Alcaraz. O ‘puto maravilha’

Aos 19 anos, Carlos Alcaraz subiu ao topo do ranking mundial de ténis, deixando para trás nomes icónicos da modalidade como Rafael Nadal, Novak Djokovic ou Roger Federer e tornando-se no mais jovem número um do mundo. O espanhol venceu o Open dos Estados Unidos e ninguém o para.

Aos 19 anos de idade, a maioria dos meros mortais pensam em sair de casa dos pais, estudar, começar a sua vida. Alguns começam a receber os seus primeiros ordenados, muitas vezes no fundo da tabela salarial, outros continuam os estudos e gastam mais do que ganham…

Este não é o caso, no entanto, de Carlos Alcaraz, o espanhol de Múrcia que singrou em Nova Iorque, onde se sagrou campeão do Open dos Estados Unidos de ténis. Um feito que o empurrou para o primeiro lugar do ranking mundial ATP, tornando-se no mais jovem tenista de sempre a tornar-se ‘rei’ desta classificação. A última vez que um jovem tenista levantou um troféu de Grand Slam tinha sido em 2005, precisamente pelas mãos do compatriota Rafael Nadal.
Que força, que intensidade de jogo e que habilidade tem este jovem, que já tinha feito manchetes em maio deste ano, quando bateu três jogadores do top 5 da hierarquia mundial – Novak Djokovic, Rafael Nadal e Alexander Zverev –, acabando por conquistar o Masters 1000 de Madrid.

«Em termos de jogo, Carlos Alcaraz parece-me mais completo do que Rafael Nadal, Roger Federer ou Novak Djokovic», reagia, na altura, a belga Justine Henin, antiga número um do Mundo e detentora de sete títulos do Grand Slam, em declarações ao portal belga Sud Info. 

As vénias feitas ao espanhol vêm de todos os setores, incluindo do próprio Novak Djokovic que, após a vitória no Open norte-americano, congratulou Alcaraz no Instagram, partilhando uma imagem com a legenda «Enhorabuena Carlos.

Parabéns pelo teu primeiro Grand Slam. Desempenho fantástico».

Também Rafael Nadal congratulou Alcaraz, através do Twitter. «Parabéns Carlos Alcaraz, pelo teu primeiro Grand Slam e pelo número um, que é o culminar da tua primeira grande temporada, que tenho certeza de que será uma de muitas mais!», escreveu o tenista espanhol de 36 anos na rede social.

A conquista do Open dos Estados Unidos pelas mãos de Carlos Alcaraz esteve cheia de recordes: não só se tornou no mais novo a atingir o primeiro lugar do ranking ATP, como nunca antes na história do ténis tinham três tenistas nascidos em três décadas diferentes ocupado a liderança do ranking mundial na mesma temporada: Novak Djokovic, nascido em 1987, Daniil Medvedev, em 1996, e Alcaraz, em 2003.

Não foi fácil, no entanto, chegar ao troféu máximo de um dos quatro Grand Slams da temporada. O murciano precisou, aliás, de um total de 23 horas e 39 minutos de jogo, ao longo de duas semanas de torneio, para se sagrar campeão.
A ascensão da estrela

Com apenas 12 anos de idade, Carlos Alcaraz, nascido no sul de Espanha, captou a atenção de Juan Carlos Ferrero, o tenista espanhol que alcançou o lugar máximo do ranking ATP, em 2003, precisamente o ano em que Alcaraz nasceu, e que liderava, então, a Equelite Sport Academy.

«[Alcaraz] chegou à Academia e treinámos um dia. Ele era muito pequeno, mas todos falavam dele. Ele tinha tudo o que tem agora, mas em miniatura. Oficialmente, vi-o quando ganhou o primeiro ponto ATP, com 14 anos [Fevereiro de 2018, num torneio ITF realizado na terra natal]; aí vimos como ele era em competição», contou Ferrero, que uns anos depois, quando o murciano contava 15 anos de idade, o acolheu oficialmente, colhendo agora os primeiros frutos desta parceria.

«Carlos nasceu para jogar torneios e encontros como este. Desde o primeiro momento, vi que era diferente de outros rapazes com a sua idade e continuo a ver agora», disse Ferrero, entre lágrimas, após a primeira vitória em torneios Grand Slam do espanhol.

Carlos Alcaraz subiu como um foguetão pelo ranking mundial da ATP, criado em 1973, entrando no top 100, pela primeira vez, em maio do ano passado, depois de vencer, no Estádio Nacional, o Oeiras Open 125, Challenger de categoria máxima. Depois, passados apenas dois meses, vencia o primeiro título no circuito ATP, em Umag e, um ano depois, entrava oficialmente no top 10. Mas, e apesar de já ter atingido o topo desta classificação, o seu treinador e mentor acredita que Alcaraz pode ainda conquistar mais terreno: «Penso que ele está a 60% do seu jogo, pode melhorar muitas coisas: a resposta ao serviço, o serviço, a esquerda em certas situações, consistência…», disse, rematando: «O facto de ter jogado e passar por experiências significativas, ajudaram-me a lidar com ele sem rodeios. Ele é o que parece ser: direto, humilde e temos que trabalhar para que continue assim».

O desporto corre no sangue de Carlos Alcaraz, que partilha o nome com o pai, diretor desportivo do Real Sociedad Club de Campo d’El Palmar, localizado a dez quilómetros da capital (homónima) da região autónoma de Múrcia. O nome e o amor pelo ténis – rezam os relatos que, quando ninguém sabia de ‘Carli’, o jovem poderia quase de certeza ser encontrado num dos 14 courts que ocupam parte dos oito hectares do Club de Campo, dotado também de piscina, ginásio e campos de padel, futebol e basquetebol.

O próprio Alcaraz brinca que nem se lembra de quando começou a ‘bater bolas’ contra a parede deste clube desportivo, contando os relatos da sua mãe que, com apenas 2 anos de idade, os educadores de infância já davam conta da sua incrível capacidade de coordenação motora, mesmo antes de ser capaz de completar uma frase.

Cinco anos mais tarde, seria inscrito pelo pai num torneio para menores de 10 anos. Com apenas sete anos, frente a outros jogadores bem maiores fisicamente, o pequeno Alcaraz passou a qualificação, acabando derrotado nos quartos-de-final. Mas estava começada uma carreira de estrelato, que foi necessário equilibrar com os estudos. Aos 10 anos, Carlitos chegava a faltar uma semana inteira à escola para participar em torneios, mas dizem que nunca chumbou a nenhuma disciplina.

Se o Club de Campo onde Alcaraz começou a treinar ficava a 10 quilómetros de casa, aos 15 anos, o jovem acabou por mudar os treinos para um local mais longínquo: a Academia de Juan Carlos Ferrero, em Villena, perto de Alicante – a 100 quilómetros de Múrcia.

As idas a casa passaram a fazer-se unicamente ao fim de semana, e nem sempre era assim. Mas as condições na Academia do antigo número um mundial eram as ideias para que o jovem tenista pudesse florescer e aproveitar os seus talentos.

Carlos Alcaraz é o nome do momento no ténis mundial, chamando a atenção de todos os altos quadros da modalidade. Não só por ter conquistado o Open norte-americano, mas porque fez isso e muito mais com apenas 19 anos de idade, ficando à imaginação de cada um todos os outros recordes que este jovem poderá ainda quebrar. 

Para já, a prioridade continua a ser os treinos e a luta por ser ainda melhor, depois de, com os primeiros milhões conquistados, ter comprado um terreno para construir uma casa em El Palmar, uma localidade a apenas dez quilómetros de Múrcia onde vivem 25 mil pessoas.