O importante são as pessoas

É imperioso que se façam alterações de fundo ao atual modelo de gestão da saúde em Portugal.

Frederico Assunção
Gestor, Doutorando em Gestão de Empresas

Há tempos, vi um slogan autárquico que dizia ‘O importante são as pessoas’. Independentemente dos posicionamentos políticos, dos credos e de outra qualquer lista de vontades e sentimentos, não poderia estar mais de acordo, as pessoas são mesmo o centro de toda a ação e é nelas que se deve focar toda e qualquer decisão.

Assim sendo, algo de verdadeiramente estrutural terá que mudar no atual estado da prestação de cuidados de saúde em Portugal. Temos demasiados dogmas ideológicos que limitam e atrofiam as respostas que a população exige e necessita. Um dos alicerces da nossa sociedade é o acesso universal aos cuidados de saúde. Contudo, não podemos limitar esta resposta apenas à prestação pública, está visto que esta não é suficiente. Os serviços privados de saúde são bons, em muitos casos dos melhores que há na área, e devem ser vistos como parte integrante desse todo.

Defender a importância do setor privado, não significa marginalizar o Serviço Nacional de Saúde. Antes pelo contrário. Devemos analisá-los como complementares e não como simples concorrentes no mercado da prestação de cuidados de saúde. Em muitos casos, essa dita complementaridade, já existe e está até acordada sob a capa de uma convenção. Quem é que nunca fez exames e análises clínicas, através de uma prescrição do médico de família, em unidades privadas de prestação? Até no auge da covid, quantos de nós fizemos testes em unidades de prestação públicas?

É imperioso que se façam alterações de fundo ao atual modelo de gestão da saúde em Portugal. O Ministério da Saúde tem de deixar de ser o ministério apenas do Serviço Nacional de Saúde e passar a ser o ministério de todo o Sistema Nacional de Saúde, onde o bem estar das populações está em primeiro plano, pouco importando quem presta o serviço, desde que este seja executado com qualidade, responsabilidade e rapidez.

Exigem-se novos acordos, mais abrangentes e atualizadas, com os prestadores privados. Se um determinado utente, por uma consulta e/ou tratamento num hospital público, representa para o estado um determinado custo financeiro, porque não convencionar esse mesmo ato com o privado pelo mesmo valor? Há uma franja tão grande da população sem médico de família, não poderá o serviço privado suprir essa necessidade? Tudo seria garantidamente mais célere, a universalidade do acesso manter-se-ia garantida e os custos seriam devidamente balizados e controlados, desde que o Ministério se soubesse reestruturar e assumir-se como um verdadeiro regulador.

Muitos iriam vociferar perante tamanho arrojo. Diriam que o setor privado se move pelo lucro, não olhando para as constante redução das margens, fruto da proliferação de seguros e subsistemas de saúde. Iam esquecer-se da ética dos seus colaboradores e de que estes prestadores também pagam impostos, salários e são mais um dos motores da nossa economia. Se o que importa são as pessoas, está na altura de se arranjarem soluções racionais e produtivas, de forma a que estas possam finalmente ter salvaguardada uma das suas necessidade básicas: um acesso de qualidade aos cuidados de saúde.