Ucrânia. Maior troca de prisioneiros desde início de invasão russa

Mais de 300 pessoas foram envolvidos na troca de prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia, recebeu de braços abertos os soldados responsáveis pela defesa de Mariupol.

Um dia depois de Vladimir Putin ter anunciado uma mobilização parcial da população de forma a ajudar o exército na invasão da Ucrânia, foi registada a maior troca de prisioneiros desde o início da guerra, com mais de 300 pessoas envolvidas nesta ação, incluindo dez estrangeiros e os comandantes que lideraram uma prolongada defesa ucraniana em Mariupol no início deste ano.

A Ucrânia recebeu 215 pessoas, incluindo 124 oficiais, ao passo que do lado russo foram entregues 55 prisioneiros.

“Todos os militares foram entregues ao território da Federação Russa através de transportes militares aéreos e estão em instituições médicas do Ministério da Defesa da Rússia”, anunciou o Kremlin.

Entre os prisioneiros envolvidos nesta troca, um projeto que estava em preparação há muito tempo e envolveu intensas negociações, com a ajuda da Turquia e Arábia Saudita, aquele de maior perfil é o confidente do Presidente russo, Viktor Medvedchuk, um antigo legislador ucraniano acusado de alta traição.

Em abril, o conselheiro foi colocado em prisão domiciliária e Putin imediatamente acusou Kiev de “limpar o campo político de todas as forças que defendem uma resolução pacífica” da crise Rússia-Ucrânia.

Os estrangeiros libertados lutavam a favor da Ucrânia: cinco britânicos, dois americanos, um marroquino, um croata e um sueco, que foram libertados pela Rússia para a Arábia Saudita.

Segundo o Guardian, os britânicos já se encontraram com as suas famílias. Shaun Pinner, um dos soldados libertados, que tinha sido ameaçado com pena de morte, foi fotografado com a sua mãe e agradeceu a todas as pessoas que tornaram a sua liberdade possível.

“Felicidade” neste “importante passo” A notícia da troca de prisioneiros foi recebida com grande felicidade na Ucrânia e é considerada uma importante vitória. “Esta é uma grande vitória para a maioria dos ucranianos que acordaram de manhã com esta notícia. Eles estão emocionados”, informou o jornalista da Al Jazeera, Gabriel Elizondo, a reportar na capital ucraniana.

“Qualquer soldado libertado seria considerado uma vitória para os ucranianos, mas este é um momento particularmente especial tendo em conta quem são”, nota o jornalista. “A maioria desses 215 prisioneiros que foram libertados eram do batalhão Azov que resistiu ao longo de semanas e semanas na siderurgia de Mariupol. Eles são considerados há muitos meses como heróis nacionais pela sua incrível bravura”, acrescentou Elizondo.

Envolvida na mediação desta troca de prisioneiros, a Turquia considera que este é um “importante passo em direção ao fim da guerra”.

“A Turquia está a observar os resultados da sua crença no poder do diálogo e da diplomacia”, disse o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, à Reuters, depois de uma visita aos Estados Unidos. “Esta troca de prisioneiros, que ocorreu sob a mediação da Turquia, é um passo importante para acabar com a guerra”.

“Continuaremos os nossos esforços para alcançar a paz e a estabilidade no futuro. Por exemplo, assim que voltarmos, ligaremos novamente para os líderes e continuaremos nossa diplomacia telefónica com eles”, acrescentou.

Não é a primeira vez que a Rússia e a Ucrânia realizam um acordo desta natureza. Em 2019, durante a anexação da Crimeia por parte das forças russas, os dois países celebraram um acordo, na altura considerado um “marco”, onde foram libertados 35 prisioneiros ucranianos.

Entre as maiores trocas de prisioneiros de sempre está o acordo entre Israel e o Hamas onde foram trocadas 1027 pessoas (incluindo palestinianos, árabes, ucranianos, sírios entre outras nacionalidades) pelo soldado israelita Gilad Shalit, detido pelos militares palestinianos durante cinco anos.

Este foi o maior acordo de troca de prisioneiros que Israel já fez e o preço mais alto que teve de pagar por um único soldado. 

Mais detenções em protestos Os protestos contra a mobilização parcial de cidadãos decretada por Vladimir Putin resultou na detenção de pelo menos 1.386 pessoas, anunciou esta quinta-feira uma organização não-governamental (ONG), OVD-Info.

A organização independente, que rastreia as detenções e já foi declarada “agente estrangeiro” pelas autoridades russas, já havia reportado na quarta-feira que mais de 1.113 pessoas já tinham sido detidas em protestos em 38 cidades russas, entre as quais Moscovo, São Petersburgo, Ecaterimburgo, Perm, Ufa, Krasnoyarsk, Chelyabinsk, Irkutsk, Novosibirsk, Yakutsk, Ulan-Ude, Arkhangelsk, Korolev, Voronezh, Zheleznogorsk, Izhevsk, Tomsk, Salavat, Tyumen, Volgogrado, Petrozavodsk, Samara, Surgut, Smolensk e Belgorod.

Entre os detidos encontram-se vários jornalistas e o Ministério Público de Moscovo advertiu que punirá com até 15 anos de prisão a organização e participação em ações ilegais. 

“Todas as pessoas estão com medo. Sou pela paz e não quero ter de balear ninguém. Mas defender esta posição agora é muito perigoso, caso contrário haveria muito mais pessoas”, disse o manifestante Vasily Fedorov, ao Guardian.

A juntar às represálias, também será punida administrativa ou criminalmente a difusão de convocatórias para participar em ações ilegais ou para realizar outros atos ilegais nas redes sociais, por exemplo apelando a menores de idade para participarem em atos ilegais.

A mesma fonte precisa ainda que 509 pessoas foram detidas em Moscovo e pelo menos 541 em São Petersburgo, a segunda maior cidade do país.

Existem inúmeras pessoas que pretendem escapar à mobilização parcial da população e, para tal, já compraram bilhetes de avião para abandonar o país, no entanto, o Kremlin nega estas informações, considerando-as um exagero, apesar de muitos voos para países que não necessitam de visto russo, como a Turquia ou a Arménia, já estarem esgotados.