custo e qualidade de vida dos espanhóis numa cidade que parece mover-se 24 horas por dia.

Referimo-nos a Espanha como nossa vizinha. Talvez até possamos dizer, pela sua história, que os países são meios irmãos, que na infância têm desavenças e que, com o passar do tempo, estreitam ligações. Aliás, há mesmo quem lá fora, erradamente, não faça distinção entre os dois países da Península Ibérica, uns por total ignorância, outros pelas semelhanças que neles vêm. Ambos latinos, grandes amantes de gastronomia, vinhos, música e convívio, a verdade é que são muitas as semelhanças. Calorosos, acessíveis, sensíveis, extrovertidos, bons anfitriões – é desta forma que muitos caracterizam tanto os portugueses como os espanhóis. A língua, parecida, dá a impressão de que conseguimos «arranhá-la», mesmo que a conjugação dos verbos não esteja correta, ou troquemos o masculino e o feminino. Oficialmente, é também essa a apresentação: segundo o portal do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Portugal e Espanha têm «um excelente relacionamento no plano político bilateral, marcado por um diálogo estruturado que abrange um significativo número de áreas», lê-se. «A proximidade de posições e a colaboração entre os Governos e Administrações é muito intensa, abarcando áreas tão distintas como o ambiente, interligações energéticas, infraestruturas, transportes, agricultura, pescas, economia, digital, ciência, educação, cultura, a par de matérias mais ligadas à soberania do Estado como a política externa, a cooperação policial e judicial e a segurança e defesa», acrescenta a página oficial do Governo. No entanto, se largarmos essa ideia romântica e, talvez, preconcebida, mais do que aquilo que nos une, é aquilo que nos separa. Começando pela dimensão territorial e populacional: Portugal possui apenas 92.212 quilómetros quadrados de extensão e uma população de, sensivelmente, 10,31 milhões de habitantes. Enquanto Espanha possui 505.99 quilómetros quadrados de extensão e 46,94 milhões de habitantes. Ou seja, quando se fala de território, Espanha é cinco vezes maior que Portugal e possui uma população quatro vezes maior.

 

Emprego e salários

Mas quais as principais diferenças no custo e qualidade de vida? E o que se sente hoje? Encontramo-nos na estação de San José de Valderas, a sete estações da estação de Atocha, uma das principais da capital espanhola. Estão cerca de 38 graus, valores que, em Portugal, não são tão frequentes (apesar das altas temperaturas que as terras lusas têm sofrido nos últimos meses). O vento, quando não é tímido é igualmente quente. Dentro da estação, ouve-se pouco barulho, mas é possível observar algumas pessoas que aguardam pelo comboio.

Veem-se senhoras de leques. Alguns homens, sentados nos bancos de espera, abanam os livros tentando diminuir o calor, outros, por outro lado, bufam em jeito de desabafo. O destino é o centro, onde, segundo Alice Marques – jovem portuguesa que vive atualmente em Espanha – «está o mundo inteiro». Atualmente com 24 anos, mudou-se da capital portuguesa para Madrid há cerca de dois, com o objetivo de iniciar uma vida com o seu namorado espanhol.

Formada em Ciências da Comunicação, a jovem trabalha agora no ramo imobiliário – emprego que «felizmente» conseguiu pouco tempo depois de chegar. «Tinha receio de não encontrar trabalho. Apesar de considerar que, já nessa altura, falava bem espanhol e estar habituada a passar aqui grandes temporadas, é sempre melhor quando se é fluente… Isso acaba por influenciar o momento da procura por emprego», começa por contar ao Nascer do Sol.

Segundo os dados divulgados pelo Eurostat no mês passado, a taxa de desemprego em Portugal está em linha com a média da União Europeia, tendo aumentado ligeiramente para 6,1% em maio, contra os 5,9% registados em abril deste ano. Já se a comparação for feita com maio de 2021, o desemprego recuou em território nacional (estava em 6,9%). Já as taxas de desemprego mais elevadas na UE encontram-se precisamente em Espanha, onde se fixou nos 13,1% (com uma descida face a abril). Mas, nem tudo é mau, pois quando o assunto é o salário mínimo e médio, Espanha está à frente de Portugal.

Apesar de não se ter mudado porque procurar melhores condições de vida, Alice admite que aqui está a ser «muito mais fácil construí-la».

«Considero-me uma sortuda em relação àqueles que, com a minha idade, vivem em  Portugal e lutam por salários justos. Tenho plena consciência que pouca gente consegue receber o valor que eu recebo aqui», diz. Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) dos dois países, em Portugal o salário mínimo é de 705 euros e o salário médio de 1,326 euros (brutos). O novo salário mínimo foi aprovado no fim de 2021 e começou a valer em janeiro de 2022. O aumento em relação a 2021, foi de 40 euros. Além deste aumento, o governo português tem como objetivo subir o salário para 750 euros até 2023. Por outro lado, em Espanha – onde o custo de vida também é maior – o salário mínimo é de 950 euros e o médio de 1.797  euros brutos. Realizando uma comparação dos últimos 10 anos, o salário mínimo da Espanha teve uma mudança de aproximadamente 310 euros.

 

A qualidade dos transportes públicos

Dentro do comboio, que mais se assemelha a um metro em Portugal, limpo e fresco, vê-se uma grande diversidade de culturas. «Dá perfeitamente para sentir já as diferenças», afirma Alice. «Parece um metro não é? É interior em muitas paragens que parecem, também elas, paragens de metro. Mas não… E o metro também é diferente do de Portugal. É inteiro, não tem carruagens. É giro olhares ao longe e não lhe veres o fim», completa.

Ao lado, uma senhora na casa dos 41 anos, sorri. «Viver em Madrid é viver numa cidade muito grande, que tem de tudo! Tem muita cultura, muito trabalho e muita diversão. É um lugar onde há pessoas de todos os sítios, é uma das coisas que eu mais gosto! Porque passo totalmente despercebida, ninguém olha, ninguém critica. As pessoas são todas diferentes e aceitam-se muito. Ou seja, podes viver da maneira que queres. Tens muitas opções», apresenta-se Belén, que cresceu e viveu no centro de Madrid e que se considera uma mulher «totalmente urbana». «Gosto do movimento, vivo mesmo no centro», continua, admitindo que a cidade também é especial porque mesmo quem vive na periferia, «consegue meter-se no centro muito rápido!».

«Os transportes funcionam muito bem. É uma cidade muito cómoda para nos movermos dessa maneira! Na verdade, se trabalhas e vives em Madrid, nem faz muito sentido teres carro. Não é necessário. Porque, para além do metro, autocarro e comboio, já tens as bicicletas e as trotinetas», conta, apontando a poluição como uma das coisas que menos gosta na capital espanhola. «Há muita gente, muito tráfego… E o urbanismo não favorece as opções mais sustentáveis, como é o caso da bicicleta.  Falta uma ciclovia! Tentei uma vez utilizar bicicleta para me deslocar e ‘Meu deus! Que medo!’. Não há um lugar próprio para os ciclistas! Se houvesse, talvez mais gente utilizasse as bicicletas e a cidade tornava-se mais verde», acredita.

No que toca ao preço das casas e dos alugueres, Belén considera-os «extremamente altos». E exemplifica: «Eu vivo numa casa alugada e tive mesmo muita sorte, porque vivo no centro e, mesmo assim, a casa sai-me barata! Acho que aqui é difícil pagar menos de 400 euros por um quarto mesmo centro», lamenta. Em Lisboa já não é assim tão diferente, mesmo em residências chegam a ser cobrados mais de 400 euros.

Do outro lado do comboio, vestida com um vestido fresco e encarnado, uma senhora ouve a conversa. Inês, de 62 anos, viveu toda a sua vida em Madrid e, ao contrário de Belén «já está cansada da azáfama». «Estou ansiosa por me mudar. Agora que me reformei, vou mudar-me para um sítio mais tranquilo. Não aguento mais o ritmo da cidade, o barulho, os carros», revela, sublinhando, no entanto, que a cidade «lhe deu tudo».

Pensando naquilo que a cidade tem de melhor, Inês admite que o que lhe vem à cabeça são precisamente os transportes: «Sinto que temos sorte nessa questão e cada vez me parece melhor! Durante toda a vida trabalhei em vários sítios e tive sempre facilidade em deslocar-me. Tanto de autocarro, como de comboio ou metro».

Também ao contrário de Belén, Inês considera que os preços das casas, comparando com outras cidades da Europa, «não são nada caros».

 

O imobiliário em Madrid

Segundo Álvaro Sánchez, namorado de Alice e também trabalhador no ramo imobiliário, em Espanha, os preços das casas foram crescendo muito antes da pandemia da covid-19. «Nos anos 2017, 2018 e 2019, atingiram valores que não atingiam antes da crise de 2008. Os preços dentro de Madrid, por exemplo, no interior da M-3 (centro da cidade), voltaram a ter quase o preço que tiveram na crise», afirma ao Nascer do Sol, esclarecendo que «o sistema de transportes está distribuído como uma espécie de anéis circulares».

Não é o caso de Lisboa, em que o acesso perde a condição de segunda circular no momento em que se cruza com o eixo norte-sul, ou seja, não é uma circular perfeita. «Aqui é, e a mais antiga é a mais de dentro e as mais recentes são as que vêm depois», aponta. M-30, é considerado o primeiro anel, M-40 o segundo e M-50, o terceiro. A cidade de Madrid termina no M-40.

No que toca aos preços, Álvaro conta que variam muito em função dos metros quadrados e da localização do bairro. «Mas acima de tudo, depende muito do tamanho da casa. Uma casa, por exemplo, em frente ao Retiro, custa cinquenta mil euros o metro quadrado. Nas zonas periféricas, onde nós trabalhamos, cada metro quadrado está a dois mil euros, casas mais pequenas», revela. Na Área Metropolitana de Lisboa, a mediana do metro quadrado para venda está em junho nos 1 861 euros/m2.

Álvaro salienta que o setor imobiliário «estabilizou com a pandemia da Covid-19, mas depois, os preços voltaram a subir e agora, com a crise na Ucrânia, continuam altos e está a perceber-se que o mercado precisa de baixar, pois as taxas de juro estão a subir muito». De acordo com o agente imobiliário, a trajetória é «muito similar com a portuguesa, com algumas diferenças». Uma das maiores, nota, é que «as taxas de juro, em Portugal, nunca chegaram a ter um sistema financeiro que comercializasse a taxa fixa. É tudo variável. Aqui, para os empréstimos das casas, a maior parte das pessoas escolhe a taxa fixa. Tu sabes que durante 30 anos de empréstimo, que é o máximo que podes ter para uma casa, pagas à parte do dinheiro que pediste, mais 1,05 % de taxas de juro, por ano. Isso para as pessoas é tranquilidade! Pagas um bocadinho mais, mas sabes o que vais pagar todos os meses», explica, frisando no entanto que  as entidades de crédito também oferecem a taxa variável, mais baixa, mas o preço vai variando. «O que acontece? Em momentos de boa situação económica, a Euribor é baixa. Então a taxa variável é melhor, mas em momentos de crise pode subir a preços recorde, como aconteceu na última crise. Na minha opinião enquanto imobiliário, em Portugal, os bancos não têm a força para responder a uma situação de crise. Ou seja, manter clientes que tenham uma taxa fixa de 0.97, por exemplo», admite, sublinhando que «o banco não ganha tanto quando a Euribor sobe, então, em momentos de crise, quando o banco está a passar mal, se tem muitas taxas fixas como acontece em Espanha, não ganha dinheiro». «Claro que há bancos em Portugal que oferecem a taxa fixa, mas para um tipo de juro muito mais alto».

Mas ao contrário de Portugal, esta subida de preços no centro, acredita, não tem feito os jovens procurarem casas ou quartos na periferia, até porque mesmo na periferia os preços também são altos. «Acho que o que acontece é procurarem em bairros mais pobres, mas que ainda são Madrid. Esses também tiveram um grande aumento de preço, que não é justificado», lamenta.

Além disso, segundo Álvaro, o mercado move-se por especulação. «Neste momento, há muita oferta, muita variedade, mas só pelo facto de ser Madrid há muita procura e a especulação não ajuda. As empresas compram casas e colocam as rendas muito mais caras do que são na realidade. Há uma empresa que conhecemos em que cada comercial tem de comprar quatro apartamentos por semana, ou seja 16 apartamentos por mês. Ou seja, compra um apartamento de dois quartos, com sala interior, e aquele apartamento novo, poderia estar num valor de 650 a 700 euros a renda, mas eles sobem para 800. Se tu estás constantemente a aumentar o preço, é normal que os preços vão aumentando todos», esclarece.

 

Diversidade e diversão

Ao chegar à estação de Atocha, pela dimensão do espaço e painéis de indicações dá a impressão de que estamos num aeroporto. São 21 horas e, segundo Alice, é normal que já não exista muita confusão nos transportes. Mas apesar de já ser «tarde», ao chegar à rua o movimento parece-se com o de Lisboa à tarde. «As pessoas aqui ficam na rua até às tantas da manhã. E não é só o pessoal mais novo! Vê-se pessoas de todas as faixas etárias. É como se o dia acabasse mais tarde do que em Portugal», conta Alice, acrescentando que «mesmo os restaurantes servem até mais tarde». Aqui, também existe uma dinâmica diferente aos almoços: «Todos os restaurantes, quer sejam no centro ou não, funcionam a essa hora do dia por menus. Pagas em média 12 euros e vem incluída a bebida, dois pratos principais e café ou sobremesa. Tens cinco primeiros pratos à escolha e com os segundos pratos o mesmo. Claro que as doses são mais pequeninas», explica a jovem, esclarecendo que não se trata de um prato de carne e um prato de peixe, como costuma acontecer em Portugal cada vez que num evento, ou festa, se comem dois pratos principais. O preço médio por pessoa num restaurante em Espanha, acrescenta, é de 12,90. Contudo, nos estabelecimentos de tapas, é possível pedir duas canecas de cerveja, que vêm acompanhadas por dois grandes pratos de tapas, a 11 euros.

O passeio segue pela Gran Vía, uma das principais artérias da cidade de Madrid, que começa na rua de Alcalá e termina na praça da Espanha. Ao passarem, as pessoas, deixam o rasto dos seus perfumes. A cidade encontra-se iluminada pelos candeeiros públicos, pelos grandes ecrãs que enfeitam os edifícios, pelas telas que, nos teatros, dão um vislumbre daquilo que acontece lá dentro. Miguel, de 26 anos, e Alexandre, de 27, são amigos e conheceram-se na cidade. Mudaram-se para Madrid há uns anos, o primeiro era do Norte de Espanha, o segundo, do Equador.  Miguel concorda com Alice: em Madrid «nunca ninguém se aborrece» e esse foi o principal motivo pelo qual escolheu a cidade para se fixar.

Outro ponto consensual é a qualidade dos transportes: «Conheço poucas cidades como Madrid nesse aspeto e já viajei muito! O preço é também bastante acessível! Tendo em conta que o passe são 20 euros até aos 26 anos», explica.

Mas, tal como existem coisas boas, o jovem espanhol reconhece algumas coisas menos boas: «As distâncias entre as coisas são chatas. Madrid é muito grande e é tudo muito longe. Além disso, acho que os sistemas dos centros de saúde de assistência primária estão bastante colapsados», defende.

Já Alexandre acrescenta que, «ao contrário do que pensa muita gente», Madrid é uma cidade bastante limpa. «Quase não se vê lixo na rua, os estabelecimentos são responsáveis por limpar a rua da sua esplanada… Paris, por exemplo, não é assim. Acho que em Lisboa, também não!».

No que toca ao preço dos produtos no supermercado, este considera que se encontram equilibrados, tendo em conta os ordenados. «Há sempre algumas alterações de preços, subidas, descidas, mas no geral, acho que é o normal numa cidade onde o ordenado mínimo é 950 euros».

Por exemplo, caminhando casualmente pelos corredores de um Lidl espanhol, esta semana, deparamo-nos com um quilo de arroz a 2,09 euros. Um valor não muito diferente dos 1,99 euros que custa o mesmo na mesma cadeia de supermercados em Portugal.

A dinâmica é muito semelhante noutros produtos básicos, com variações. Leite da mesma marca custa 0,77 euros em Portugal e 0.79 euros em Espanha. Veem-se maçãs a 1,25 euros o quilo no país vizinho – talvez porque apanhámos promoções – e por cá a 2,39 euros. Já o peixe, surpreendentemente, também não está muito mais barato em Portugal, encontrando-se um quilo de salmão a 18,58 euros, enquanto em Espanha é 19,44 euros. No que toca ao frango também compensa ligeiramente comprar em Portugal, oscilando entre os 2,49 e os 3,49 o quilo, dependendo de se for frango do campo ou não, enquanto em Espanha está nos 3,25 euros. Só em produtos como o azeite se nota uma diferença significativa, com o litro a 2,35 euros em Portugal e 4,15 euros em Espanha.

Perto da praça de Espanha, encontra-se Pillar, uma jovem de Buenos Aires que há uns meses decidiu mudar-se para Madrid por questões laborais. Também ela destaca a diversidade de culturas, a diversão existente e a maneira calorosa como os espanhóis recebem os estrangeiros como atrativos da capital espanhola: «Nunca me senti mal olhada, ou mal tratada, pelo contrário. Apesar de ser uma cidade muito grande e, por isso, ser possível que muita gente se sinta sozinha, é também muito fácil integrares-te e sentires-te em casa», acredita.

Para Pillar, um dos únicos problemas até agora é a falta de preocupação que os espanhóis têm para a reciclagem: «Não percebo como é que uma cidade tão moderna, tão desenvolvida, não possui contentores espalhados por todo o lado. Isso espanta-me, mas eu não deixo de fazer o meu ‘trabalho’ em casa», lamenta. Em Lisboa o cenário é idêntico.

Pillar acredita ter tido muita sorte no momento de procura por um quarto. Mesmo no centro de Madrid, num dos bairros que se assemelha ao Bairro Alto de Lisboa. paga 600 euros por um quarto «grande», com varanda. As suas quatro colegas de casa, pagam 450 cada uma, por quartos interiores. «Eu sei que os preços estão altos, mas eu acho que tive mesmo muita sorte em encontrar este lugar. Sinto-me bem e estou perto de tudo», diz.

Já Lucas, o rapaz que a acompanha, encontra-se na cidade há duas semanas e há pouco tempo decidiu que será aqui que quer construir a sua vida: «Vim para um internato em cirurgia vascular. Depois disso estarei formado, mas já percebi que não quero sair daqui. Nunca vi uma cidade como esta. Parece mesmo que cabe aqui o mundo inteiro», afirma. E nisso concordam todos.

 

Combustíveis

Já nas bombas de combustíveis, o movimento não para. Parece difícil que algum posto permaneça vazio durante mais de cinco minutos. Os carros chegam e arrancam e as pessoas sorriem quando cruzam os olhares.  Aqui, face a Portugal, a diferença é também ela significativa, pois não é novidade que Portugal tem dos preços mais caros da União Europeia no que diz respeito ao mercado dos combustíveis. De acordo com os mais recentes dados da Comissão Europeia, Portugal está em nono lugar dos 27 estados-membros com um preço de venda de 2,080 euros por litro no gasóleo e de 2,12 euros por litro na gasolina 95, enquanto Espanha aparece a meio da tabela, em 13.º lugar com 2,14 euros por litro no gasóleo e 2,08 euros por litro na gasolina 95. Enquanto atesta o carro, olhando para o ecrã que mostra os litros, Alice afirma: «Eu não vou pagar o valor que está ali! Pago menos 20 cêntimos por litro. O que é bom! Aqui o desconto é automático». O Governo espanhol decidiu manter um desconto automático de 20 cêntimos por litro sobre o preço de venda ao público dos combustíveis até 31 de dezembro – um desconto aplicado a profissionais e particulares que é feito diretamente pelos postos de serviço. A medida já estava em vigor desde 1 de abril. E assim abastecer, mesmo na escalada de preços, continua a ser mais barato do outro lado da fronteira.

A jovem admite sentir saudades do seu país de origem e sabe que um dia há de regressar, pois, tal como ela, Álvaro é apaixonado por Portugal. «As pessoas tendem a dizer que, com o tempo, vamos aguentando mais as saudades. Habituamo-nos… Eu não concordo. Parece que quanto mais tempo cá estou, mais saudades sinto. Em Lisboa, sinto saudades principalmente dos miradouros que, para mim, são uma porta para o mundo», remata.