Ucrânia: o exemplo de um povo

A coragem, a força e a resistência do povo ucraniano sob a liderança de Zelensky são extraordinárias. A Ucrânia só por ter resistido como resistiu ao poderio russo merece a admiração de todos. E o apoio para a recuperação de um país – e de uma economia – devastados por um ataque cego e brutal.

Se há sete meses alguém pusesse a hipótese de a Ucrânia recuperar a soberania de facto sobre a península da Crimeia certamente ninguém lhe daria credibilidade.

Era impensável.

A Rússia preparava-se para a grande ofensiva a caminho de Kiev e o mundo solidarizava-se com o país invadido, abria as portas a milhões de refugiados, respondia com sanções económicas contra os invasores, dava o apoio que podia, mas assistia impotente ao sacrifício de um povo que pegou em armas e fez frente ao inimigo todo poderoso.

«Se nos atacarem, vão ver os nossos rostos e não as nossas costas». A frase do comediante que virara Presidente e nas mãos de quem os ucranianos depositaram a sua sorte e confiaram as suas próprias vidas, defendendo a pátria, tornou-o imediatamente num herói intra e além fronteiras, sobretudo num Ocidente rendido.

E à medida que o tempo foi passando e que Kiev foi resistindo, frustrando todos os vaticínios de um vencedor antecipado de uma guerra desigual e rápida, as dúvidas foram-se instalando.

Só que a verdade é que, ainda há umas semanas, muito poucos terão levado a sério as palavras de Volodymyr Zelensky quando veio anunciar que as tropas ucranianas vão conseguir expulsar os invasores russos do Donbass e da Crimeia.

Disse o Presidente ucraniano que a guerra começou na Crimeia e vai terminar na Crimeia, com a debandada das tropas russas.

O facto de o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, ter entretanto vindo afirmar que a Crimeia continua a ser da Ucrânia importa para coisa nenhuma.

Porque se há coisa que esta guerra deixou claro ao mundo é que o papel da ONU – bem como o do seu secretário-geral – passou a ser absolutamente irrelevante.

A propaganda é uma das armas cruciais em qualquer guerra.

E Zelensky soube utilizar magistralmente as suas mensagens diárias para o mundo para manter o moral das suas gentes e das suas tropas bem como uma permanente pressão sobre a comunidade internacional para não desistir de apoiar a sua causa e contrariar as ilegítimas pretensões da Rússia de Putin.

Mas, independentemente dos eventuais erros de cálculo ou falhas estratégicas do Kremlin, das fraquezas ou fragilidades do arsenal russo e do desfecho final de uma guerra que ainda vai fazer correr muita tinta, a resistência dos ucranianos e a contraofensiva que fez recuar os russos é factual: a visita do Presidente Zelensky a Izium é a prova provada de que as tropas invasoras cederam posições.

A coragem, a força e a resistência do povo ucraniano sob a liderança de Zelensky são extraordinárias.

A Ucrânia só por ter resistido como resistiu ao poderio russo merece a admiração de todos.

E o apoio para a recuperação de um país – e de uma economia – devastados por um ataque cego e brutal.

Mas a vitória da Ucrânia só será uma realidade se o país, de ora em diante, for uma potência capaz de travar os impulsos imperialistas de Putin e seus seguidores, se conseguir consolidar as suas fronteiras com a Rússia e ter capacidade militar, tecnológica e económica para servir de escudo à Europa.

É por isso que o Ocidente – a começar pela União Europeia – tem de continuar a apoiar a Ucrânia, para a transformar nessa potência militar com meios para dissuadir Moscovo de tentativas de expansionismo futuras e numa potência económica com capacidade para escoar os seus produtos, e nomeadamente cereais, reforçando-se como celeiro não apenas do continente europeu mas também do africano.

A reconstrução da Ucrânia deve, também por isso, ser a prioridade. Que não pode esperar pelo fim decretado e oficial de uma guerra injusta e infame.

A Europa e os EUA devem olhar para os ucranianos, seguirem o seu extraordinário exemplo e deixarem de andar a reboque dos acontecimentos.