Portugal vai enfrentar uma onda de calor extremo entre cinco a dez dias

As temperaturas subirão a partir desta quinta-feira e o perigo de incêndio rural agravar-se-á, como explica ao i Pedro Sousa, meteorologista do IPMA.

Os termómetros vão voltar a subir, a partir de hoje, até aos 40 graus. E se o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), na terça-feira, descartava a possibilidade de o país enfrentar um nova onda de calor, a mesma encontra-se agora em cima da mesa, como explica ao i o meteorologista Pedro Sousa.

“Será a terceira onda de calor no período do verão – desde junho –, o perigo de incêndio rural irá agravar-se devido às temperaturas elevadas – partes do interior já estão no perigo de incêndio máximo. As condições não são muito favoráveis ao combate das chamas”, começa por observar o profissional, aludindo à informação que o IPMA já disponibilizara no seu site oficial. Isto é, que 55% do país se encontra em seca severa e 45% em seca extrema, com destaque para a região interior centro e sul. 

Devido ao agravamento da situação de seca, esta previsão, “é péssima para o risco de incêndio” e vai dificultar a extinção dos fogos, tal como Pedro Sousa confirma. “A temperatura vai começar a subir esta quinta-feira. Na sexta-feira, Coimbra, Leiria, Lisboa, Santarém, Portalegre, Évora e Beja estarão sob aviso amarelo. No sábado, vai continuar a subir no Interior Norte e Centro”.

“Teremos temperaturas na ordem dos 35-40ºC. Boa parte da região Sul e do Centro, do Vale do Tejo, do Vale do Sado e todo o Alentejo registarão temperaturas mais elevadas. No Litoral e na costa do Algarve serão mais baixas devido ao efeito da brisa costeira”, analisa o especialista, sendo que Évora deverá ser o distrito mais afetado, esperando-se que atinja os 39 graus. Já para Lisboa e Setúbal estão previstas temperaturas de 37 e 38 gruas, respetivamente, na sexta-feira. 

Por outro lado, Castelo Branco, Portalegre e Santarém deverão atingir os 38 graus durante o fim de semana. No Norte, embora se saiba que as temperaturas subirão também, o mesmo não será afetado por estes aumentos drásticos. “No sábado, podemos esperar uma ligeira descida de temperaturas na faixa costeira ocidental. No domingo, desce em todo o litoral oeste, mas o calor mantém-se nos distritos do Interior. Teremos a nortada no Litoral versus o tempo mais quente no Interior”, sublinha, reconhecendo que, apesar de “as ignições dependerem de muitos fatores, é claro que as temperaturas mais elevadas proporcionam condições para os incêndios”. 

“Não se poderá dizer que o perigo é exclusivo do Interior. Apesar do calor ser mais intenso nestas regiões, tendo em conta este padrão de intensificação do vento, de nortada, incêndios que ocorram mais próximo do litoral podem também ser complicados”, indica. A título de exemplo, à hora de fecho desta edição, o incêndio que deflagrara nas Caldas da Rainha, pelas 13h45 de ontem, já se alastrara a mais dois distritos. Apesar de o fogo ter tido início no distrito de Leiria, estendeu-se até ao concelho de Rio Maior e à zona do Cadaval.

Precipitação escassa “Tivemos precipitação no Norte, nos últimos dias, mas é expectável que continue seco, como é normal no verão em Portugal. Setembro já tem alguma precipitação em média, mas há muita variabilidade de ano para ano”, diz Pedro Sousa, indo ao encontro de informação que o IPMA já divulgara anteriormente. Isto é, que, desde outubro do ano passado até há poucos dias, choveu praticamente metade do que seria um ano hidrológico normal.

Sabe-se que um ano hidrológico diz respeito ao período compreendido entre 1 de outubro e 30 de setembro do ano seguinte e, até ao final da semana passada, segundo os dados do IPMA, o ano hidrológico de 2021/2022 constitui o segundo mais seco desde 1931 (portanto, desde que há registos), sendo somente ultrapassado pelo ano hidrológico 2004/2005. Até ao dia 14 de agosto, choveu 419 milímetros (mm), 51% daquele que seria um valor normal.

Este panorama, infelizmente, não é recente. Portugal Continental encontra-se totalmente em seca – 55% em classe de seca severa e 45% em seca extrema – e o IPMA considerou, em declarações à agência Lusa, que a seca “teria um desagravamento significativo” se nos meses de setembro e outubro chovesse acima da média. Todavia, tal acontece apenas em 20% dos anos.

Ou seja, para que a seca se tornasse menos grave, teria de haver, sensivelmente, 150 mm de precipitação em setembro e 175 mm em outubro. No ano passado, a quantidade de precipitação no período homónimo foi de 172,8 mm, o que correspondeu a aproximadamente 69% do valor médio. Deste modo, o IPMA percecionou que o outono do ano passado foi o terceiro mais seco desde 2020, com novembro a ser um mês particularmente seco, tendo sido contabilizados menos 90,5 mm de chuva relativamente ao valor médio.

“A previsão atual para os próximos dias aponta para que possa ser uma onda de calor. É bastante provável que regiões do Norte e Centro passem pelo menos seis dias com estas temperaturas (duração mínima para uma onda de calor). Mas, naturalmente, isto só será validado após a ocorrência. Os avisos que vão entrar em vigor na sexta poderão ser estendidos ao Interior, Norte e Centro no sábado”, salienta, afirmando que “quanto a previsões no longo prazo há sempre incerteza, embora apontem para temperaturas acima da média”. 

“Estamos a falar de previsões num prazo muito longo, meramente probabilísticas (a janela mais fiável vai até 5 -10 dias). No domingo, haverá uma descida no Litoral mas, à partida, os valores elevados vão persistir no Interior. Na sexta, temos uma corrente de Leste que vai gerar temperaturas elevadas. E, depois, voltamos ao regime normal de verão com nortada no litoral oeste. As zonas mais frescas são as costeiras e do Litoral Oeste, como habitualmente”, finaliza o meteorologista.