Benfica-Midtjylland. A águia alemã e o primado da filosofía

Hoje, pelas 20h00, no Estádio da Luz, os encarnados vão ter o seu primeiro jogo a sério e de vital importância para chegarem à fase de grupos da Liga dos Campeões.

Por muito que as cinco vitórias nos cinco jogos da pré-época possam ter animado os adeptos do Benfica, não será tão cedo que deixarão de se escutar os ecos soturnos das cavernícolas exibições dos encarnados enquanto nas mãos, primeiro de Jorge Jesus e, em seguida, de Nelson Veríssimo. Exceptuando algumas exibições (e resultados) na Liga dos Campeões, o Benfica tem sido, de há dois anos para cá, mau demais. Tão mau que chegou ao ponto de nem contar para a realidade de um campeonato há três anos dividido entre FC_Porto e Sporting.

Hoje, pelas 20h00, no Estádio da Luz, a nova águia alemã de Roger Schmidt percorre o mesmo caminho das pedras que os encarnados têm tido de suportar pela sua queda abrupta para o terceiro posto na hierarquia do futebol em Portugal – o das pré-eliminatórias da Liga dos Campeões. No regresso de Jorge Jesus do Rio de Janeiro e do Flamengo, desastre total com a eliminação perante o medíocre PAOK Salónica; em agosto passado, redimiram-se os lisboetas graças à eliminação do Spartak de Moscovo e do PSV Eindhoven. E foi assim que, do PSV veio, precisamente, o treinador que tem, para já, a responsabilidade de se libertar do fardo inicial de uma equipa dinamarquesa chamada Midtjylland – nome  que significa Jutlândia Central e foi adotado depois da fusão de dois clubes dessa região do Reino da Dinamarca, no dia 6 de Abril de 1999, o  Ikast e o Herning Fremad. Herning foi, aliás, escolhida para cidade sede do novo clube, urbe pequena de pouco mais de 50 mil habitantes.

O Midtjylland começou esta nova época no meio de uma total turbulência que levou à saída do técnico Bo Henriksen logo após a primeira jornada do campeonato (empate em casa com o Randers, 1-1) e apesar da eliminação do AEK_Larnaka na quarta pré-eliminatória da Liga dos Campeões (após dois empates e decisão por grandes penalidades).  Henrik Jensen, o adjunto, tomou, para já, o comando da equipa, e deu-se bem com a goleada obtida nesta jornada, ao Odense, fora, por 5-1, última partida antes de se deslocar à Luz. Ou seja, tudo parece ter voltado a ser visto por um prisma mais otimista pelo que o Midtjylland entrará no estádio do Benfica sem problemas psicológicos para resolver.

 

Uma incógnita

Ninguém pode ter dúvidas que esta é uma eliminatória em que o Benfica, por tão superior, terá de resolver por si próprio e, se for preciso, contra si próprio. Há um ambiente positivo em redor do novo treinador e do futebol que está a colocar em prática, sem dúvida, mas haverá assim tantas mudanças relativamente ao Benfica tantas vezes inqualificável que terminou a época passada? Eis algo que só poderá ser aferido em jogos contra adversários de maior qualidade e em jogos a doer. Para já, as alterações no grupo ficam mais marcadas pelas saídas (as que se anunciaram até ao momento e as que se perspetivam) do que pelas entradas. E a saída de_Darwin é, obviamente, impossível de colmatar com uma troca por troca e só resolúvel com um tipo de jogo que não privilegie tanto a exploração das características (raríssimas) de um avançado daquela envergadura.

Contra a adinâmica, Schmidt parece ter trazido consigo a dinâmica. Uma maior dinâmica nos movimentos de pressão atacante e no desenvolvimento dos lances, agora efetuados com mais dureza e mais rapidez. Mas, vendo bem, o bloco determinante da equipa é suportado por jogadores que já estavam no clube – excetuando a novidade na movimentação de_Enzo Rodriguez e na fixação mais permanente de Florentino como trinco. Neres faz, para já, de Everton. João Mário voltou aos titulares, mas não vai mudar de características porque elas estão-lhe na massa do sangue. Idem em relação a Grimaldo. Ah! E já se percebeu que o treinador alemão não está disposto a usar dois centrais com mais de 35 anos em simultâneo.

Revistos estes pontos, a que conclusão se chega? De uma forma redutora, diria que as alterações são, basicamente, de mentalidade. Schmidt tem reforçado a confiança dos jogadores (que quer) neles próprios, excluindo os que não entram na sua filosofia. Ora, isso levar-nos-ia a concluir que, afinal, o plantel encarnado não é assim tão mau como demonstrou na maior parte dos jogos que fez no ano anterior. Não será demasiado simplista?! Não estaremos a atirar para cima do técnico uma responsabilidade exagerada no que respeita às expetavivas que os adeptos estão a alimentar? Bem sei, como dizia o meu querido Carlos Pinhão, que o leitor não compra o jornal para que lhe façam perguntas. Mas confesso que, a estas, ainda não sei responder com segurança.