Campeonato. Vamos lá por alíneas

Com a saída dos melhores jogadores dos três habituais candidatos, há a tentação de dizer que, esta época, os treinadores serão mais decisivos.

Começou ontem o Campeonato Nacional de 2022-23 com o jogo entre Benfica e Arouca no Estádio da Luz. Entremos, antes das alíneas, num silogismo simplório que faria corar o próprio Aristóteles: tendo jogado um dos três candidatos ao título, falta agora que joguem os outros dois – FC Porto (recebendo hoje, pelas 20h30, o Marítimo) e Sporting (que joga em Braga amanhã às 18h00). Do que sairá de cada um dos embrulhos, que um deus qualquer, um daqueles muitos deuses que enxameiam o futebol, me livre de me deitar a adivinhar! Tenho pouca capacidade e paciência para futurologias. Já aquilo que vai ser este novo campeonato, não se vislumbram motivos concretos para que não seja o que de há muito estamos acostumados, um guerra aberta entre os candidatos, que meterá erros de arbitragem ao barulho, uma profunda desconfiança sobre a neutralidade dos homens que andam de lunetas naquele serviço de VAR, promessas por cumprir e desculpas de maus pagadores. Não nos iludamos. O ambiente é mau, chega a feder, nunca nenhuma prova deste país que o mar não quer, como lhe chamava Ruy Belo, se distingue pela educação, pela antiquíssima instituição britânica do fair-play, ou por algo que não sejam, em geral, calhandrices. Enfim… Se calhar temos o que merecemos e ainda ninguém o disse em voz alta.

 

Por alíneas

Comecemos por esta premissa:

1. O FC Porto é o favorito. Dizer que o campeão é favorito é mais um lugar comum do que outra coisa, mas parte na frente pelo menos em termos de exaltação interna já que ganhou tudo o que houve recentemente para ganhar: campeonato, Taça de Portugal e Supertaça. Os outros que venham atrás de nós, podem desafiar.

2. Os três candidatos estão mais fracos. Pode ser discutível, mas não muito. A realidade é que todos eles viram sair jogadores fundamentais (como titulares ou como reservas) da última época – Mbemba, Fábio Vieira e Vitinha (FC Porto), Sarabia, Palhinha e Feddal (Sporting); Darwin e Cebolinha (Benfica). São exemplos e apenas isso, poderia usar outros. O facto é que tiveram todos eles um efeito que se repercutiu nas suas equipas numa altura ou outra do ano. Se foram substituídos por jogadores mais válidos, mais úteis, mais capazes, estamos para perceber e só lá para maio do ano que vem voltaremos a fazer contas.

3. Os três treinadores vão ser mais importantes do que na última época. Se começarmos pelo Benfica e por Roger Schmidt, a nota é indiscutível. É ele que vai ter de mudar a mentalidade de uma equipa que não foi tão alterada como se previa, que precisa de voltar a fazer com que os adeptos gostem do futebol que lhes é servido, que está obrigado a criar dinâmicas que não obrigue a pensar em Darwin no fim de cada jogo. A seu favor, algo de muito confortável: pior do que Jesus e Veríssimo é quase impossível!

Sérgio Conceição repete as queixas: é o primeiro a dizer sem rebuço que precisa de gente de qualidade igual à dos que saíram. Mas também já mostrou que se dá bem com as dificuldades e as utiliza como alavanca para atingir novas vitórias. O campeão foi ele, mais do que a equipa. Eis algo que não vai mudar e ponto final! Com exclamação.

Rúben Amorim entra na sua terceira época e este Sporting foi construído por ele, tanto o que ganhou o campeonato há dois anos, como o que perdeu o último. Diria que certas qualidades da equipa se tornaram tão evidentes que os treinadores adversários estudaram bem a forma de as anular – é preciso ter jogadores para isso, vamos com calma. A mecânica está instalada e vai manter-se. Mas precisa de encontrar algumas saídas para becos estreitos que na última época lhe travaram a marcha vitoriosa. Tem, pelos vistos, a equipa que quis. Agora, portanto, é outra vez com ele, sendo seguro que, depois de ter habituado o leão a encher a barriga de triunfos, cada derrota cairá inevitavelmente sobre a sua cabeça e não sobre a cabeça dos dirigentes nem dos jogadores.

Não vale a pena entrar por subterfúgios ou por ziguezagues em elação à visível falta de qualidade do nosso campeonato e cada confronto a sério entre as nossas melhores equipas e as melhores equipas da Europa torna-se num momento aflitivo que descamba num previsível desastre. Podemos continuar a vender aquela falácia de que os nossos treinadores, de tão espertos que são, de tantos truques que têm na manga, conseguem equilibrar um desequilíbrio que entra pelos olhos dentro. Mas só entra pelos olhos dentro de um antílope.