Sete judocas acusam presidente da FPJ de discriminar e oprimir atletas

Telma Monteiro, Catarina Costa, Bárbara Timo, Rochele Nunes, Patrícia Sampaio, Anri Egutidze e Rodrigo Lopes assinaram uma carta, na qual criticaram o dirigente quanto à sua conduta abusiva e opressora. Segundo os atletas, o presidente penaliza os judocas caso não participarem nos estágios em Coimbra e trata de forma distinta os atletas de outras origens. 

Sete atletas olímpicos acusaram o presidente da Federação Portuguesa de Judo (FPJ) de oprimir e discriminar judocas, instaurando um “clima insustentável e tóxico” no meio da modalidade.

As criticas a Jorge Fernandes foram apontadas numa carta assinada por sete judocas – Telma Monteiro, Catarina Costa, Bárbara Timo, Rochele Nunes, Patrícia Sampaio, Anri Egutidze e Rodrigo Lopes –, na qual revelaram que estiveram reunidos com o presidente para discutir problemas existentes, no entanto debateram-se com a "falta de compreensão, de flexibilidade e sensibilidade" do dirigente.

Um dos exemplos da inflexibilidade do presidente está no facto de este insistir na obrigatoriedade dos atletas participarem em cerca de 80% dos 52 estágios que acontecem em Coimbra num ano. Se os judocas não cumprirem esta regra, são ameaçados com a exclusão da equipa nacional, adiantaram os atletas.

"Aquilo que foi uma boa solução durante o período em que a pandemia causada pela covid-19 impôs a criação de uma bolha de treino, em Coimbra, que nos permitiu estar nos Jogos em segurança, é hoje um dos fatores em que discordamos profundamente da estratégia imposta pela FPJ", revelaram os atletas, ao explicarem que estes estágios os impedem de estar noutras estágios internacionais, com hipóteses de treinar com os melhores do mundo.

Além disso, os atletas queixaram-se do local escolhido para os estágios em Portugal, que não preenche as condições necessárias: "por vezes, estão apenas oito atletas presentes para treinar, e durante o inverno chega a estar sete graus dentro do pavilhão".

No entanto, os problemas não são apenas logísticos ou profissionais. Os judocas também afirmaram que Jorge Fernandes reprime os atletas devido às suas nacionalidades.

No comunicado, os judocas revelaram que Anri Egutidze, de origem georgiana, foi impedido pelo dirigente de falar a língua materna, e ainda ficou fora de uma competição como forma de “represália” depois de falhar um estágio e não, como foi justificado publicamente, por questões de saúde.

Já Telma Monteiro e Bárbara Timo, que fizeram um estágio em Itália a expensas próprias, foram questionadas pela FPJ, através do secretário Sergiu Oleinic, se as mesmas estavam lá, sendo que a luso-brasileira ainda foi repreendida por estar naquele evento.

"Não compreendemos qual o padrão de coerência — o presidente da Federação diz que os atletas podem realizar estágios internacionais a expensas próprias, mas quando isso acontece sofrem ameaças, represálias e são chamados à atenção", notaram.

Ainda sobre os estágios no estrangeiro, os judocas criticam a federação por tratar das viagens e estadias à última hora, refletindo-se numa “desorganização”, que acaba por prejudicar a preparação dos atletas.

Jorge Fernandes também foi acusado de fazer as convocatórias da seleção, em detrimento dos treinadores, e de ter tido um comportamento inadequado para com os judocas de origem brasileira, Rodrigo Lopes, Bárbara Timo e Rochele Nunes.

Na tal reunião onde os atletas manifestaram o seu descontentamento, o presidente da FPJ insultou a origem dos três judocas e também o facto de terem assinado o documento no qual expõem a situação que vivem, chamando-os de "ingratos".

Bárbara Timo sublinhou que as idas para Coimbra contribuíram para a depressão que viveu e tornou pública. Como resposta a esta circunstância, o presidente terá dito à atleta que ninguém a obrigou a vir do Brasil para Portugal.

"Várias vezes foi feita a referência à origem dos atletas, que devem ser tratados com respeito e direito a expressar preocupações ou fazer sugestões semelhantes a qualquer outro atleta português", apontaram.

Os judocas ainda se pronunciaram sobre as bolsas de preparação que são atribuídas pelo Comité Olímpico à Federação de Judo, dizendo que não entendem o porquê de ser a federação a gerir as mesmas.

"Sendo que cada bolsa deveria ser – por lei – destinada apenas ao atleta a que é atribuída", explicaram, ao notar que a FPJ tem descontado das bolsas o pagamento de cada treinador que acompanha o atleta e que essa despesa "deveria ser suportada" pela Federação.

Desta forma, os atletas sugeriram “que as bolsas dos judocas olímpicos passem a ser geridas pelo próprio Comité Olímpico de Portugal, em sintonia com os clubes e os treinadores", apelando à ajuda das entidades que regem o desporto. Caso contrário, os atletas sublinharam que não há condições para “fazer face às exigências da alta competição e do apuramento olímpico".