Chorar baba e ranho

Mesmo com o ruído incendiário da oposição, o país não afrouxa em dois aspetos essenciais para poder apresentar soluções para quem precisa: o crescimento económico do segundo trimestre é o segundo maior da UE, depois de ter sido o primeiro da UE no primeiro trimestre, e o desemprego voltou a cair.

Por Carlos Pereira, Economista e vice-Presidente do grupo parlamentar do PS

Em plena crise de saúde pública, mas também por causa dela, e com a ajuda inquestionável da invasão da Rússia à Ucrânia, num ato de guerra inaceitável, emergiu outra perturbação externa, cujas opções políticas domésticas são alheias, mas que o país tem de saber ultrapassar: a inflação, os seus efeitos no poder de compra das famílias, na competitividade das empresas e o perigo da estaflação, que junta aumento de preços com recessão. Esta situação não deixou o governo português de braços caídos. Pelo contrário, o governo foi acompanhando as previsões internacionais da inflação e atuando de acordo com bom senso e moderação. As tensões inflacionistas foram vistas, numa fase inicial, por peritos e instituições internacionais, como conjunturais e, por isso, não deveriam merecer medidas que alimentassem a fogueira da inflação ou apressassem um processo de recessão, como a história económica já demonstrou: seja com indexação de salários à inflação, seja com fixação administrativa de preços, seja até com aumento de juros de forma extemporânea (matéria da responsabilidade do BCE). Enquanto a oposição viu neste contexto uma onda para surfar a irresponsabilidade de alimentar o aumento dos preços, o governo manteve o sangue-frio para atuar nas camadas mais desfavorecidas e assegurar controle dos preços da energia, dos bens alimentares e salvaguardar a competitividade das empresas, sobretudo as mais dependentes da energia. 

Além das medidas contidas no OE2022, o governo apresentou um segundo pacote de políticas que estão em curso e que representam mais de 1600 milhões de euros, sem contar com o mecanismo ibérico de controle do preço da energia, que valerá quase 2% do PIB e tem impacto de cerca de 15% de redução no preço da eletricidade, colocando o país na linha dos países mais bem-sucedidos da Europa neste combate. Abordagem que só é possível pela grande reforma efetuada pelo PS na promoção das energias renováveis. Em setembro, o Governo apresentará o terceiro pacote de medidas para ajudar famílias e empresas a ultrapassar este extraordinário aumento de preços. Além do reforço das atuações em curso, deverão surgir medidas para conter aumento das rendas, pensões, poder de compra em geral, sobretudo jovens e mais desfavorecidos, além da classe média, mas também da manutenção do crescimento do salário mínimo que deverá garantir que 1 milhão de portugueses que ganham este salário não terão perda de rendimento.

Mesmo com o ruído incendiário da oposição, o país não afrouxa em dois aspetos essenciais para poder apresentar soluções para quem precisa: o crescimento económico do segundo trimestre é o segundo maior da UE, depois de ter sido o primeiro da UE no primeiro trimestre, e o desemprego voltou a cair.

Perante tudo isto, foi com estupefação que os portugueses viram o regresso de Passos Coelho e a ternurenta declaração de regozijo e orgulho do líder do PSD, Luís Montenegro, às políticas de excesso de austeridade. Mas, foi tudo uma confusão indecifrável: ao mesmo tempo que elogiava o massacre aos portugueses aquando da crise 2011-2015, reclamava apoios aos (mesmos) portugueses que eles maltratam. É caso para dizer que eles andam por aí “a chorar baba e ranho”, numa tentativa grotesca de mostrar sensibilidade social.