“Sabemos que os homens também podem estar grávidos”. Campanha para transgéneros criticada pelos partidos da direita e extrema-direita francesa

Esta frase é a chamada para um cartoon, no qual aparece um casal de dois homens, sendo que um deles está à espera de um bebé, representando assim a comunidade de homens transgénero, ou seja, pessoas que nasceram biologicamente com o sexo feminino mas que se identificam com o género masculino. Desde a passada sexta-feira…

“Na Planning Familial, sabemos que os homens também podem estar grávidos”. Este é o mote da campanha da associação francesa feminista e educação sexual que foi alvo de muitas críticas por parte dos partidos de direita e extrema-direita em França.

Esta frase é a chamada para um cartoon desenhado por Laurier The Fox, segundo o France 24, no qual aparece um casal de dois homens, sendo que um deles está à espera de um bebé, representando assim a comunidade de homens trangénero, ou seja, pessoas que nasceram biologicamente com o sexo feminino mas que se identificam com o género masculino.

Desde a passada sexta-feira que este cartaz da Planning Familial, fundada em 1956, tem sido o principal alvo de comentários negativos nas redes sociais, sobretudo dos partidos de direita e extrema-direita, acusando a associação de promover uma ideologia errada e subsidiada pelo governo francês, liderado pelo Partido Socialista de Emmanuel Macron, que leva ao engano dos mais jovens sobre a educação sexual.

“Planejamento Familiar agora é apenas uma simples campanha da associação pela teoria de género. No entanto, ainda é subsidiado pelos nossos impostos e aprovado pela Educação Nacional para intervir junto dos mais novos! “, assinalou Hélène Laporte, vice-presidente da Frente Nacional na assembleia nacional, na rede social Twitter.

Dentro do mesmo circulo, o porta-voz da Frente Nacional, liderado por Marine Le Pen, Sébastien Chenu, considerou a campanha “estúpida” e “perigosa em última instância”, devido à “obsessão de desconstruir tudo”.

A deputada Laure Lavalette, do partido de extrema-direita União Nacional, também chamou a campanha de “ridícula” e transformadora, mas num sentido pejorativo. Segundo Laure, a Planning Familial é “cada vez mais uma máquina de propaganda”, sendo por isso necessário “desmascaras os militantes que pretendem apenas espalhar a sua ideologia falsa e grotesca”.   

Laurence Trochu, presidente do movimento conservador, chamou ainda atenção para o facto de que esta associação “vai às escolas espalhar as suas doutrinas”. “Sabemos que não o queremos”, afirmou no Twitter, escrevendo ainda a hashtag “protejamos as nossas crianças”.

E ainda há quem questione o lado científico da campanha. Fabien Di Filippo, do partido democrata-cristã Os Republicanos, acusou a associação de se “afastar da ciência, juntando-se à militância ideológica mais questionável, muito longe da sua missão de informar a juventude e as mulheres”.

Já da parte do governo, a ministra para a Igualdade entre Mulheres e Homens, Isabelle Roma, reagiu às críticas, ao apoiar “plenamente o trabalho” do Planning Familial, desvalorizando o ódio despertado pela oposição da direita.

“Não deixemos que a extrema-direita instigue ao ódio ao instrumentalizar uma campanha, ainda que compreenda que possa não ser consensual”, apontou Isabelle Roma em declarações à Agence-France Press (AFP), uma agência de comunicação francesa.

Face às críticas, a associação emitiu um comunicado, no qual irá processar os “instigadores de ódio”, mesmo aqueles que são “funcionários eleitos pela República”, após o “ataque extremamente violento” por parte dos membros dos partidos de direita e extrema-direita nas redes sociais.

Na ótica do Planning Familial, os comentários negativos são, para os partidos, uma forma de questionar a sua “legitimidade como associação de defesa dos direitos das mulheres e de luta pelo direito ao aborto”.

A associação com mais de 65 anos de atividade indicou ainda que encontra todos os anos em eventos e ações de sensibilização pessoas transgénero a pedir “conselhos sobre contraceção, aborto, e acompanhamento médico da sua transição”, pelo que a sua missão é impulsionada pelo direito à saúde sexual também por parte de pessoas transgénero e pelo acesso à educação sexual.

“Cabe-nos acolhê-los. Cabe-nos fazer com que se sintam bem-vindos. Nós, feministas, não vamos aceitar que a Planning Familial seja o objeto de uma campanha de difamação às custas das minorias de género. Sim, o nosso acolhimento é incondicional. Sim, as pessoas transgénero têm o seu lugar no nosso movimento”, frisou a entidade, apelando ao apoio de todas as ”organizações feministas, organizações políticas, sindicatos, associações progressistas e aliados” nesta causa.