Carlos. O mais velho herdeiro britânico a subir ao trono

É o próximo na linha de sucessão ao trono há sete décadas – de longe, a espera mais longa da história da monarquia britânica.

Rex Numquam Moritur’: segundo a máxima latina, ‘o Rei nunca morre’. Para evitar o vazio do poder, com a morte da Rainha Isabel II, o príncipe Carlos assumiu automaticamente a Coroa do Reino Unido. Aos 73 anos, é o mais velho herdeiro britânico alguma vez a subir ao trono.

A sua coroação não está prevista para breve mas os planos de sucessão determinam que o herdeiro faça o seu primeiro discurso ao público como chefe de Estado logo na noite após a morte da Rainha, sendo oficialmente proclamado Rei às 11 horas do dia seguinte – ou seja, hoje – no Palácio de St. James, em Londres.

Depois da cerimónia de proclamação, o novo Rei inicia de imediato um périplo pelas quatro nações que compõem o Reino Unido: Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte. A viagem servirá para encontrar-se com os respetivos líderes dos governos, bem como com a população local.

A transição tem sido gradual. Nos últimos tempos, o filho mais velho da Rainha Isabel II vinha já assumindo um papel de maior importância e cumprindo cada vez mais deveres reais. Como desempenhará o papel daqui para a frente, é ainda uma incógnita. “Haverá momentos de incerteza, e esses momentos de incerteza estarão em todos os campos em que o monarca tem uma posição”, disse Onyeka Nubia, historiadora da Universidade de Nottingham, citada pela imprensa internacional. “Haverá incerteza politicamente, incerteza talvez culturalmente, talvez incerteza social”.

A verdade é que a saúde da Rainha foi-se debilitando principalmente desde a morte do Rei Filipe e todos os passos dados apontavam para que a monarca estivesse a preparar a sua sucessão. Em fevereiro deste ano, durante as comemorações do jubileu da Rainha, o príncipe Carlos disse ser uma “honra” o desejo expresso por Isabel II de que a sua mulher, Camilla, duqesa da Cornualha, fosse conhecida como rainha consorte na altura em que ele se tornasse Rei.

“Neste dia histórico, a minha esposa e eu juntamo-nos a todos vocês para dar os parabéns a Sua Majestade a Rainha pela notável conquista de servir esta nação, os reinos e a Commonwealth nos últimos setenta anos”, dizia o comunicado assinado pelo príncipe. “Estamos profundamente conscientes da honra que representa o desejo da minha mãe”, afirmou ainda, acrescentando que “a devoção da Rainha ao bem-estar de todo o seu povo inspira uma admiração maior a cada ano que passa”.

Filho mais velho e herdeiro do trono, as posições, causas e escândalos de Carlos foram escrutinados ao pormenor durante toda a sua vida. Cabe-lhe agora a difícil tarefa de promover e representar a estabilidade em tempos de mudança.

Mas a experiência está do seu lado: o agora Rei conta com décadas de serviço ativo como Príncipe de Gales. E, apesar da idade avançada, representará uma geração diferente da da Rainha.

Como príncipe, esteve sempre ao lado da mãe e conheceu dezenas de líderes estrangeiros, interagiu com vários governos britânicos e estabeleceu uma rede de instituições de caridade que o foi ponto em contacto com algumas das preocupações e problemas do britânico comum. O seu percurso, porém, não é imaculado. Ainda recentemente, em finais de junho, foi noticiado que Carlos recebeu pessoalmente três malas com um milhão de euros cada uma, em dinheiro vivo, do Sheikh Hamad bin Jassim bin Jaber Al Thani, do Qatar. O Príncipe de Gales justificou que todo o dinheiro terá ido para instituições de caridade.

Uma vida de espera Charles Philip Arthur George nasceu em 14 de novembro de 1948, no Palácio de Buckingham, em Londres. É o filho mais velho dos quatro filhos da Rainha Isabel II e do príncipe Filipe, duque de Edimburgo – falecido em abril de 2021.

Tinha apenas três anos quando o seu avô, o Rei Jorge VI, morreu, acontecimento que levou à coroação da sua mãe. Ao longo dos anos, foi assumindo os títulos de duque da Cornualha, duque de Rothesay, conde de Carrick, barão de Renfrew, lorde das Ilhas e príncipe e grande intendente da Escócia.

Carlos tem a particularidade de ser o primeiro Rei de Inglaterra que não foi educado em casa com um tutor. Tinha oito anos quando o pai, que possuía treino como piloto, o levou de avião para a Escócia, onde o pequeno entrou para o colégio interno onde o próprio Filipe tinha estudado.

A vida no colégio não era fácil: os dormitórios tinham sempre as janelas abertas e o dia começava com uma corrida e um banho de água gelada. Tímido e não especialmente dotado para o desporto, Carlos teve dificuldades em adaptar-se e sofreu não apenas com saudades dos pais mas também com o tratamento dispensado pelos colegas. Entretanto, em 1958, era nomeado príncipe de Gales e conde de Chester, embora a sua investidura só ocorresse em 1969, quando chegou à maioridade.

Um dos momentos mais mediáticos da sua vida terá sido o casamento com Diana em julho de 1981, escassos meses depois do anúncio do noivado, em fevereiro desse mesmo ano. 750 milhões de pessoas assistiram à transmissão da cerimónia.

O casamento durou 15 anos e dele resultaram dois filhos: William, nascido a 21 de junho de 1982, e Harry, que nasceu a 15 de setembro de 1984. Mas a união, ao contrário do que muitos acreditavam, não foi um conto de fadas. Carlos e Diana dois divorciaram-se em agosto de 1996 depois de ambos terem assumido que tinham mantido relações extra-conjugais.

Diana morreu praticamente um ano depois num acidente de viação no túnel de l’Alma, em Paris, quando o Mercedes em que seguia era perseguido por paparazzi. Carlos presidiu às cerimónias como se ainda fossem um casal mas, mais tarde, assumiu a sua relação com Camila Parker-Bowles, uma antiga paixão com quem viria a casar-se em segundas núpcias a 9 de abril de 2005.

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