Salários. António Costa recusa “alimentar espiral inflacionista”

Primeiro-ministro defendeu “cautela máxima” na subida dos salários e justificou mudança de posição relativamente às pensões.

Os preços continuam a subir e os salários não têm acompanhado essa evolução. Se há quem defende que devem subir, há quem ache que um aumento será pior. Este foi um dos temas quentes debatidos no Parlamento, esta quinta-feira, pelo Governo e pela oposição. O líder parlamentar do PSD acusou o Governo de propor uma estagnação de salários até 2026 no acordo de rendimentos. “O que propõe ao setor privado é um aumento nominal em linha com o aumento da inflação acumulado até 2026. É uma estagnação de salários”, acusou Joaquim Miranda Sarmento. 

Recorde-se que o Governo propôs aos parceiros sociais uma valorização nominal das remunerações em 4,8% em média, em cada ano, entre 2023 e 2026, para garantir, nesse período um aumento médio acumulado de 20% dos salários dos trabalhadores.

“O que senhor propôs ao setor privado é um aumento nominal de 20%, em linha com o aumento das previsões de inflação acumulada até 2026, ou seja, no máximo está a propor uma estagnação de salários no setor privado. Na administração pública então, haverá mesmo perda de poder de compra”, acusou Miranda Sarmento.

Mas o primeiro-ministro, António Costa, não se deixou ficar. “É verdade, o Governo não encontrou ainda forma de decretar o fim da inflação, mas sabemos que são necessárias medidas ajustadas para que se combata a inflação”, começou por dizer. E atirou: “Bem procurei, mas nem aí encontrei uma varinha mágica para acabar com a inflação. Uma recomendação que faço é que evitemos a demagogia e nos concentremos em apoiar as famílias e as empresas, evitando alimentar uma espiral inflacionista, onde estamos a perder amanhã o que só aparentemente estamos a ganhar hoje”, apelou.

Mas este não foi o único assunto falado. O primeiro-ministro justificou ainda ter alterado a sua posição sobre a aplicação da fórmula das pensões para 2023 de junho para setembro com a evolução das circunstâncias e dos dados sobre a inflação. 

Acusado de truques e de não dizer a verdade, António Costa atirou: “No mês seguinte, em julho, a Comissão reviu em alta as previsões para 6,8%, em dois meses alterou em 50% as suas previsões e, neste momento, sabemos que vai ficar um pouco acima dos 7%. As circunstâncias em que fiz essas declarações são distintas das que temos hoje”, disse em resposta à crítica do PSD de que, em junho, o Governo tinha falado de um “aumento histórico das pensões”.

“Valorizar os salários” Ainda esta quinta-feira, a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares reconheceu a necessidade de “valorizar salários”, esperando que o Acordo de Competitividade e Rendimentos, discutido em sede de Concertação Social veja “a luz do dia” brevemente. “O salário mínimo nacional aumentou significativamente nos últimos anos, (…) o salário médio tem vindo a aumentar significativamente, mas sabemos, e temos consciência, que é preciso hoje olhar para a política de salários e valorizar os salários e, por isso, esperemos que este acordo na Concertação Social veja a luz do dia tão breve quanto possível”, disse Ana Catarina Mendes.

O Governo já apresentou várias propostas aos parceiros sociais como atualização de escalões do IRS ou subida do valor das horas extraordinárias. Os parceiros sociais não se mostraram satisfeitos com as posições do Governo mas dizem estar disponíveis para negociar.