Benfica. A bordo do barco ninguém abanou como bons marinheiros

Na Polónia, em Lodz, o Benfica venceu facilmente o Dínamo de Kiev (2-0) e agora só uma catástrofe impedirá os encarnados de estarem novamente entre os grandes dos grandes.

Lodz – em polaco significa barco. Curioso, no mínimo. À distância ficamos a saber que o Benfica foi à Polónia, isso mesmo, à Polónia, autenticamente à Polónia porque por causa da guerra os clubes da Ucrânia não podem jogar no seu país, vencer o Dínamo de Kiev por 2-0 na primeira mão do play-off da Liga dos Campeões.

Golos? Os de Gilberto (9 minutos) e de Gonçalo Ramos (37m). Quem diria, não é? Logo o Gilberto que foi praticamente trucidado pelos especialistas que se apresentaram de cara de pau em frente às câmaras de televisão depois do jogo dos encarnados em Leiria, frente ao Casa Pia. Schmidt, um alemão que, até agora, parece ter ideias firmes, joga com dois laterais direitos. Não dois laterais direitos ao mesmo tempo, nem pensem nisso! Dois laterais direitos que ocupam o mesmo espaço em tempos diversos: Gilberto (69 minutos em campo ontem); Alexander Bah (daí até final da partida).

De resto, apresentou-se com o onze do costume e, melhor ainda, com a atitude do costume: uma águia confiante, coletiva, pressionante, com vontade de jogar no meio campo do adversário. Ora pombas! Há quanto tempo isto não se via pelos lados da Luz? Pelo menos três. Estamos, portanto, perante uma filosofia diferente.

Não vi o jogo ao vivo e não consigo fazer uma análise completa de tudo o que se passou, com bola e sem bola – sobretudo sem bola, porque as televisões só procuram a bola, a bola e a bola, ansiosamente a bola. Ou seja, vi a bola. E a bola estava na parte do campo da equipa comandada por Mircea Lucescu, um histórico que já deve deitar Benfica pelas orelhas tantas as vezes que tem perdido contra a equipa encarnada.

Mais ainda: não marcam nem um golo! Lembram-se daquela tarde maldita na qual Rui Águas sofreu uma fractura na perna? A foto só em si doía: a canela cortada a meio. O grande Nuno Ferrari estava lá e deixou o negativo para a posteridade. O Dínamo venceu o Benfica por 1-0, golo de Salenko, aos 31 minutos. Liga dos Campeões, fase de grupos, 1991-92. Na volta, o Benfica vingou-se com juros: 5-0. Percebem? Pois… Foi o único golo que o Dínamo marcou ao Benfica em todos estes anos de confrontos entre ambos. Ontem voltou a ficar a zero. Com toda a naturalidade.

Convenhamos: já o tínhamos escrito aqui na véspera – os encarnados dependiam única e exclusivamente de si próprios numa eliminatória contra uma equipa de párias, sem campeonato para disputar, obrigada a jogar onde alguém lhe dê albergue. A diferença, neste momento, é tão grande, que nem deveria deixar dúvidas em relação a quem vai marcar presença na fase da Liga dos Campeões que começa dar dinheiro que se veja e se apalpe.

O Benfica ganhou, com uma facilidade que não deixou margem para filosofias baratas. Agora, só um completo descalabro e um desleixo igual ao que se viveu nas três últimas épocas poderá impedir os encarnados de estarem outra vez entre os grandes dos grandes. E se há algo que um alemão chamado Schmidt, em boa hora escolhido para ser o único treinador estrangeiro do campeonato lusitano, não está disposto a suportar é desleixo. Haja quem o ouça e quem lhe obedeça.