Ucrânia. Central nuclear “está completamente fora de controlo”

Na central de Zaporizhzhia, que virou quartel russo, “todos os princípios de segurança nuclear foram violados”, fazendo soar os alarmes da IAE.

A cada dia que passa a situação torna-se mais perigosa na central nuclear de Zaporizhzhia, em Enerhodar, no sul da Ucrânia, alertou Rafael Grossi, diretor da Agência Internacional de Energia Atómica (IAE, na sigla inglesa). Desde que forças russas tomaram esta central elétrica, no início de março, que funcionários ucranianos, desesperados, trabalham para evitar um acidente catastrófico, muitas vezes sob ameaça dos invasores, no meio de confrontos armados. E, estando Kiev e o Kremlin a deslocar cada vez mais tropas para o sul, tirando por momentos o foco do Donbass, no leste, a situação pode-se agravar ainda mais.

“Todos os princípios da segurança nuclear foram violados” na central de Zaporizhzhia, acusou Grossi, em entrevista à Associated Press. Falamos do maior dos 15 reatores nucleares ucranianos. Como tal, “o que está em jogo é extremamente sério, extremamente grave e perigoso”, frisou o diretor da Agência Internacional de Energia Atómica. Que tem implorado a Moscovo que permita que uma delegação da sua agência visite o local, como já fizera em Chernobyl, ou até seja lá colocada. 

A IAE, pela sua presença, será dissuasora para quaisquer atos de violência contra esta central nuclear”, explicou, Grossi. O Governo da Ucrânia tem acusado as forças russas de usar a central de Zaporizhzhia como se fosse uma espécie de escudo nuclear, tornando-a num quartel, armazenando armamento nas instalações e lançando bombardeamentos com artilharia e mísseis a partir daí. 

Além de protegidos pela expectável receio dos militares ucraniana em abrir fogo contra esta central nuclear, os invasores ainda, cavaram trincheiras e instalaram bunkers, colocando minas antipessoais nos arredores, não vão guerrilheiros ucranianos tentar infiltrar a central, avançou o Wall Street Journal.

Os receios da IAE não são apenas que a central nuclear de Zaporizhzhia seja palco de combates e bombardeamentos. Até o abastecimento de equipamento e peças foi cortado, deixando a situação “completamente fora de controlo”, salientou Grossi. “Não temos a certeza que a central tenha tudo o que precisa”.

Batalha pelo sul Ao fortificar a central de Zaporizhzhia, os invasores consolidaram uma parte da linha da frente no sul, que está sob crescente pressão das forças ucranianas.

Enquanto o Kremlin apostava as suas reservas no leste, tentando avançar rumo a Sloviansk, principal centro de abastecimento dos defensores em Donetsk, Kiev deslocava forças para o sul. Focando-se em contra-atacar sobretudo em Kherson, mas também em Zaporizhzhia. Havendo relatos de que as forças russas sofrem de falta de munições de artilharia nesta região, chegando a recorrer a mísseis antiaéreos – muito precisos, mas com pouca carga explosiva – para levar a cabo bombardeamentos. 

A reconquista de dezenas de localidades pelas forças ucranianas no sul obrigou o Kremlin a levar a contra-ofensiva a sério, tendo já começado a transferir forças para a região, declarou o número dois das secretas ucranianas, Vadym Skibitsky, ao Guardian. “O sul é crucial para eles, sobretudo por causa da Crimeia”, explicou.