Pobres velhotes!!!

É evidente que isto é uma espécie de racismo ou, se quisermos, uma espécie de discriminação dos velhotes: se vives em Lisboa e tens mais de sessenta e cinco anos tens passe grátis, mas se vives fora, pagas que é bom para a tosse!

Eu, sinceramente, na semana passada, prometi que iria falar sobre os problemas da Igreja durante as semanas sucessivas… mas, depois do que aconteceu com os meus pais, decidi fazer o que nós padres temos fama – ‘não cumprir o que prometemos…’.

Imagine-se só que, os meus pais – que não são de todo uns velhotes velhinhos, pois o meu pai tem apenas setenta anos e a minha mãe tem sessenta e seis anos – ficaram todos contentes com a probabilidade de não terem de pagar para se moverem dentro da cidade de Lisboa. Ficaram tão contentes que no dia dois de setembro estavam mesmo à porta da estação de Metro para pedir todas as informações para poderem ter um passe de ‘velhotes’ grátis…

Começou o meu inferno!!!!

Então não é que a minha mãe me telefonou a pedir para eu tirar uma Certidão de Domicílio Fiscal!!! Eu perguntei, simplesmente: mas isso não está já no Cartão de Cidadão? Ao que me respondeu: não sei de nada – eles pediram para eu apresentar um Certificado de Domicílio Fiscal!

Como sou eu que tenho os códigos das Finanças dos meus pais, pensei: agora é que vai ser – mais umas árvores deitadas abaixo para imprimir o tal Certificado de Domicílio Fiscal quando poderiam meter o Cartão de Cidadão dos velhotes para se certificarem se viviam ou não em Lisboa… 

É evidente que isto é uma espécie de racismo ou, se quisermos, uma espécie de discriminação dos velhotes: se vives em Lisboa e tens mais de sessenta e cinco anos tens passe grátis, mas se vives fora, pagas que é bom para a tosse! Mas eu estou contente por fazerem discriminação e permitirem que os meus pais não paguem nos transportes públicos… a única coisa que tenho pena que os pais dos outros que não vivem em Lisboa não possam ter os mesmos benefícios – ‘acho que em Cascais também há qualquer coisa parecida!!!!’

Ora os meus paizinhos – depois de eu ter impresso a tal certidão – levantaram-se cedinho para irem saber onde podiam fazer o tal passe grátis e tiveram de pagar uma série de bilhetes, indo de estação em estação de Metro, só para conseguirem perceber onde é que deviam de entregar a tal árvore transformada – desnecessariamente – em certidão. 

Atrás deles caminhavam uma série de velhotes como eles para encontrar o tal buraco no Metro para entregar as folhas da tal árvore transformada em certidão com uns bocadinhos de tinta da impressora.

Chegaram mesmo ao meio-dia e meio e ficaram felizes, porque encontram um bilhete para si e para todos os outros velhotes que andavam atrás dos velhotes dos meus pais… 

Eles estavam radiantes, porque, às treze horas, já só faltavam algumas centenas de velhotes à sua frente e podiam ir comer ao McDonald’s… sim, é verdade… os velhotes – que até nem são muito velhotes – gostam de ir comer ao McDonald’s. Passaram uma tarde inteira a confraternizar… todos os velhotes vêm de uma aldeia de Portugal. 

Os meus pais fizeram amizade com outros senhores e ficaram sete horas, felizes e contentes, na estação de Metro – a entrar e a sair – para queimarem o tempo… é verdade!!! Todos os velhotes de Lisboa vão ter acesso, ao final de muitas horas e de muita burocracia, ao Passe Social Gratuito para velhotes… 

Viva a burocracia e viva a Câmara Municipal de Lisboa e do Metro de Lisboa que dá gratuitamente para todos os velhotes de Lisboa um passaporte para o céu – quase direto! Depois de tantas horas à espera para ser atendidos (sete horas), os velhotes vão, finamente, poder morrer de uma crise de diabetes e outros vão poder tornar realidade o sonho da sua vida: ir almoçar ao McDonald’s…. 

Bem-vindos ao mundo grátis da burocracia!!!