Liga dos Campeões. O dragão que chora e o leão que ri

Um Sporting outra vez de peito feito recebe, à tarde (17h45) o Tottenham; um FC Porto meio desnorteado tem a visita do FC Brugge à noite (20h).

Por causa do Mundial em novembro e dezembro, que obrigará a um mês de interrupção em todas as competições da Europa (às vezes é bom percebermos que a Europa está muito, muito longe de ser o mundo), vamos tendo, semana sim, semana sim, jogos para as taças europeias e, principalmente, para a Liga dos Campeões, tão insignificantes e desinteressantes são, na verdade, a Liga Europa e aquele aborto chamado Liga Conferência que consegue ser ainda mais grotesca do que a velha Intertoto, uma competição que foi criada de propósito para encher as folhas do totobola no intervalo dos campeonatos.

Confesso: nada me leva a perder tempo a ver jogos para essas duas tão pobres amostras de taças, quanto muito a curiosidade pela presença de alguma das nossas equipas do meio da tabela – que têm ficado sempre pelos play-offs na tal Conference League. Talvez garantam dinheiro para a UEFA e para os clubes que nelas participam, mas não oferecem, de certeza, o mínimo de brilho ou de prestígio.

Para a única taça europeia que realmente interessa, jogam hoje Sporting e FC_Porto. A velha e relha Condessa de Ségur, de seu nome real Sophie Feodorovna Rostopchine, russa, com raízes na Mongólia, e que entreteve a nossa infância com narrativas tanto delicodoces como desconcertantes, escreveu um livro chamado João que_Chora; João que_Ri. Dois irmãos de uma terriola campestre de França que resolvem ir procurar trabalho na grande cidade de Paris, um deles sempre simpático, delicado, brincalhão, ou outro ‘trombanas’, azedo, sério, queixando-se por tudo e por nada.

Eis que me recordo da aventura. A propósito do dragão que chora e do leão que ri. O primeiro, o_FC_Porto, jogará à noite contra o_FC_Brugge, depois de uma viagem aziaga a Madrid de onde saiu derrotado (1-2) provavelmente sem merecer, mas igualmente devendo apenas queixar-se de si mesmo por causa da infantilidade de Taremi ao fingir um penalti de forma tão destrambelhada que não teve outro remédio se não ver o segundo amarelo, e da forma indigente como Pepe deixou que no último dos segundos Griezmann surgisse nas suas costas para garantir a vitória do Atlético. Não adianta chorar, como diria a dupla Oscarito e Grande Otelo, e sabendo que os belgas ganharam, em casa, o primeiro encontro face ao Leverkusen, há que ganhar e olhar em frente. Só assim as contas podem ser recompostas embora fique com a sensação de que este Brugge é bem mais incómodo do que o pintaram à primeira vista e tem chateado muito boa (e grande) gente na Europa nos últimos anos.

 

Cantando e rindo.

Depois da histórica vitória em Frankfurt, o leão tem muito para ir por aí fora cantando e rindo, como rimava o velho hino da embirrenta Mocidade Portuguesa. Claro que as facilidades encontradas frente ao_Eintracht não estarão presentes (imagino eu, o futebol é mesmo imprevisível) hoje à tarde em Alvalade perante um Tottenham que ainda não perdeu nesta Premier League. Arriscaria mesmo a dizer que não voltarão a estar presentes em mais nenhum dos jogos do Sporting na competição. Mais uma razão para que Ruben Amorim alargue o sorriso de orelha a orelha, com a confiança na sua felicidade, mas não deixe de encarar o resto da qualificação com um olho no burro e outro no cigano. O Grupo D não parece ter um daqueles candidatos a ficar em último de caras – a menos que o Eintracht continue a facilitar como facilitou na primeira jornada – pelo que até um empate não deixaria de ser um resultado interessante frente aos londrinos.

Assim como assim, convenhamos: podemos ver a equipa de Conte como a mais poderosa do grupo, não jogasse ela naquela selva cheia de feras que é o campeonato inglês, e ainda por cima descansou no fim de semana por causa das exéquias da rainha Isabel II. Mas como o rei das feras é o leão e este anda sorridente, pode ser que tenhamos um daqueles embates rijos. Como não existe noutra prova que não a Liga dos Campeões.