Pensar e discutir Portugal

A recondução de Álvaro Beleza e a restante equipa para mais um mandato é o atender de uma chamada para se fomentar os debates que precisamos de ter

Por João Tavares, conselho juventude da SEDES

Ao longo dos últimos tempos, grande parte dos think tanks criados em Portugal foram de curta duração, mediante as agendas do momento que pretenderam fazer pressão no poder político ou porque simplesmente cumpriram o seu propósito de existência. Os think tanks de cariz político são praticamente inexistentes no nosso país, passando a funcionar mais como um repositório histórico dos partidos e dos seus fundadores, ao contrário do que se passa na Europa, como é o caso da alemã Konrad Adenauer Stiftung ou da espanhola Fundación para el Análisis y los Estudios Sociales.

Desta forma coloca-se a seguinte questão: faz sentido a sua existência num país pequeno como Portugal?

A resposta é sim. Desde 1995, a classe política portuguesa tem vindo a demitir-se gradualmente de promover uma verdadeira discussão sobre os caminhos futuros que Portugal deve percorrer ou optar. Cada ano que passa, o divórcio entre os partidos políticos e a sociedade civil se agrava, e nestas últimas eleições legislativas, amplamente marcada por discussões de soundbytes, é prova da incapacidade dos partidos políticos, principalmente os partidos do Bloco Central, em promover diálogos de consenso, e optarem por diálogos de fação, negligenciando o futuro da nação portuguesa.

Durante a Primavera Marcelista, nos últimos tempos do Estado Novo, face á necessidade de forçar a discussão dos temas importantes daquele tempo, a sociedade civil gerou uma resposta chamada SEDES, que foi fundada por um grupo de pessoas, oriundas de diferentes formações académicas, estratos sociais, atividades profissionais e opções políticas, mas unidos pelos mesmos valores.

A SEDES provou, desde o seu V Congresso, que um laboratório de ideias, para além de ter a capacidade de promoção de debates de ideias e de formulação de propostas concretas, tem de ter a capacidade de agregar ambos os lados interessados em contribuir, de forma a gerar uma resposta concreta e consensual a um problema concreto.

Num mundo marcado pela crise pandémica da covid-19, a crise mundial económica e financeira e a invasão russa da Ucrânia, o imobilismo não pode continuar a ser uma opção em Portugal.

Passaram 90 anos desde que António de Oliveira Salazar assumiu as rédeas do país sob a premissa de que a pátria não se discute. O Portugal de Ramalho Eanes, de Mário Soares, de Francisco Sá Carneiro, de Gonçalo Ribeiro Telles e de Adelino Amaro da Costa mostrou que é necessário a pátria ser discutida para se definir o caminho para o futuro do país.
A recondução de Álvaro Beleza e a restante equipa para mais um mandato é o atender de uma chamada para se fomentar os debates que precisamos de ter.

Conciliar independência, credibilidade intelectual, financiamento e visibilidade política traduz-se no maior desafio de uma instituição como a SEDES, que tem de funcionar como uma ponte entre o Estado e a sociedade civil, nesta altura. Mais do que nunca precisamos de pensar e discutir Portugal, refletir sobre a posição portuguesa no mundo, assim como o futuro do projeto europeu.

Se a Fundação Calouste Gulbenkian é considerada o nosso Ministério da Cultura, a SEDES poderá o nosso Ministério do Futuro.