Coreia do Norte. Os mísseis que estão a afetar o clima

Não será surpresa nenhuma falar sobre o perigo do lançamento de mísseis, mas quais são as consequências para o ambiente?

Na véspera da visita da vice-Presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, à Coreia do Sul, foi divulgado que as forças norte-coreanas lançaram um míssil balístico, o 33º este ano, algo que, além das consequências diplomáticas, também pode trazer problemas ambientais. 

Tratou-se do segundo míssil lançado pela Coreia do Norte só nesta semana, depois de no domingo ter sido disparado um míssil balístico de curto alcance em direção aos mares do este, algo que está a ser considerado como a mais recente provocação. 

“Qualquer ação humana em meio aquático tem impacto na biodiversidade”, explica ao i a Diretora de Políticas e Conservação da ANP|WWF, Catarina Grilo.

“Primeiro, a explosão em si, que pode destruir diretamente a vida marinha no local onde ocorra”, começa por enumerar. Segundo, o ruído gerado pela explosão pode impactar quer animais que utilizam ondas de som para se orientarem (algumas espécies de mamíferos marinhos, como golfinhos), quer peixes que podem ter as suas bexigas natatórias (responsáveis pela flutuabilidade) afetadas pelas ondas de som, podendo danificá-las permanentemente e causar a sua morte diretamente (não conseguem por exemplo alimentar-se convenientemente) ou indiretamente (ficam extremamente vulneráveis a predadores)”, afirma.

Em relação ao material que ficará depositado nas águas, a especialista afirma que é complicado determinar o seu impacto. “A poluição causada por mísseis dependerá naturalmente do material utilizado, da sua estabilidade, se explode ou não, e do tempo que os detritos demoram a degradar-se. É muito difícil aferir esta informação no caso da Coreia do Norte para fins militares, e ainda muito mais para fins de avaliação do impacto ambiental”, admite.

Perigo nuclear Mas não são apenas os mísseis balísticos que a Coreia do Norte pretende testar. Entre 16 de outubro e sete de novembro, será realizado o sétimo teste nuclear desde 2007.

Numa altura em que muito se tem debatido sobre o lançamento de mísseis com milionários para o espaço, qual é o verdadeiro impacto provocado por estes testes no ambiente?

“Todos os países que desenvolveram um programa nuclear prejudicaram o seu próprio povo”, defendeu o diretor do programa nuclear do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, Matthew McKinzie, num artigo do Los Angeles Times, em 2017.

O texto explica como a área em torno da zona de testes norte-coreana está a ficar degradada, nomeadamente, “a montanha sagrada da revolução”, um local sagrado na mitologia da Coreia do Norte. Localizado a cerca de 96 quilómetros da zona de testes, o parque onde se situa este monte teve de ser encerrado devido a deslizamentos de terras provocados por movimentações sísmicas, depois de a experiência nuclear ter provocado um terramoto com magnitude de 6.3.

Os testes da Coreia do Norte acontecem um dia antes de Kamala Harris chegar aos vizinhos do sul e enquanto os navios da Marinha dos Estados Unidos e da Coreia do Sul estão a realizar exercícios na costa leste da Península Coreana.

Pyongyang alertou que a Coreia do Sul e os Estados Unidos corriam o risco de “desencadear um conflito” após o lançamento de exercícios navais em larga escala pela primeira vez em cinco anos.

Harris é o membro de mais alta patente do governo dos Estados Unidos a visitar a fronteira entre as Coreias desde que Donald Trump atravessou a linha de demarcação para a Coreia do Norte durante uma reunião com Kim Jong-un, em 2019.