Inflação. Taxa volta a bater recordes

Analistas contactados pelo i divergem em relação ao futuro. Se há quem acredite em novas subidas, outras admitem que cotações de determinadas matérias-primas possam abrandar. 

A taxa de inflação continua a disparar e a bater recordes. De acordo com os dados do Eurostat, atingiu 8,9% na zona euro face aos 8,6% verificados no mês anterior e muito acima dos 2,2% registados em igual período do ano passado. Já na União Europeia (UE) atingiu os 9,8%. 

Ao i, o analista da XTB, Nuno Mello, garantiu que esta subida já era “expectável uma vez que os preços dos alimentos, álcool e tabaco aceleraram (9,8% face aos 8,9% em junho), bem como dos bens industriais não energéticos (4,5% vs 4,3%) e serviços (3,7% vs 3,4%)”. E lembra que, apenas o custo da energia abrandou devido à queda que o petróleo registou no mês passado (39,6% vs 42%), ainda assim, não foi suficiente para compensar os restantes aumentos. “Excluindo a energia, a inflação também aumentou de 4,9% para 5,4% e o índice core, que exclui o custo da energia, alimentação, álcool e tabaco subiu de 3,7% para 4%. Em comparação com o mês anterior, os preços ao consumidor subiram 0,1%”, acrescenta.

De acordo com os mesmos dados, as taxas anuais mais elevadas foram registadas na Estónia (23,2%), Letónia (21,3%) e Lituânia (20,9%), enquanto as mais baixas foram observadas em França, Malta (6,8% em ambos os casos) e Finlândia (8,0%). No entanto, em  comparação com junho, assinala o Eurostat, a inflação anual recuou em seis Estados-membros, manteve-se estável em três e subiu nos restantes 18.

Já Portugal foi um dos Estados-membros a registar uma subida da taxa de inflação, que aumentou de 9,0% em junho para 9,4% em julho, um valor acima da média da zona euro e que compara com uma taxa de 1,1% um ano antes, em julho de 2021.

O que esperar?

Para Nuno Mello não há margem para dúvidas. “A inflação deverá continuar alta e até acelerar mais devido ao aumento da procura por petróleo no próximo outono e inverno”, lembrando que “neste período até se costuma assistir a uma diminuição da procura, mas que pode ser compensada por um aumento do consumo de petróleo em relação ao gás”, referindo que “muitos países que possuem centrais elétricas alimentadas a petróleo poderão decidir reiniciar as suas operações, uma vez que o preço do gás no equivalente a um barril de petróleo é duas a três vezes superior, incluindo os custos associados às licenças de emissão de carbono. Isto deverá levar a componente da energia a fazer disparar ainda mais a inflação até ao final ano”.

Já João Queiroz, Head of Trading do Banco Carregosa, acredita que as expectativas são de que as cotações de algumas matérias-primas como crude, metais de base industrial e produtos agrícolas possam não renovar os máximos já registados neste ano, “o que motivaria a que se evoluísse para um cenário em que a inflação deixaria de ser o principal tema e o enfoque seja a “suave contração” da economia Europeia perante a continuação da crise energética que se encontra atualmente muito baseada no Gás Natural (que sentirá no próximo inverno), ou seja, este deverá ser o argumento central para a que a inflação permaneça elevada mas com os máximos a poderem ter sido já registados neste verão. Assim, começaríamos o caminho da estabilização dos preços (menor pressão inflacionista), permitindo que os Bancos Centrais se centrem mais nos temas de estagnação / contração económica, empregabilidade e competitividade das suas economia”.

Face a este cenário, vários Governos têm vindo a avançar com novos pacotes de ajuda de milhares de milhões de euros destinados a mitigar os efeitos da subida de preços para as famílias e empresas. Portugal não está alheio e já acenou com um pacote para setembro, no entanto, ainda não conhecidos os detalhes. 
Mas a resposta não fica por aqui.

O analista da XTB lembra ainda “à semelhança do que têm feito outros bancos centrais, o BCE deverá acelerar o ritmo de aumento das taxas de juro de modo a travar o consumo e consequentemente a inflação a médio prazo”.

Já para João Queiroz, a solução passa por estabilizar a oferta global atendendo que o choque se centra nessa esfera ao invés de um excesso de crescimento da procura das famílias e das empresas, acompanhada de "maior diversificação, redução de risco e de excesso de dependência de dos mercados de importação (porque o crescimento populacional não estagna)", referindo também que "as geografias de África e da América Central & do Sul, com outra proximidade, deveriam ter maior investimento e ser mais testados, tal como procurar promover o desenvolvimento destes blocos reduzindo a dependência estratégica de Sociedades menos abertas e menos democráticas. A menor globalização está associada a maiores preços e assim de processos de inflação, mas também a maior disparidade na distribuição da riqueza das nações também contribui negativamente para a diversificação dos mercados de matérias-primas, apresentando maior risco de inflação".