Portugal continua a arder. Espanha e França com o pior verão dos últimos anos

Tem sido vivido o terror, principalmente, no distrito da Guarda. À semelhança do inferno que Portugal enfrenta, outros países passam pelo mesmo.

A Europa está a arder há várias semanas e, de acordo com informações disponibilizadas pelo Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS), até ao último domingo, os incêndios destruíram 662 776 hectares de florestas em todo o continente. No entanto, existem alguns países, como Portugal, Espanha e França, que se têm destacado pela negativa.

Portugal é o que tem maior percentagem de área ardida na Europa em relação à dimensão do país. Desde janeiro, já arderam mais de 84 mil hectares de mato e floresta, estando apenas atrás da Roménia e de Espanha. Já Espanha vive o pior verão dos últimos 15 anos, até porque o incêndio da Serra da Estrela está a ter consequências na nação vizinha. O fumo já chegou a Madrid e, além disso, o fogo devasta as mais variadas regiões, como, agora, Valência, com duas mil pessoas retiradas das suas casas até ao início da noite de ontem.

Até ao dia 13 de agosto, tinham sido contabilizados 246 mil hectares de floresta – correspondente a 0,5% da área total do país – ardidos, ou seja, Espanha é o país com maior área ardida da União Europeia. Este ano está a ser igualmente nefasto para França, em que não tinha um verão tão mau há 16 anos. Este panorama negativo justifica-se, principalmente, devido aos sucessivos incêndios que deflagram no departamento de Gironde, perto de Bordeaux (sudoeste), tendo sido necessários reforços de bombeiros alemães, polacos e austríacos para dominarem as chamas.

Ano terrível até na Europa Central Se considerarmos somente o ano corrente, “2022 já é um ano recorde”, como explicou à agência francesa AFP Jesús San Miguel, coordenador do EFFIS. O recorde anterior tinha sido registado em 2017: 420 913 hectares queimados até 13 de agosto e 988 087 hectares em todo o ano. “Espero que não tenhamos o mês de outubro que tivemos naquela época, quando 400 mil hectares foram arrasados em toda a Europa”, disse, ilustrando também a tragédia vivida em Portugal. 

Foi nesse mês, tal como o de junho, que segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), arderam 45 979 hectares em Pedrógão Grande e Mação, tendo sido consumidos pelas chamas 539 921 hectares em todo o país. Por isso mesmo, o incêndio na Serra da Estrela – que teve início na madrugada de 6 de agosto e veio a alastrar-se até aos municípios de Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira – foi, até esta terça-feira, o maior que se registou desde essa altura. 

Mas esta situação também tem sido grave na Europa Central. A título de exemplo, em julho, os bombeiros precisaram de mais de dez dias para controlar o maior incêndio vivido, nos últimos anos, na Eslovénia, em que o país teve de pedir ajuda à Croácia por não ter aviões especializados no combate a incêndios.

Já na República Checa, um incêndio destruiu aproximadamente mil hectares, um número que pode parecer reduzido quando o pomos em perspetiva, mas é 158 vezes mais grave do que a média de 2006-2021 registada neste país.

Curiosamente, no início de agosto, dados apurados pelo Eurostat davam conta de que as despesas governamentais com serviços de proteção contra os incêndios florestais, na União Europeia, em 2020, haviam representado somente 0,5% da despesa total, ou seja, 32,9 mil milhões de euros. Entendeu-se, assim, que a percentagem portuguesa ia ao encontro das da Bélgica, Malta, Áustria, Suíça e Eslovénia. A Dinamarca e a Islândia foram os Estados-membros que menos gastaram, cerca de 0,1% e 0,2%, e a Roménia – um daqueles que mais tem sofrido – foi o país do bloco que mais investiu há dois anos, isto é, 0,8%.