Inflação em Portugal supera média

Taxa continua a bater recordes. Em julho atingiu 8,9% na zona euro e 9,8% na UE. A perspetiva é que continue ‘alta e até acelerar mais devido ao aumento da procura por petróleo no próximo outono e inverno’.

Portugal foi um dos Estados-membros da UEa registar uma das maiores subida da taxa de inflação, passando de 9% em junho para 9,4% em julho, um valor acima da média da zona euro e que compara com uma taxa de 1,1% um ano antes. Os dados foram revelados pelo Eurostat e indicam que a taxa atingiu 8,9% na zona euro face aos 8,6% verificados no mês anterior e muito acima dos 2,2% registados em igual período do ano passado. Já na União Europeia (UE) atingiu os 9,8%. 

As taxas anuais mais elevadas foram registadas na Estónia (23,2%), Letónia (21,3%) e Lituânia (20,9%), enquanto as mais baixas foram observadas em França, Malta (6,8% em ambos os casos) e Finlândia (8%). No entanto, em comparação com junho, assinala o Eurostat, a inflação anual recuou em seis Estados-membros, manteve-se estável em três e subiu nos restantes 18.

Números que não surpreendem Nuno Mello. O analista da XTB refere que esta subida já era «expectável uma vez que os preços dos alimentos, álcool e tabaco aceleraram (9,8% face aos 8,9% em junho), bem como dos bens industriais não energéticos (4,5% vs 4,3%) e serviços (3,7% vs 3,4%)», lembrando que apenas o custo da energia abrandou devido à queda que o petróleo registou no mês passado (39,6% vs 42%), ainda assim, não foi suficiente para compensar os restantes aumentos. «Excluindo a energia, a inflação também aumentou de 4,9% para 5,4% e o índice core, que exclui o custo da energia, alimentação, álcool e tabaco subiu de 3,7% para 4%. Em comparação com o mês anterior, os preços ao consumidor subiram 0,1%, acrescenta.

Também João Queiroz, head of trading do Banco Carregosa, admite ao Nascer do SOL que os valores vão ao encontro das estimativas, tendo em conta «os ainda elevados preços da energia, como o crude & gás, as elevadas cotações de produtos agrícolas como trigo e milho, perante um Euro depreciado que se encontra próximo da paridade face ao dólar», referindo também que «as disrupções na cadeia de logística têm regularizado mas a um ritmo lento, tal como os fretes marítimos, mas ainda com elevado potencial corretivo».

Novos recordes em perspetiva
Nuno Mello acredita que a inflação deverá continuar alta e até acelerar mais devido ao aumento da procura por petróleo no próximo outono e inverno, lembrando que «neste período até se costuma assistir a uma diminuição da procura, mas que pode ser compensada por um aumento do consumo de petróleo em relação ao gás».
E os alertas não ficam por aqui. O analista da XTB refere também que «muitos países que possuem centrais elétricas alimentadas a petróleo poderão decidir reiniciar as suas operações, uma vez que o preço do gás no equivalente a um barril de petróleo é duas a três vezes superior, incluindo os custos associados às licenças de emissão de carbono. Isto deverá levar a componente da energia a fazer disparar ainda mais a inflação até ao final ano».

Já João Queiroz acredita que as expectativas são de que as cotações de algumas matérias-primas, como crude, metais de base industrial e produtos agrícolas, possam não renovar os máximos já registados neste ano, «o que motivaria que se evoluísse para um cenário em que a inflação deixaria de ser o principal tema e o enfoque seja a ‘suave contração’ da economia europeia perante a continuação da crise energética que se encontra atualmente muito baseada no gás natural (que sentirá no próximo inverno)». 

Uma situação que, segundo o head of trading do Banco Carregosa, deverá ser o argumento central para a que a inflação permaneça elevada, mas com os máximos a poderem ter sido já registados neste verão. «Assim, começaríamos o caminho da estabilização dos preços (menor pressão inflacionista), permitindo que os bancos centrais se centrem mais nos temas de estagnação / contração económica, empregabilidade e competitividade das suas economia», salienta.

Medidas de combate
Face a este cenário, vários governos têm vindo a avançar com novos pacotes de ajuda de milhares de milhões de euros destinados a mitigar os efeitos da subida de preços para as famílias e empresas. Portugal não está alheio e já acenou com um pacote para setembro, no entanto, ainda não conhecidos os detalhes. 

Mas a resposta não fica por aqui. Nuno Mello lembra ainda que «à semelhança do que têm feito outros bancos centrais, o BCE deverá acelerar o ritmo de aumento das taxas de juro de modo a travar o consumo e consequentemente a inflação a médio prazo».

Já para João Queiroz, a solução passa por estabilizar a oferta global «atendendo que o choque se centra nessa esfera ao invés de um excesso de crescimento da procura das famílias e das empresas», acompanhada ao mesmo tempo, por uma «maior diversificação, redução de risco e de excesso de dependência dos mercados de importação (porque o crescimento populacional não estagna)».

O responsável defende também que outras geografias, como África e América Central e do Sul, deveriam ser alvo de maior investimento e ser mais testados, «tal como procurar promover o desenvolvimento destes blocos reduzindo a dependência estratégica de sociedades menos abertas e menos democráticas», acrescentando que «a menor globalização está associada a maiores preços e assim de processos de inflação, mas também a maior disparidade na distribuição da riqueza das nações também contribui negativamente para a diversificação dos mercados de matérias-primas, apresentando maior risco de inflação».