1934-35. A festa de arromba dos invictos na Invicta!!!

O FC Porto venceu a primeira edição do Campeonato Nacional. A Federação decidiu que não havia descidas – salvou-se a Académica que só fez 3 pontos.

No final das 14 jornadas do I Campeonato da Liga – que até foi chamado de experimental –, ou seja, o primeiro verdadeiro campeonato nacional de futebol a desenrolar-se em Portugal, ao estilo inglês, de todos contra todos, casa e fora, o FC Porto somava 22 pontos. Tinha conseguido 10 vitórias e cedido apenas dois empates e duas derrotas. E assim, na derradeira das rondas, empatando em Lisboa (2-2) com o seu principal rival nessa prova, o Sporting, segundo classificado com 20, a festa far-se-ia a norte. Nas bancadas do Campo Grande, infelizmente, ficara um rasto de alguma violência. Trocaram-se murros e estaladas. Mas pouco durou. Toda a gente recolheria a casa com a ordem devidamente restabelecida.

O campeonato disputara-se entre oito equipas – FC Porto, Sporting, Benfica, Belenenses, Vitória de Setúbal, União de Lisboa, Académico do Porto e Académica de Coimbra (foi esta a ordem da classificação final) – e a Federação Portuguesa de Futebol, que tinha um gosto especial para distorcer as ideias que nos chegavam dos principais campeonatos europeus, teve a opção inédita (e completamente contrária ao espírito competitivo) de não estabelecer descidas de divisão. Nem subidas da II, claro, embora também se tivesse estreado a competição secundária.

Pelo que se pode consultar através dos jornais da época, não se discutiu a justiça do vencedor que, em casa, conseguiu um pleno notável: Sporting (4-2), Benfica (2-1), Belenenses (1-0), Vitória de Setúbal (3-2), União de Lisboa (7-4), Académico do Porto (7-0) e Académica de Coimbra (7-1). Só fora da Invicta o FC Porto cedeu pontos: logo na primeira jornada, nas Salésias (1-1), na quarta, em Setúbal (0-1), na 10ª, nas Amoreiras, frente ao Benfica (0-3), e na última, como já vimos. Verdadeiramente só o Benfica conseguira derrotar o campeão sem apelo nem agravo.

Figuras O prémio para melhor marcador da prova foi disputado de forma rija. Venceu o sportinguista Manuel Soeiro, com 14 golos, média de um por jogo, exatamente, um avançado que viera do Barreiro e do Barreirense e viria a ser tio de outra grande figura do Sporting, década e tal depois, o Vasques dos Cinco Violinos. Alfredo Valadas, do Benfica, natural de Beja, ficou em segundo com 13 golos, ele que era considerado o mais poderoso de todos os rematadores nacionais. Depois deles, uma dupla infernal do ataque portista, ambos com doze golos: Carlos Nunes, um portuense de gema que defendeu a camisola do clube durante dez anos consecutivos, e o famoso Artur de Sousa, a quem todos chamavam o Pinga, e viera da Madeira, onde nascera.

Curiosamente coube ao quarto classificado, o Belenenses, o melhor ataque da prova com 45 golos – seguido do FC Porto (43) e Benfica (41), os três únicos a ficarem acima dos 40 golos. Valeram aos azuis, então ainda das Salésias, as goleadas caseiras sobre União de Lisboa (5-0) e Académico do Porto (7-0), bem como as obtidas no campo do União (6-2) e em Coimbra (5-0). Para os azuis-e-brancos, a defesa menos batida da prova, com apenas 19 golos sofridos, superando Benfica e Belenenses (20).

No mínimo incompreensível a forma como a Académica de Coimbra não desceu, depois de ter passado pelo vexame de conquistar apenas três pontos. Uma prestação horrível! Uma vitória, um empate e doze derrotas! Se não merecia ir parar aos cafundós da segunda, quem se candidatava a ser tão débil? Vitória solitária contra o Académico do Porto (o segundo a contar do fim com duas vitórias e dois empates), por 2-1, em Coimbra, e um empate, igualmente em casa, frente ao Benfica, por 2-2, algo que deve ter valido festa da rija do Choupal até à Lapa. Estava assim fechado o primeiro dos campeonatos nacionais, agora que a 89.ª edição entra em campo. No ano seguinte entregaria o título ao Benfica.