O dia em que a direita de Meloni tomou Itália de assalto

Os italianos votaram, ontem, para eleger um novo Governo, após a queda do Executivo formado por Mario Draghi em julho deste ano. Giorgia Meloni foi a grande vencedora da noite.

Bateram as 23h nos relógios em Roma, 22h em Portugal, e o mundo ficou a conhecer, mais coisa menos coisa, a nova composição do Parlamento – e, por consequência, do Governo – de Itália. Sem surpresas, Giorgia Meloni, líder do partido Irmãos de Itália, perfilava-se para ser a grande vencedora da noite eleitoral, dando as projeções da RAI, à hora de fecho desta edição, entre 22 e 26% dos votos ao partido.

Ao lado de Matteo Salvini, líder da Liga Norte e Silvio Berlusconi, do Força Itália – todos eles partidos da direita, uns mais radicais que outros – Meloni foi a grande protagonista do dia (e da noite) eleitoral, que ficou também marcado pela fraca adesão: às 19h (18h em Portugal), apenas 51% dos eleitores elegíveis tinham colocado o seu voto, quando, nas eleições de 2018, esse número se situava, à mesma hora, por volta dos 59%.

Meloni, Salvini e Berlusconi perfilaram-se, assim, para tomar as rédeas do Governo italiano, depois de as projeções indicarem entre 8,5% e 12,5% dos votos para a Liga Norte e entre 6% e 8% para o Força Itália. O Movimento 5 Estrelas, por sua vez, arrecadaria entre 13,5% a 17,5%. No total, as primeiras projeções apontavam que a coligação de direita conquistaria entre 41 e 45% dos lugares na Câmara dos Deputados.

A Europa assistia com atenção ao sufrágio que, muito provavelmente, colocaria no poder em Itália a coligação mais à direita desde a Segunda Guerra Mundial, bem como a primeira mulher na história a tornar-se primeira-ministra de Itália.
Giorgia Meloni foi a candidata mais apontada a vencer estas eleições, com as sondagens a sugerir que receberia 25% dos votos. A romana, de 45 anos, surgia, por volta do meio-dia (hora portuguesa), a segurar dois melões (Meloni significa melões em italiano) e a dizer “25 de setembro, já disse tudo” num vídeo do Instagram. Uma vez tornadas públicas as projeções, confirmava-se o seu favoritismo.

Principal figura de uma coligação que se coloca bem à Direita com Salvini e Berlusconi, Meloni lucrou duplamente: primeiro, com a capacidade de unir os partidos à direita do espetro político italiano sob um projeto de Governo, e, seguidamente, com o fracasso da esquerda em conseguir um projeto unido e sólido de coligação para lhe fazer frente, restando Enrico Letta, o secretário-geral do Partido Democrático (PD) de centro-esquerda, a fazer frente a este ‘mastodonte’ da direita italiana. Ainda assim, as projeções à hora de fecho desta edição indicavam que o PD teria entre 17% e 21% dos votos.

Meloni, anti-Putin Em julho deste ano, Giorgia Meloni deu uma entrevista exclusiva ao Nascer do SOL, onde esclareceu vários aspetos sobre o seu projeto para Itália, e onde deixou uma coisa clara: “Não há um italiano que pense que a democracia está em risco se eu for primeira-ministra”.

Se bem que há quem ligue Matteo Salvini a Vladimir Putin, e se, recentemente, Silvio Berlusconi foi atacado por dizer, numa entrevista, que o Presidente russo foi “pressionado pela população russa, pelo seu partido e pelos seus ministros para inventar esta operação especial”, Giorgia Meloni preferiu afastar-se do chefe de Estado da Federação Russa, aproveitando também a deixa para se distanciar de Viktor Orbán, da Hungria.

“A família de conservadores europeus que tenho a honra de liderar tem agora dois primeiros-ministros, o da Polónia e o da República Checa. Dois Governos que estão na vanguarda da resposta europeia à guerra que Putin criou. Orbán é atacado há anos pela Comissão Europeia e pela esquerda de forma instrumental, compartilhamos ideias em algumas questões, mas estamos distantes em outras”, disse a líder do Irmãos de Itália ao Nascer do SOL.

Muitos apontam o dedo a Meloni pelas suas posições fortes sobre temas como a imigração e a comunidade LGBT (o seu lema é, aliás, “Deus, família e pátria”). Na referida entrevista, no entanto, a romana de 45 anos não perdeu a hipótese de clarificar as suas posições, garantindo, em relação à imigração ilegal, ser “óbvio que é uma questão importante em termos de identidade, integração e segurança”. Com o Tratado de Schengen, vaticinou, “a UE estabeleceu disposições tanto para a livre circulação dentro das fronteiras europeias como para a proteção das fronteiras externas”. “Sobre este segundo aspeto, é evidente que não está a ser feito o suficiente. Precisamos de uma política forte em relação a África e à Ásia para conter as saídas, derrubar as redes de traficantes de seres humanos, repatriar imigrantes ilegais, garantir asilo a quem realmente tem direito a ele e desmantelar o negócio de acolhimento”, disparou a líder do Irmãos de Itália, que disse não ter “nenhuma posição hostil em relação à comunidade homossexual”. 

“Falei do ‘lobby LGBT’, ou seja, um grupo de pressão política – também formado por muitos heterossexuais – que visa desconstruir o conceito de família, impor a ideologia de género às crianças, minar os direitos das mulheres como vemos acontecer com fenómenos negativos como as barrigas de aluguer, competições desportivas femininas abertas a atletas trans, etc”, concluiu.