Verão. O fantasma Passos Coelho volta a agitar as águas políticas

Luís Montenegro ‘estreou-se’ como líder na rentrée social-democrata em Quarteira. Pedro Passos Coelho marcou presença, e disse não querer ofuscar, mas há quem fale no seu regresso. 

Os últimos dias foram de arranque ‘oficial’ da temporada de rentrées políticas em Portugal, da esquerda à direita.

O ponto alto foi no domingo, com o tão esperado regresso da Festa do Pontal do PSD, que ocupou a ponta nascente do Calçadão de Quarteira, no Algarve. “Espera-se o maior Pontal de sempre”, revelava Hugo Soares, secretário-geral dos sociais-democratas, ao i. E a expectativa não ficou longe da realidade. Esta ponta do icónico Calçadão de Quarteira pintou-se de laranja para receber Luís Montenegro, que se ‘estreou’ em rentrées políticas como líder do PSD, lado a lado com Pedro Passos Coelho, antigo primeiro-ministro social-democrata, que foi dar “um abraço” ao novo líder do partido, que não queria “ofuscar”, e cuja presença fez correr muita tinta.

Maior de sempre “Como responsável pela iniciativa devo dizer que superou largamente todas as expectativas. Tivemos em redor de duas mil pessoas, uma das maiores participações nos últimos 25 anos. Mais importante do que isso foi a atmosfera reinante: revelou um partido unido, coeso, a noção de quão importante é o papel de oposição e de alternativa que o PSD representa”, contou ao i Cristóvão Norte, presidente do PSD Algarve, organizador desta festa mor dos sociais-democratas. “Esta rentrée foi o PSD no seu melhor. E o país precisa do PSD no seu melhor para evitar o PS no seu pior”, continuou o líder dos sociais-democratas algarvios, considerando que, no seu discurso, “Luís Montenegro expôs em detalhe aspetos críticos da ação do Governo, nomeadamente a emergência social – que resulta da inflação e à qual o Governo não dá resposta – e preocupantes episódios de abuso de maioria absoluta, como as represálias a empresas e ataques a parceiros sociais”. 

Embora “seja um Governo que já não está dependente de BE e PCP”, argumentou Cristóvão Norte, o Executivo de António Costa “ continua a ser um Governo que não alterou a sua orientação”. “E essa orientação é errada, tira-nos futuro e não é capaz de inverter a decadência do país. Desse ponto de vista, ficou claro o posicionamento do PSD: a perspetiva reformista e moderada contra o situacionismo e o impasse que domina o país. No cômputo geral, a intervenção foi bem conseguida e é um bom augúrio para os próximos tempos do PSD”, concluiu.

Passos Coelho candidato? Uma das maiores surpresas do dia prendeu-se com a presença de Pedro Passos Coelho, que teve Luís Montenegro como líder parlamentar entre 2011 e 2017, na festa. Se bem que o antigo primeiro-ministro garantiu, à chegada, não querer ‘ofuscar’ o presidente do PSD, houve quem achasse que o seu ‘regresso’ a um grande evento do PSD pode ser um ponto de viragem. 

Aos jornalistas, à chegada ao Pontal, Passos Coelho removeu qualquer dúvida: “Isto tem um caráter excecional porque continuo retirado da ação política”.

Luís Marques Mendes, antigo líder social-democrata, no seu espaço de comentário habitual na SIC Notícias, argumentou, no entanto, que Passos Coelho “gostava de voltar a ser primeiro-ministro”. Isso ou “ser candidato a Presidente da República”, pelo que “não quer fechar portas nenhumas”.

Sobre o assunto, ao i, Cristóvão Norte não hesitou: “Pedro Passos Coelho é uma personalidade que não alimenta ambiguidades nem se compraz com especulações que outras façam a seu respeito. Se desejar voltar, fá-lo-á com naturalidade”.

IL e PCP arrancam ano Antes da rentrée do PSD, no entanto, já a Iniciativa Liberal protagonizou a segunda edição da Festa d’Agosto, em Portimão, sendo o primeiro partido político a ‘reentrar’ na política nacional.

Desde a Fortaleza de Santa Catarina, João Cotrim Figueiredo, líder da IL, considerou que “Portugal não é um país capaz” graças ao bloco central que domina o país há mais de 40 anos. “O PS não sabe como pôr Portugal a crescer nem como gerir a coisa pública”, acusou Cotrim, que ironizou, afirmando que as siglas do PS significam “Prepotência Socialista” e “Propaganda Socialista”.

“Dizem que somos o partido dos ricos, mas o que queremos é que todos tenham oportunidade de deixar de ser pobres. Dizem que queremos acabar com o Estado; queremos um Estado pequeno, sim, mas forte em vez de gordo e incapaz. Dizem que falamos de economia, mas no Parlamento tivemos iniciativas sobre cuidados paliativos, idosos, acompanhamento de grávidas, reabertura de escolas e estádios, defesa de liberdades sociais e políticas”, resumiu Cotrim Figueiredo.

Na outra ponta do Algarve, em Vila Real de Santo António, Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, marcava a rentrée política dos comunistas, no domingo. A “deterioração da situação económica” e uma “degradação acentuada da situação social sem que o Governo tome as medidas que se impunham para as travar” foram algumas das acusações do líder comunista num jantar comício onde pediu para se “travar a especulação e controlar os preços” e “repor o poder perdido pelos salários e pelas reformas”.

No mesmo jantar, o líder comunista voltou a exigir a “tributação dos lucros extraordinários” de determinadas empresas, nomeadamente petrolíferas, obtidos com “atividades especulativas”.