Japão. As chamas que marcam os protestos contra funeral de Abe

Um homem imolou-se em protesto ao funeral de Estado do ex-primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, que vai custar de 12 milhões.

Enquanto milhares de japoneses protestavam o funeral de Estado do antigo primeiro-ministro Shinzo Abe, assassinado em julho, que irá custar mais de 1,2 mil milhões de ienes (cerca de 12 milhões de euros), um dos manifestantes decidiu elevar a sua demonstração de insatisfação e imolou-se perto do gabinete do primeiro-ministro, Fumio Kishida

O homem de 70 anos, que não foi identificado e, entretanto, recuperou a consciência, relatou à polícia que se molhou com gasolina e depois incendiou-se, ficando com queimaduras em todo o corpo, após o incidente em Tóquio, na manhã de quarta-feira, a menos de uma semana do controverso funeral de Abe.

No local da imolação estava uma nota onde o homem afirmava que era “fortemente contra” a realização do funeral, que irá decorrer no Nippon Budokan, no centro de Tóquio.

O Governo japonês anunciou a realização de um funeral de Estado, na próxima terça-feira, num tributo em grande escala, o que está a dividir a opinião pública do país e cujos gastos foram justificados devido à implementação de fortes medidas de segurança.

Está prevista a presença de cerca de 6400 participantes, incluindo a presença de representantes de mais de 190 países e territórios, incluindo cerca de 50 chefes de Estado, como a vice-Presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, ou o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese. O representante oficial de Portugal será o ex-presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.

A oposição ao funeral de Estado, que irá acontecer no dia 27 de setembro, cresceu desde que a morte de Abe desencadeou revelações sobre os laços do Partido Liberal Democrata com a Igreja da Unificação.

O homem que baleou Abe, Tetsuya Yamagami, disse aos investigadores que tinha como alvo o político devido aos seus laços com a Igreja da Unificação, explicando que a sua família mergulhou na pobreza há 20 anos, quando sua mãe, membro da igreja, doou grandes somas de dinheiro para a organização.

Abe, o homem que ocupou o cargo de primeiro-ministro durante mais tempo no Japão, entre 2006 e 2007 e 2012 e 2020, acabando por se retirar do poder devido a problemas de saúde, não era membro da igreja, mas enviou uma mensagem de vídeo de congratulações para o evento de um afiliado no ano passado e uma investigação recente do partido no poder descobriu que quase metade dos seus 379 legisladores teve alguma forma de interação com a Igreja da Unificação.

O homem que se incendiou na quarta-feira não é o primeiro a usar a autoimolação em protesto contra Abe, um conservador cujo legado se divide entre fervorosos admiradores e críticos. 

Em 2014, dois homens imolaram-se, em dois incidentes distintos, um, inclusive, acabou por falecer. Este protesto aconteceu contra a introdução de leis de segurança que, segundo os críticos, marcavam um afastamento imprudente do pacifismo do Japão no pós-guerra.