Brinquedos: menos é mais

Brincar é uma atividade inata e fundamental. Não só da espécie humana, mas também animal. Há cerca de 6500 anos já se faziam bolas com fibras de bambu. Embora os brinquedos nem sempre sejam essenciais, são parte integrante das atividades lúdicas. E por vezes, quando não existem, são improvisados. 

Quando falo com outros pais sobre a quantidade de brinquedos que os filhos têm a opinião é unânime: são demasiados e todos seríamos mais felizes se não fossem tantos. 

Brincar é uma atividade inata e fundamental. Não só da espécie humana, mas também animal. Há cerca de 6500 anos já se faziam bolas com fibras de bambu. Embora os brinquedos nem sempre sejam essenciais, são parte integrante das atividades lúdicas. E por vezes, quando não existem, são improvisados. 

Ao longo dos tempos os brinquedos foram sofrendo modificações e evoluindo, mas nem sempre para melhor. Na verdade, em certo sentido, quanto mais básico for o brinquedo, melhor será, porque se torna mais versátil e estimulará mais a imaginação. Por exemplo, dá-me imenso prazer ver os meus filhos a divertirem-se com brincadeiras que criam a partir de objetos simples que encontram. Um brinquedo que já faz tudo pode ser muito empolgante nos primeiros dias ou horas, mas esgota-se rapidamente e torna-se aborrecido. Estes brinquedos contrastam, por exemplo, com aqueles kits de modelagem de aviões e carrinhos, que as crianças montavam, colavam e pintavam demoradamente com entusiasmo e afinco. Com a nova tendência do imediato e descartável as coisas querem-se já feitas, a capacidade de saber esperar começa a esmorecer, a paciência está em vias de extinção e há cada vez menos satisfação para tarefas mais desafiadoras ou demoradas.

Além do tipo de brinquedo e da qualidade muitas vezes duvidosa que rapidamente os transforma em lixo, o grande inimigo dos brinquedos é a quantidade. Lembro-me bem de a caminho de casa da minha avó parar em frente da montra de uma loja de brinquedos para ver as novidades e namorar alguns brinquedos que sonhava ter. Hoje há brinquedos em todo o lado, até no supermercado ou nas bombas de gasolina e alguns têm preços tão baixos ou promoções tão grandes, que permitem facilmente encher um quarto de tralha. O que acontece é que esta facilidade se transforma em indiferença e desvalorização. Se uma criança tem dez barbies, seis bebés carecas e mais outros tantos bonecos é natural que tenha menos apego a cada um deles e os trate com menor cuidado do que se tivesse apenas um ou dois e soubesse que se os estragasse só receberia outro no Natal ou aniversário seguinte. 

As crianças não precisam de muitos brinquedos, que as deixam desinteressadas e dispersas. Quando uma criança entra num quarto cheio de brinquedos desarruma tudo e salta de coisa em coisa sem se fixar em nada, ao passo de que se entrar num quarto só com meia dúzia de brinquedos de que goste e que sejam adequados à sua idade, irá diretamente ao que quer podendo ficar entretida durante um longo período de tempo. Uma boa técnica pode passar também por guardar alguns brinquedos e ir alternando.

Às vezes é difícil não cair na tentação de oferecer mais um brinquedo quando imaginamos a alegria de quem o recebe, mas é importante fazer o exercício de pensar se lhe faz mesmo falta, se brincará realmente com ele, se tem outros do género que não usa. Tal como já há pais que se organizam para oferecer um presente conjunto aos amigos dos filhos em vez daquela sobredosagem perigosa de brinquedos que invadem as festas de aniversário.

É que no que diz respeito a brinquedos, menos é mesmo mais. Mais apego, mais cuidado, mais atenção, mais diversão. Só é menos em desarrumação.